O 28.º congresso nacional, marcado para 25 e 26 de janeiro em Aveiro, vai eleger o sucessor de Assunção Cristas na liderança dos centristas, que decidiu deixar o cargo na sequência dos maus resultados nas legislativas de outubro de 2019.

A (ainda) líder, sucessora de Paulo Portas, anunciada no último Congresso do partido como a “futura primeira-ministra”, não escapa às 'balas' da campanha. Dos ataques às críticas, passando pelas propostas para o futuro do partido, uma coisa é certa, o CDS voltará a ter um rosto masculino na liderança.

Abel Matos Santos, João Almeida, Filipe Lobo d'Ávila, Francisco Rodrigues dos Santos e Carlos Meira. Nenhum se apresenta como sendo de continuidade, aliás fogem do termo. 

Fique a conhecer os cinco candidatos, os seus apoios, as propostas e a posição sobre eventuais apoios a uma recandidatura de Marcelo a Belém ou coligações com o Chega e Iniciativa Liberal.

créditos: MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

João Almeida

BI

43 anos

Jurista

Foi presidente da Juventude Popular (1999-2005), secretário-geral e porta-voz do CDS.

No Governo PSD/CDS (2011-2015) foi secretário de Estado da Administração Interna.

É deputado pelo CDS desde as legislativas de 2002.

Apresentará no congresso a moção “O que nos une é a nossa força”.

João Almeida conta com o apoio declarado de Adolfo Mesquita Nunes, ex-deputado, de Cecília Meireles, atual líder da bancada parlamentar centrista, de António Lopes da Fonseca, líder parlamentar do CDS Madeira, de Pedro Mota Soares, Ex-Ministro da Solidariedade, Trabalho e da Segurança Social, de Nuno Magalhães, ex-líder parlamentar, e de Francisco Mendes da Silva, presidente da distrital de Viseu. Mais, os seis presidentes de câmara do CDS também já declaram o seu apoio a João Almeida, são eles Luís Silveira (Velas, Açores), Dinarte Fernandes (Santana, Madeira), Victor Mendes (Ponte Lima, Viana do Castelo), António Loureiro (Albergaria-a-Velha, Aveiro), José Pinheiro (Vale de Cambra, Aveiro) e Duarte Novo (Oliveira do Bairro, Aveiro).

Não vou ser um líder de continuidade, disse em entrevista ao SAPO24. “O partido cometeu erros de foco na mensagem e falhou por não ter tido essas causas sempre na linha da frente”, assumiu.

Antes, numa sessão pública com militantes, já tinha assegurado que o objetivo do CDS tem de ser “lutar pelo campeonato dos grandes” e não “por um ou dois deputados que perdeu para partidos que apareceram agora”. “Não vamos refundar o partido, não vamos reinventar o partido, isso seria um enorme desrespeito pelo que tantos fizeram em 40 anos em nome do CDS, nós vamos continuar o CDS”, disse.

Sobre uma possível coligação com a Iniciativa Liberal disse ao SAPO24 que “primeiro há que fortalecer o CDS”. “ O CDS tem uma tradição de diálogo à direita do PS com o PSD e será sempre com o PSD que terá uma lógica de diálogo para a construção de uma plataforma. Mas antes disso tem de se fortalecer”, acrescentou.

Já o Chega não é, para o ex-secretário de Estado, uma “pedra no sapato”. “Mal era. Não faz sentido focar nos novos partidos aquilo que foi o resultado eleitoral do CDS, porque o CDS perdeu muito mais votos para a abstenção e para outros partidos do que propriamente para os dois que apareceram à direita”, acrescentou numa entrevista à Agência Lusa.

À agência nacional o deputado centrista revelou ainda que a sua campanha terá um custo “à volta de 3.000 euros”. “Sou eu que a pago toda. Pagarei com fundos próprios, meus. Não recebi financiamento de ninguém”, completou. “Poderá haver um ou outro contributo de pessoas que comigo estiveram na moção, há também o voluntariado, que tem ajudado, as pessoas que se deslocam a algumas das iniciativas que temos tido e que se deslocam pelos seus próprios meios”, disse.

Sobre uma eventual recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa esclareceu ao SAPO24 que essa “é uma questão que vamos discutir em conselho nacional”. “Vamos avaliar este mandato do presidente da Republica à luz dos pressupostos de apoio que tivemos quando demos o apoio e fazer essa escolha”, explicou.

créditos: MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Francisco Rodrigues dos Santos

BI

31 anos.

Advogado e consultor.

Foi eleito autarca na assembleia de freguesia de Carnide, Lisboa, de 2013 a 2017.

Eleito presidente da JP em 2015, conhecido na jota e no partido por “Chicão”.

Em janeiro de 2018 a revista Forbes colocou-o na lista dos 30 jovens mais influentes da Europa" ("30 under 30 - Law&Policy 2018”).

Apresentará no congresso a moção “Voltar a Acreditar”.

Francisco Rodrigues dos Santos conta com o apoio de Manuel Monteiro, ex- líder do CDS, de Artur Lima, líder do CDS/Açores e de Rui Albuquerque, líder do CDS-Madeira. É ainda apoiado por António Bagão Félix, ex-ministro das Finanças, Fernando Paes Afonso, antigo vice-provedor da Misericórdia de Lisboa, Martim Borges de Freitas, ex-líder da Juventude Centrista e que já foi vice-presidente do partido, e por Fernando Moura e Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores Democratas-Cristãos.

O candidato acusa a atual liderança, de Assunção Cristas, de ter provocado no partido uma “falência de identidade” por receio de “algumas perdas” ou de “excluir alguém” caso o “discurso fosse nítido, fosse incisivo”. Para Rodrigues dos Santos, isto fez com que o CDS se tornasse num “partido que não conseguiu ter uma mensagem clara, causas e bandeiras” para as “bases sociais de apoio agitarem energicamente” e “sem uma agenda definida”.

