A administração da dose de reforço da vacina contra a covid-19 iniciou-se esta semana em Portugal, com prioridade às pessoas com 80 e mais anos e utentes de lares e de cuidados continuados. Nesta fase de vacinação, as doses serão todas Comirnaty, vacina desenvolvida pela Pfizer e pela BioNTech.

A norma publicada, a 8 de outubro, pela Direção-Geral da Saúde (DGS) esclarece “a vacinação das pessoas elegíveis para uma dose de reforço deve ser realizada com uma vacina de mARN (Comirnaty), com um intervalo de, pelo menos, seis meses após a conclusão do esquema vacinal primário, independentemente da vacina utilizada no esquema vacinal primário”.

Mas, em Portugal, a administração de doses diferentes de vacinas não é uma novidade. Já era possível aplicar uma primeira dose da vacina AstraZeneca (Vaxzevria), seguida de uma segunda dose da vacina da Pfizer-BioNTech ou da Moderna.

Esta estratégia de combinar doses de vacinas diferentes no mesmo esquema vacinal é conhecida como esquema heterólogo de vacinação. E, no final de maio de 2021, a DGS passou a recomendar a pessoas com menos de 60 anos, que tivessem recebido uma primeira dose da vacina da AstraZeneca, a segunda dose com uma vacina com tecnologia mRNA. Assim, em alguns casos, o esquema vacinal já combinava a primeira dose AstraZeneca com uma segunda dose da vacina Pfizer-BioNTech ou da Moderna.

No entanto, para efeitos de uma nova dose, o regulador europeu faz uma distinção: referindo que a terceira dose é para pessoas com sistemas imunitários enfraquecidos e as doses de reforço para pessoas com sistemas imunitários normais.

“No caso dos imunossuprimidos, a dose adicional deve-se ao facto de se saber que o esquema inicial – nestas pessoas com perturbação do sistema imunitário – pode não ser eficaz. Ou seja, muitas destas pessoas imunossuprimidas nunca chegam a estar eficazmente protegidas com o esquema inicial. Logo recomenda-se uma dose adicional”, esclarece Luís Graça, membro da Comissão Técnica de Vacinação ao SAPO24.

“Já no caso das pessoas a quem é recomendado uma dose de reforço a situação é distinta, há evidência que o esquema inicial foi eficaz. Mas surgiu evidencia de que, com o passar do tempo, esta proteção diminuiu (embora se mantenha uma proteção elevada). A dose de reforço permitirá (e os estudos confirmam) que se volte a alcançar uma proteção equivalente à que tinham inicialmente", acrescenta.

Assim, o Comité de Medicamentos Humanos (CHMP) da Agência Europeia do Medicamento (EMA) concluiu que uma dose extra das vacinas covid-19 Comirnaty (BioNTech/Pfizer) e Spikevax (Moderna) pode ser administrada a pessoas com sistemas imunitários gravemente enfraquecidos, pelo menos 28 dias após a sua segunda dose. Mas, para pessoas sistemas imunitários normais, o CHMP ainda só aprovou a Comirnaty, o que levou Graça Freitas a esclarecer, na semana passada, que para reforço de vacinação há “apenas uma vacina que tem já autorização da EMA”, acrescentando que “essa vacina é a da Pfizer - a da Moderna também submeteu os ensaios clínicos para poder vir a ser aprovada, mas até ao momento a aprovada é a da Pfizer - e o esquema recomendado é seis meses depois da dose administrada".

De referir que os dados avaliados pela EMA mostraram um aumento nos níveis de anticorpos quando uma dose de reforço é dada aproximadamente seis meses após a segunda dose em pessoas entre os 18 e os 55 anos de idade. Com base nestes dados, o CHMP concluiu que as doses de reforço podem ser consideradas pelo menos seis meses após a segunda dose para pessoas com 18 anos de idade ou mais. Mas, pelo menos para já, é do entendimento dos especialistas do regulador europeu que as provas atuais sobre a eficácia da vacina e a duração da proteção mostram que as vacinas contra a covid-19 aprovadas na União Europeia asseguram alta proteção contra doença grave e internamentos na população em geral, pelo que uma terceira dose só é admitida para os grupos considerados vulneráveis.

Já nos Estados Unidos, segundo o New York Times, um painel de peritos médicos independentes recomendou unanimemente, esta quinta-feira, um reforço da vacina Moderna, abrindo caminho para expandir acentuadamente o número de pessoas elegíveis para uma vacina adicional.

O comité consultivo da Food and Drug Administration (FDA) votou, na totalidade, a favor da autorização de emergência de meia dose de reforço da vacina, pelo menos seis meses após a segunda dose. As pessoas elegíveis para esta "dose extra" incluiriam pessoas com mais de 65 anos e outros adultos considerados de alto risco - os mesmos grupos agora elegíveis para reforço da Pfizer-BioNTech.

Por norma, a FDA segue o conselho do painel e deverá decidir dentro de dias. Se a FDA autorizar rapidamente as doses de reforço de Moderna, e se o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) deliberar, após reunião do seu próprio comité de peritos em vacinas, na próxima semana, as pessoas dos grupos elegíveis poderão começar receber os reforços em poucos dias. Além das pessoas com mais de 65 anos, esses grupos incluem adultos mais jovens com elevado risco de desenvolver covid-19 grave ou complicações graves devido a condições médicas ou ao seu trabalho.

