O Ministério da Saúde considerou hoje “inaceitável” qualquer utilização indevida destas vacinas, alertando que este ato pode ser "criminalmente punível”, e pediu à Taske Force que prepare uma lista de outras pessoas prioritárias a quem poderão ser administradas caso a pessoa inicialmente definida não a possa tomar, uma situação que deve ser devidamente reportada.

Comentando esta decisão, a bastonária da OE, Ana Rita Cavaco, considerou que “a medida do Ministério da Saúde vem tarde, mas antes tarde do que nunca”.

“Isso [dizer que sobrou uma vacina] é um esquema, uma desculpa dizermos que sobrou uma vacina. Não há sobras de vacinas. Se as coisas forem organizadas, porque planear é antecipar cenários, não vamos ter estas situações”, vincou.

Ana Rita Cavaco lembrou que a OE questionou na semana passada, através de um ofício, a Procuradora-Geral da República se a utilização indevida das vacinas “seria ou não crime”.

“Existindo um plano e a pessoa não cumprir, recebendo uma coisa indevidamente que não lhe pertence naquela altura efetivamente isto pode constituir um crime, ou não”, adiantou.

Mas, vincou, “efetivamente, isto mina a confiança das pessoas no sistema e em quem nos devia governar, porque governar é também cuidar aqueles que estão abaixo de nós, e naquilo que é o processo de vacinação e de construção daqueles que são prioritários nas listas”, comentou.

A bastonária dos enfermeiros explicou que consoante o tipo de agulha e seringa que é utilizada na administração da vacina pode conseguir-se ou não extrair mais doses do frasco.

Por outro lado, também pode haver um imprevisto naquele dia das pessoas que vão ser vacinadas.

“Tem acontecido que algumas pessoas que estão previstas para vacinação iniciem sintomas, tenham testes positivos ou tenham qualquer outro tipo de impedimento e que não possam ser vacinados naquele dia”, explicou.

Portanto, defendeu, “as listas têm que ter sempre nomes supletivos para nós podermos administrar todas as vacinas que chegam aos locais, mas esses nomes supletivos têm de ser pré-definidos em pessoas que são prioritárias, não é em provedores de santas casas, não é em diretores de Segurança Social, não é primos, tios, amigos porque isso é errado”.

“Isso é um esquema, uma desculpa dizermos que sobrou uma vacina. Não há sobras de vacinas. Se as coisas forem organizadas, porque planear é antecipar cenários, não vamos ter estas situações”, vincou.

“Infelizmente aquilo que nós tememos é que estes casos que nós vamos conhecendo não sejam apenas centenas, sejam milhares de vacinas que saíram do circuito, porque só das Segurança Social de Setúbal, por exemplo, estamos a falar mais de 100 pessoas”, soube a Ordem dos Enfermeiros.

No entanto, “é inegável” que essas pessoas que fizeram a primeira dose da vacina têm de fazer a segunda, agora tem é que lhes acontecer alguma coisa”, advogou a bastonária.

Disse ainda haver “muitos, muitos, profissionais de saúde que ainda não foram vacinados”, assim como muito idosos residentes em lares.

“Depois temos os bombeiros que ainda nem sequer iniciaram a vacinação, as forças de segurança, os estudantes de enfermagem que nem foram incluídos em qualquer grupo prioritário e que estão a ajudar nos lares e que estão a fazer ensinos clínicos nos hospitais e noutros locais expostos a doentes covid e isso não faz sentido”, lamentou Ana Rita Cavaco.