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Estão são algumas das perguntas que estes "detetives" fazem. "É no contacto com o cidadão que está doente que nós sabemos com quem é que ele contactou", explica Mário Durval, diretor do departamento de Saúde Pública da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), ao Observador.

No entanto, caso este não se lembre ou não esteja em condição de responder — se estiver internado, por exemplo, alguém próximo do doente infetado também poderá ajudar a responder a estas questões.

"Sabemos que há determinados locais em que o coronavírus está já na comunidade e temos de perguntar se estiveram nesses locais ou se as pessoas estiveram com outras pessoas que estão confirmadas como doentes", afirma ainda Mário Durval à publicação.

É desta forma que é criada uma “fita de tempo”, que começa no “último contacto com o provável foco”. Mas esse é só o primeiro estágio  da "investigação".

Numa segunda fase é elaborada uma lista de contactos, da qual fazem parte todas as pessoas próximas de um doente confirmado. Essas pessoas são contactadas, por estes "detetives", e acompanhadas nos restantes 14 dias após a primeira abordagem. É-lhes pedido para estarem atentas aos sintomas e para os relatarem. Caso comecem a relatar sintomas, uma nova ponta deste novelo começa a desenrolar-se. “As pessoas contactadas com sintomas fazem testes e os outros mantêm-se em isolamento para ver se há ou não sintomas posteriormente", relata o responsável, desta vez ao jornal Público.

"A saúde pública funciona com probabilidades. O contacto do contacto do contacto é toda a gente. Se dispersamos esforços, deixamos de ser eficazes. É por isso que nos focamos nos casos que são importantes", referiu ainda à publicação.

Como se define um caso próximo? Ser um contacto próximo implica, por exemplo, "a permanência durante pelo menos 15 minutos com a pessoa infetada em ambiente fechado", explica Mário Durval. Num documento divulgado pela DGS são classificados “contactos próximos de alto risco de exposição” quem:

  • coabitar com caso confirmado de COVID-19;
  • tiver “exposição associada a cuidados de saúde” —  por exemplo: um médico que tenha prestado cuidados a um doente infetado ou alguém que tenha estado em contacto com amostras do vírus;
  • tiver tido "contacto físico direto (aperto de mão) com caso confirmado de COVID-19 ou contacto com secreções contaminadas com SARS-CoV-2"
  • tiver um “contacto em proximidade (frente a frente) ou em ambiente fechado com um doente (...) a uma distância até 2 metros durante mais de 15 minutos" — por exemplo: gabinete, sala de aulas, sala de reuniões, sala de espera;
  • tiver viajado "numa aeronave" ou num "navio" nos casos em que tenha estado "sentado até 2 lugares para qualquer direção em relação ao doente (2 lugares a toda a volta do doente)", fosse "companheiros de viagem do doente", tenha prestado cuidados "diretos" ao doente ou sejam "tripulantes de bordo que serviram a secção do doente".

O relatório de situação de terça-feira dá conta de seis cadeias de transmissão ativas. Os casos índice, ou seja, os primeiros, foram todos importados. Neste momento há cadeias de transmissão em todas as regiões com casos: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo e Algarve. No entanto, explicou Graça Freitas ao Público, a DGS deixou de publicar informação sobre a evolução destas cadeias “para preservar o caso índice”.