Atualmente, mais de sete milhões de pessoas nos Estados Unidos já receberam doses de reforço da vacina Pfizer-BioNTech, e mais de um milhão já receberam terceiras doses de Moderna, embora apenas aqueles com deficiências imunitárias sejam oficialmente elegíveis.

Esta sexta-feira, o mesmo comité de peritos vai discutir e votar se as cerca de 15 milhões de pessoas que receberam a vacina de dose única da Johnson & Johnson devem também ser elegíveis para doses de reforço.

Combinar reforços de vacinas diferentes pode ser mais eficaz, refere estudo

O comité consultivo da FDA discutirá também os dados sobre a segurança e eficácia das doses iniciais de uma vacina covid-19 e de uma dose de reforço da vacina de outro fabricante. O comité deverá analisar um estudo que sugere também que um reforço de outras vacinas, como da Pfizer-BioNTech ou da Moderna, são mais eficazes do que uma segunda dose da vacina Johnson & Johnson, por exemplo.

Estudos divulgados no final de junho mostravam, relativamente à administração de duas doses, que a uma dose da vacina AstraZeneca e uma dose da vacina Pfizer-BioNTech (com intervalo de 28 dias) gerava uma melhor proteção em comparação com o esquema vacinal de duas doses AstraZeneca, o que poderá ser um bom indicador da eficácia destas combinação.

Agora, o estudo do National Institutes of Health, que foi divulgado na quarta-feira, mas ainda não foi revisto por pares, reporta que as pessoas que receberam a vacina da Johnson & Johnson produziram níveis de anticorpos mais fortes depois de terem recebido doses de reforço feitas pela Moderna ou pela Pfizer, em comparação com as doses de reforço da Johnson & Johnson. Aqueles que foram originalmente vacinados com as vacinas Pfizer ou Moderna e que receberam a vacina de reforço da mesma farmacêutica produziram respostas imunitárias igualmente fortes.

De acordo com a publicação NPR, o estudo envolveu 458 voluntários que foram divididos em nove grupos com cerca de 50 voluntários cada. Aqueles que inicialmente receberam a vacina de duas doses Moderna receberam outra vacina Moderna, uma vacina Pfizer ou uma vacina Johnson & Johnson como reforço, isto entre quatro a seis meses após o esquema vacinal primário.

Já as pessoas que receberam a vacina de duas doses Pfizer receberam ou outra vacina Pfizer, um reforço Moderna ou da Johnson & Johnson. Por sua vez, as pessoas que receberam a vacina Johnson & Johnson de uma dose, ou receberam um reforço da Johnson & Johnson, da Moderna ou Pfizer.

Os investigadores mediram posteriormente os níveis de anticorpos em todas essas pessoas duas e quatro semanas após o reforço e os resultados, segundo sugerem, foram interessantes.

As pessoas que receberam a vacina Moderna no primeiro esquema vacinal e Moderna no reforço parecem ter obtido a melhor resposta imunológica, seguidas pelas que receberam a Pfizer e reforço da Moderna e depois Moderna reforçada pela Pfizer – embora o aumento da resposta imunológica com as vacinas de mRNA fosse provavelmente demasiado pequeno para fazer realmente a diferença na proteção da maioria dos grupos.

A descoberta mais significativa, até porque está em análise hoje o pedido de aprovação do reforço da  Johnson & Johnson, sugere que as pessoas que inicialmente receberam esta vacina parecem ter obtido a melhor resposta com doses de reforço da Pfizer ou Moderna.

Assim, parece que uma dose de reforço da Johnson & Johnson, após a vacinação inicial, não será tão eficaz quanto receber uma das outras vacinas como reforço. Os níveis de anticorpos das pessoas desses grupos subiram 10 a 20 vezes mais do que os das pessoas que receberam outra vacina Johnson & Johnson – um aumento de anticorpos que é, provavelmente, suficientemente elevado para fazer a diferença em relação ao grau de proteção, dizem os cientistas. No entanto, o estudo não foi grande o suficiente para determinar a probabilidade de pessoas que subsequentemente foram infetadas com o coronavírus ficarem doentes - ou o quão doentes ficaram.

Além disso, há algumas advertências neste estudo que tornam um pouco difícil a interpretação dos dados. Por exemplo, os investigadores testaram doses completas de todas as vacinas – e não a meia dose que a Moderna está a tentar ver aprovada como dose de reforço nos EUA e sobre o qual o comité deu, na quinta-feira, o parecer positivo.

Os investigadores mediram os níveis de anticorpos duas e quatro semanas após o reforço, pelo que há uma hipótese de os níveis de anticorpos da Johnson & Johnson poderem continuar a subir com mais tempo. Os cientistas também estão a assumir que níveis mais elevados de anticorpos se traduzem em mais proteção – no entanto, há ainda outros factores, como a imunidade celular que poderão também desempenhar um papel na proteção.

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