"Fizemos dois inquéritos, ao qual responderam mil associados, através dos quais uma das vertentes analisadas foi o impacto económico do Covid-19 no setor e, deste ponto de vista, estamos, de facto, muito preocupados”, defendeu a secretária-geral da Associação da Hotelaria, restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Ana Jacinto, em entrevista à Lusa.
Na semana passada os primeiros dados revelavam que cerca de 30% das empresas do setor do alojamento estavam quebras nas taxas de ocupação/cama na ordem dos 15% a 30%, enquanto, neste momento, “fechámos mais inquérito e cerca de 50% do alojamento tem quebras na taxa de ocupação, que já são acima de 40%.
Por sua vez, na restauração, o primeiro inquérito revelou que 30% das empresas diziam ter quebras na ordem dos 10% a 25%, percentagem que, segundo os dados hoje apurados, subiu para 40%.
Conforme explicou a secretária-geral da AHRESP, a maior parte deste cancelamentos, que não estão localizados numa região geográfica, coincidem com a época da Páscoa, embora afetem também a do verão.
“Quanto mais tempo estivermos nesta situação, mais preocupados vamos ficar. Se a Páscoa já está perdida, não queremos também perder o verão e queríamos que se recuperassem algumas reservas canceladas na Páscoa”, vincou.
Ana Jacinto indicou ainda que, no caso do alojamento, os mercados que mais retrairam foram o italiano, espanhol, francês e também o asiático, enquanto, no que se refere à restauração, regista-se uma grande perda de procura por parte do mercado nacional.
Assim, a AHRESP vai continuar a monitorizar a situação, lamentando que, provavelmente, na próxima semana, os dados serão ainda “mais preocupantes”.
Adicionalmente, a associação já alertou o Turismo de Portugal para a necessidade de se fazer uma campanha de promoção interna, uma vez que se os cidadãos "têm receio de viajar para fora, podem viajar cá dentro".
Despedimentos e risco de fecho
“É precisamente no início de março que as estruturas reforçam os seus quadros de pessoal. Alargaram os quadros e agora não têm procura que justifique. Agora têm que ver se conseguem fazer os pagamentos perante estes quadros. O que, eventualmente, irá acontecer é que terão de dispensar aqueles que são os mais sazonais e os que resultam de contratos mais curtos”, afirmou a secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Ana Jacinto, em entrevista à Lusa.
No entanto, esta responsável notou que a associação, até ao momento, não teve conhecimento de despedimentos, embora saiba que muitas empresas estão já a avaliar essa possibilidade.
Por sua vez, no que se refere ao encerramento de empresas, Ana Jacinto sublinhou que há esse risco associado, sobretudo, às de dimensão micro.
“É isso que não queremos e temos estado a alertar o Governo. [Desejávamos] que no verão pudéssemos estar todos de cabeça levantada e a trabalhar com a força [habitual]. Se assumirmos todos um maior sentido de responsabilidade […] e respeitarmos à risca todas as medidas é mais fácil sairmos mais rapidamente desta situação”, referiu.
Questionada sobre os prejuízos registados no setor até à data, em função da propagação da Covid-19, Ana Jacinto disse que “ainda é cedo” para avançar números.
Porém, garantiu que a associação está a monitorizar todas as quebras registadas.
Já no que se refere à adoção das recomendações propostas pela associação, bem como pela Direção-Geral da Saúde (DGS), mais de 70% das empresas que responderam ao inquérito asseguraram já estar a cumprir.
Entre as medidas em causa, encontram-se o reforço da higienização das superfícies, das zonas públicas, a lavagem das mãos, bem como os procedimentos a adotar em caso de suspeita de infeção.
“Estamos a acompanhar [o desenvolvimento da pandemia] com alguma preocupação, para não dizer muita. A AHRESP tem estado, desde a primeira hora, a acompanhar e a ajudar os seus associados”, sublinhou Ana Jacinto.
Governo tem de agir
“Têm que ser já [postas em prática]. Esta demora é já muito preocupante porque, todos os dias, há empresários que me dizem que o estabelecimento está vazio, que não serviram almoços, jantares, que os próprios trabalhadores estão muito preocupados e tudo isso precisa de ser acautelado e é para isso que todos temos de trabalhar”, afirmou a secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Ana Jacinto, em entrevista à Lusa.
As medidas apresentadas pelo executivo, cujo total ultrapassa os dois mil milhões de euros, incluem uma linha de crédito de 200 milhões de euros dirigida à tesouraria das empresas, bem como o ‘lay-off’ (suspensão temporária do contrato de trabalho) simplificado.
“A linha é um empréstimo, com condições maia benéficas, mas não deixa de ser um empréstimo com interferência da banca e com as vicissitudes que acarreta. Sempre dissemos que não era suficiente”, vincou esta responsável.
Conforme apontou Ana Jacinto, a partir daí, o Governo estruturou em conjunto com o setor outras medidas, que devem ser continuamente avaliadas, após serem postas em prática.
“Eu não sei dizer se são suficientes, se calhar não são. Já estão algumas identificadas, metam-nas em marcha e depois vamos avaliando”, notou a secretária-geral da AHRESP.
Ana Jacinto disse ainda aguardar que da reunião de hoje do Conselho de Ministros possam sair já “algumas medidas específicas para o turismo”, acrescentando que a associação está a trabalhar permanentemente com o executivo “porque todos os dias há situações novas”.
O primeiro-ministro, António Costa, interrompeu hoje a reunião do Conselho de Ministros para informar e ouvir a opinião dos líderes partidários sobre as medidas do Governo de resposta ao surto de Covid-19.
Depois das 20:00 serão retomados os trabalhos e anunciadas as medidas.
Criada em 1896, a AHRESP é uma associação de defesa e representação do turismo, contando, atualmente, com 25 mil associados registados.
O novo coronavírus responsável pela Covid-19 foi detetado em dezembro, na China, e já provocou mais de 4.600 mortos em todo o mundo, levando a Organização Mundial de Saúde a declarar a doença como pandemia.
O número de infetados ultrapassou as 125 mil pessoas, com casos registados em cerca de 120 países e territórios, incluindo Portugal, que tem 78 casos confirmados.
A Itália é o caso mais grave depois da China, com mais de 12.000 infetados e pelo menos 827 mortos, o que levou o Governo a decretar a quarentena em todo o país.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) atualizou hoje o número de infetados, que registou o maior aumento num dia (19), ao passar de 59 para 78, dos quais 69 estão internados.
A região Norte continua a ser a que regista o maior número de casos confirmados (44), seguida da Grande Lisboa (23) e das regiões Centro e do Algarve, ambas com cinco casos confirmados da doença.
O boletim divulgado hoje assinala também que há 133 casos a aguardar resultado laboratorial e 4.923 contactos em vigilância, mais 1.857 do que na quarta-feira.
No total, desde o início da epidemia, a DGS registou 637 casos suspeitos.
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