Os especialistas dividem-se perante a relação risco-benefício da vacina nesta faixa etária, com alguns a assinalar a pouca gravidade da doença entre os mais novos e outros a salientar o risco de deixar espaço para a eventual propagação de novas variantes. No entanto, há já países a avançar com esse processo, mesmo quando muitas nações estão ainda atrasadas na vacinação da sua população adulta.

Como é o plano de vacinação previsto neste momento para os jovens?

A ministra da Saúde, Marta Temido, já disse que os pareceres preliminares da Comissão Técnica de Vacinação contra a covid-19 apontam para “uma priorização do grupo etário dos 18 aos 16 anos” e “uma priorização de vacinação de crianças com comorbilidades na faixa” entre os 15 e os 12 anos, apesar de ter ressalvado que o Governo está preparado para qualquer cenário sobre esta matéria.

Já o coordenador da ‘task force’ do plano de vacinação avançou na última reunião no Infarmed que a vacinação dos jovens de 16 e 17 anos começa no fim de semana de 14 e 15 de agosto e que os dois fins de semana seguintes estão reservados para os adolescentes dos 12 aos 15 anos. O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo não fez referência a uma limitação aos jovens com comorbilidades, mas condicionou a operação ao aval da DGS.

O que falta para avançar com este processo? 

A decisão da DGS, que havia solicitado duas semanas para estudar os pareceres da Comissão Técnica de Vacinação contra a covid-19 em jovens e os calendários de vacinação para definir uma posição, que deverá ser conhecida até ao final deste mês ou início de agosto.

Quais são os argumentos a favor da vacinação contra a covid-19 em crianças e jovens?

Entre os argumentos mais citados pelos especialistas estão: a necessidade de vacinação desta população para alcançar a imunidade de grupo, devido à prevalência da variante Delta do vírus SARS-CoV-2, que provou ser mais transmissível e ter maior risco de provocar doença grave nos infetados; a mais-valia das vacinas na proteção contra o vírus, diminuindo não só o risco de contágio como o de possível doença grave em caso de infeção; o risco de os mais jovens servirem como “bolsa” para a difusão de novas e mais perigosas variantes

Os argumentos incluem ainda a atual proporção significativa desta faixa etária nos números de novos casos, a importância de garantir uma maior estabilidade para o ano letivo nas escolas, diminuindo a probabilidade de infeções ou isolamentos profiláticos, e a não sujeição a um teste de diagnóstico invasivo, seja ele PCR ou antigénio.

Quais são os argumentos contra a vacinação de crianças e jovens contra a covid-19? 

Diversos médicos de diferentes especialidades mostraram-se contra a vacinação contra a covid-19 em crianças e jovens saudáveis por considerarem que os benefícios de administração da vacina nesta população não superam os riscos.

Através de uma carta aberta divulgada na semana passada, estes especialistas sustentaram que o argumento de proteção dos mais idosos para justificar a vacinação em jovens “não é eticamente aceitável”, defendem que a vacina tem poucos benefícios neste grupo etário, lembram que a doença se manifesta nesta população quase sempre de forma ligeira ou assintomática e apontam para alguns efeitos secundários mais graves, como uma relação das vacinas (Pfizer/BioNTech e Moderna) com um risco muito raro de inflamações cardíacas (miocardite e pericardite).

O que dizem as instituições nacionais do setor da saúde acerca do tema?

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) afirmou recentemente que o organismo que lidera “apoiará sempre a decisão da DGS” sobre esta matéria. Em declarações ao Jornal de Notícias, Miguel Guimarães garantiu, contudo, estar “convencido de que a DGS vai recomendar a vacinação das crianças contra a covid-19, no grupo etário dos 12 aos 15 anos”, embora tenha vincado anteriormente que esta questão “tem de ser encarada sempre com algum cuidado”.

Por sua vez, a Ordem dos Enfermeiros (OE) defendeu esta semana em comunicado ser “prudente aguardar” por mais informação científica quanto aos benefícios e efeitos a médio e longo prazo sobre a vacinação das crianças e jovens entre os 12 e os 15 anos. Porém, no caso das crianças, com 12 anos ou menos, com comorbilidades associadas a risco elevado para a covid-19, a OE considera que devem ser aconselhadas à vacinação pelo profissional responsável pelo seu acompanhamento.

O que dizem as agências internacionais? 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem insistido que a vacinação de crianças e jovens não é uma prioridade, face aos desequilíbrios de vacinação no mundo e por defender que o controlo da pandemia passa pelo controlo em todos os países e não apenas nos mais ricos e desenvolvidos.

De acordo com o ‘site’ oficial desta agência das Nações Unidas, “as crianças e adolescentes tendem a ter doenças mais leves em comparação com os adultos, por isso, a menos que façam parte de um grupo com maior risco de ter covid-19 grave, é menos urgente vaciná-los do que as pessoas mais velhas, as que têm condições de saúde crónicas e os trabalhadores da saúde”.

A OMS acrescenta ainda que “são necessárias mais provas sobre a utilização das diferentes vacinas em crianças para se poder fazer recomendações gerais sobre a vacinação de crianças contra a covid-19”.

A Agência Europeia do Medicamento (EMA) autorizou já a administração das vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna em jovens entre os 12 e os 17 anos na União Europeia, ao advogar que os estudos indicaram que a inoculação neste grupo produziu uma resposta de anticorpos semelhante à que se verifica nos jovens adultos (18-25) e registou também efeitos secundários similares.

O regulador europeu observou que os benefícios da vacinação contra a covid-19 nos jovens superam os riscos.

O Centro para o Controlo de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos da América é, por sua vez, mais assertivo em relação ao tema, defendendo claramente a vacinação dos menores acima de 12 anos. “O CDC recomenda que todas as pessoas com 12 anos ou mais devem receber uma vacina para ajudar a proteger contra a covid-19. A vacinação generalizada é um instrumento crítico para ajudar a parar a pandemia. As pessoas que estão totalmente vacinadas podem retomar as atividades que faziam antes da pandemia”, pode ler-se no site oficial da entidade americana.

Quais os países que já avançaram com a vacinação dos mais jovens?

Estados Unidos da América (EUA), Israel, Reino Unido, França, Alemanha, Suécia, Finlândia, Espanha, Itália, Áustria, Bélgica e Suíça, entre outros países, já avançaram com o processo de vacinação da faixa etária entre os 12 e os 17 anos.

A distinção está entre aqueles que optaram por vacinar de forma universal todo esse grupo etário, como, por exemplo, EUA, Itália, França e Áustria, e aqueles que só vacinam menores entre 12 e 15 anos que tenham comorbilidades consideradas de risco para a covid-19, tais como o Reino Unido, Alemanha, Suécia e Finlândia.