“Neste momento é difícil defender outra coisa que não seja o Estado de Emergência. Tem de existir cobertura jurídica e legal para tomar medidas imprescindíveis. Isto não se resolve com medidas milagrosas. As medidas em concelhos em concreto não são viáveis. Temos interdependências regionais e pendularidades diárias”, disse Eduardo Vítor Rodrigues, líder da AMP.

Eduardo Vítor Rodrigues, que é também presidente da câmara de Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, recordou que “as medidas que se tomam hoje não têm um efeito imediato”, daí a “urgência” de “avançar rapidamente”.

“Os números a que estamos a chegar não são nenhuma surpresa. Estava bem claro que tínhamos uma evolução muito preocupante. Olhar para os números de forma territorializada tem levado a que andemos sempre atrás do prejuízo. Isto é suficientemente grave para que, mesmo em zonas onde não há nenhum fenómeno conhecido, as populações sejam envolvidas”, defendeu.

Admitido que, neste momento, o Norte do país apresenta números de infeção pelo novo coronavírus “muito preocupantes”, Eduardo Vítor Rodrigues criticou as “mudanças de medidas em função de momentos conjunturais”, pedindo “um esforço nacional”.

“Até para se perceber que chegamos a um momento de uma gravidade que não pode ser atenuada com medidas concelhias ou metropolitanas”, frisou.

Eduardo Vítor Rodrigues defendeu mudanças na comunicação sobre a covid-19, lembrando que “as pessoas estão exaustas de ter informação que às vezes é contraditória”.

O autarca considera que a tutela devia considerar fazer “um alívio na intensidade nas conferencias de imprensa da Direção-Geral da Saúde”.

“É preciso ter comunicação mais direcionada, informação mais precisa e discurso mais homogéneo. Andamos a pedir às pessoas que no Dia dos Fiéis não vão aos cemitérios e depois temos 30 mil pessoas a ver corridas de Fórmula 1. Ontem tivemos o retorno do público aos estádios de futebol [referindo-se ao FC Porto-Olympiacos para a Liga dos Campeões que decorreu no Estado do Dragão]. Se calhar é justo, mas se calhar já podia ter acontecido antes e vem na pior altura pelo significado que representa”, considerou.

Exigir que as empresas reforcem os desfasamentos de entrada e saída, repesar os horários do comércio de rua e dos centros comerciais, e fechar universidades e secundárias durante “pelo menos 15 dias”, de forma “a retirar jovens dos transportes públicos e da via pública”, são algumas das medidas que o autarca de Gaia diz serem “urgentes”.

À Lusa, Eduardo Vítor Rodrigues acrescentou a ideia de pedir aos clubes desportivos que suspendam durante 15 dias as atividades de formação”, porque “não vale a pena fechar escolas e introduzir o ensino à distância se depois pais, miúdos e técnicos andam de trás para a frente”, disse.

“Todas as medidas que proponho têm uma prévia auscultação com as entidades que gerem o processo no terreno”, sublinhou.

Hoje, o presidente da Comissão Distrital da Proteção Civil do Porto, Marco Martins, apresentou uma proposta ao Governo para que, em função do aumento crescente do número de casos de covid-19 na região, decrete o recolher obrigatório no distrito.

Em declarações à agência Lusa, Marco Martins disse ter falado com a maioria dos autarcas do distrito e que todos concordaram que são necessárias “medidas mais graves, mas medidas que façam o equilíbrio entre a saúde pública e a economia”.

Especialistas alertaram hoje que a região Norte poderá atingir 7.000 novos casos de infeção pelo SARS-CoV-2 na próxima semana.

Ouvidos pela Lusa, afirmaram existirem “vários concelhos” num “patamar semelhante” aos três do Tâmega e Sousa onde, na sexta-feira, foram impostas medidas mais restritas.

A câmara de Matosinhos anunciou na terça-feira o encerramento dos centros comerciais às 21:00 e pede ao Governo que “adote medidas” para os concelhos da AMP.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 2.371 em Portugal.