O treinador adjunto e o treinador de guarda-redes, respetivamente, do Sepahan, atual segundo classificado da Liga de futebol do Irão, contaram à agência Lusa como têm passado os dias fechados em casa, numa altura em que o campeonato está parado, assim como os treinos da equipa, num país isolado do exterior.
“Neste momento, não há voos, não conseguimos sair, os treinos estão cancelados, não jogamos há cerca de um mês. Estamos em casa e não fazemos mais nada. As pessoas aqui continuam a sair à rua, o Ano Novo persa começa amanhã [quinta-feira e decorre até 03 de abril]. Há comércio aberto e pessoas a comprar. Nota-se muito cuidado em algumas pessoas, outras não têm cuidado nenhum”, contou Miguel Teixeira.
Ambos relataram a existência de camiões a desinfetarem as ruas e os locais públicos, mas “isso não chega”, porque “apesar de não haver turistas”, a “ignorância volta a reinar na mente das pessoas”, que continuam a sair à rua para celebrar o Ano Novo em tempos de sobrelotação nos hospitais.
“Este é um país com uma cultura diferente da que estamos habituados. Vive constantemente em sobressalto com várias situações e consegue digerir a situação melhor do que nós. [As pessoas] fazem o dia-a-dia normal, são um povo impaciente, que não consegue ficar em casa, porque não sabe o que vem no dia seguinte”, prosseguiu o adjunto.
O contacto com a embaixada portuguesa em Teerão tem sido constante. Há cerca de três semanas tiveram a possibilidade de regressar à Europa, mas, como ainda estavam a treinar, acabaram por não tomar nenhuma decisão e agora não sabem o que fazer.
“Vamos aguentar a situação até ao insuportável. Esperamos que o clube seja o primeiro a chegar perto de nós e a libertar-nos do compromisso de ambas as partes. Compreendo o receio, porque se sairmos daqui dificilmente regressamos. Esperamos que as coisas se resolvam e melhorem no futuro para que possamos regressar à normalidade”, disse Rui Tavares.
Caso Portugal decida fretar um avião para repatriar os portugueses na região do Médio Oriente, o treinador de guarda-redes admitiu que seria um “caso a pensar seriamente”, enquanto Miguel Teixeira “aceitaria o regresso” a terras lusas se não o prejudicasse.
“Durante estes dias vou falar com o meu advogado, porque ao ausentarmo-nos agora, dificilmente regressaríamos, mesmo que estivesse tudo bem depois dos 14 dias em quarentena. Mais do que uma vontade, há procedimentos legais para não ser prejudicado. A vontade é de ir, mas tenho de aguardar estes dias para pensar nisso”, confessou.
Num campeonato em que há um caso confirmado de infeção de um treinador, o clube foi o único no país que manteve os treinos, tendo este sido o primeiro dia das folgas que duram até ao final da semana, para que também os dois técnicos portugueses possam celebrar a entrada no Ano Novo. Contudo, mantém-se a incerteza dos dias seguintes, marcados agora pelo isolamento.
“Tento sair o mínimo de casa, fazer exercícios para manter o corpo ativo e passar a melancolia de estar sozinho em casa. Tenho cá o Miguel [Teixeira], estamos sempre em contacto e vamos falando por telefone. Isto não vai ser fácil, os campeonatos estão parados em todo o lado, aponta-se o reinício do campeonato para maio, mas eu não acredito. Há muitos casos, não se veem melhorias, pelo contrário, mas temos de ter fé”, afirmou Rui Tavares.
Por seu lado, Miguel Teixeira tem tido o “máximo de precaução”, saindo apenas para ir aos dois supermercados ao lado de casa, numa rotina que agora se baseia em ver televisão, vídeos e fazer trabalhos para os jogadores que também estão em confinamento.
“Fizemos um plano de treinos para eles fazerem em casa, para que não parem completamente. É uma maneira de estarem ocupados. Temos feito alguns desafios com os jogadores, como aquele que está a correr agora nas redes sociais, do papel higiénico, que até eu aderi. É uma maneira de passar o tempo e de nos abstrairmos um pouco”, contou o adjunto.
O Irão conta agora com um total de 1.135 mortos devido ao novo coronavírus e 17.361 infetados.
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