Num debate na sede do CDS, o líder da JP assumiu que quer construir uma “nova direita”, num “espaço da casa grande de direita”, que tem novos concorrentes, e que o CDS “cresça da direita para o centro”.

“Se nós atirarmos primeiro para a direita, que é lá que os nossos eleitores têm morada, nós conquistamos o povo para depois irmos à conquista do centro e podermos crescer porque temos o exército connosco, e é ao centro que nós nos encontramos com os nossos adversários e podemos catapultar o CDS para novos horizontes eleitorais”, salientou à Lusa

Francisco Rodrigues dos Santos defendeu ainda que é preciso “dar ao CDS uma nova vida, composta por uma nova vaga de protagonistas de todas as idades, que impeça o CDS de ser um partido passivo ou do passado, ou composto por uma lógica de continuidade de uma transição normal”.

Por isso, "Chicão" defende que a sua candidatura “permite apresentar uma alternativa que não seja de continuidade, não esteja compreendida dentro da norma, que não seja uma transição clássica”.

O candidato defende também que o partido não se deve “preocupar com os partidos do lado”, afirmando-se como a “fronteira de todos os extremismos”. Porém, Francisco Rodrigues dos Santos não fecha a porta a outros partidos, desde que não haja “nenhuma violação das traves mestras nem das linhas vermelhas que são o ADN do partido”.

Tendo sido último a apresentar a candidatura, já explicou que a campanha interna obedece a “critérios de contenção” e que a sua será “paga com o esforço do trabalho de cada uma das pessoas que a compõem, em partes que terão que ser definidas, dependendo dos custos globais que ainda não estão calculados”.

Sobre uma recandidatura à presidência por parte de Marcelo Rebelo de Sousa, se for eleito o próximo presidente do partido, “Chicão” não se irá antecipar à discussão interna e não divulgará o “apoio do CDS a um candidato presidencial, seja ele qual for”.

“Vamos reunir o órgão máximo do partido entre congressos, que é o Conselho Nacional, e vamos abrir a discussão a todos os militantes que lá estejam representados, sendo certo que a sua opinião será soberana e que o que lá ficar decidido será transposto como posição oficial do CDS”, assinalou à Lusa.

créditos: MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Filipe Lobo d´Ávila

BI

45 anos.

Advogado.

Aderiu à Juventude Centrista em 1993.

Em 2002, com o Governo PSD/CDS, é nomeado diretor-geral do Ministério da Justiça, cargo que ocupará com três ministros diferentes, do CDS, PSD e PS, até 2008.

Foi eleito deputado por três vezes, em 2009, 2011 e 2015, tendo abandonado o parlamento em 2018.

Em 2011, é escolhido para secretário de Estado da Administração Interna no Governo PSD / CDS (2011-2013).

Apresentará no congresso a moção “Juntos Pelo Futuro”.

Filipe Lobo d’Ávila conta com o apoio de Mário Pereira, deputado regional madeirense, Miguel Pires da Silva, ex-presidente da JP, Isabel Menéres Campos, atual presidente da concelhia do Porto, e de Miguel Pires da Silva, ex-líder da Juventude Popular.

Apoios que não se materializam em ajudas monetárias à campanha. “Sei que já gastei algum dinheiro pessoal nestas viagens e não tenho qualquer tipo de apoios externos relativamente a essa matéria”.

O ex-deputado, que foi um dos rostos dos críticos internos a Cristas, aponta como “principal erro” a “descaracterização da mensagem do partido. O CDS quis transformar-se num partido “catch all”, para tentar chegar a todos. “Essa ambição, como se dizia”, recordou à Lusa, “acabou por se traduzir num partido com uma mensagem que não ficou clara”, que “não passava”, e que acabou “por perder um pouco de identidade”.

Lobo d’Ávila defende que o CDS “tem que assumir claramente, sem vergonha, que é um partido de direita, de uma direita moderada e democrática” e fazer um discurso “dirigido às classes médias”, que é “cada vez menos média e mais baixa”.

Assume que “O CDS é muito diferente do Chega ou da Iniciativa Liberal e não deve cair na tentação de os copiar”.

“Portanto, se o objetivo deste congresso for encontrar uma solução que seja transformar o CDS num partido ultraconservador, idêntico em termos de mensagem, em termos de postura ao Chega, acho que seria um erro tremendo. No dia em que quisermos ser um Chega II não seremos o CDS”, disse à Lusa.

Com João Almeida, diz ter uma amizade de muitos anos, pelo “percurso de vida juntos, com relações pessoais fortes” e que vão manter-se independentemente do que acontecer em Aveiro: “Cada um tem um projeto para o CDS e quer ir até o fim. É legítimo que o faça e o partido que escolha.”

Sobre Marcelo não quer precipitar-se. “O CDS deve manter os cenários todos em aberto, seja de apoiar uma recandidatura seja de não apoiar, ou seja mesmo de apoiar uma ou outra qualquer candidatura que possa surgir no seu espaço público em função de uma recandidatura [de Marcelo] ou não”.

créditos: MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Abel Matos Santos

BI

46 anos.

Psicólogo clínico e sexologista. Psicoterapeuta no Hospital de Santa Maria, Lisboa.

Fundou em 2017 e é porta-voz da Tendência Esperança e Movimento (TEM).

É membro do Conselho Nacional e da Comissão Política Nacional do CDS.

Foi vice-presidente da concelhia de Lisboa do CDS-PP

Nos últimos quatro anos, foi um dos críticos da direção de Assunção Cristas e liderou a única tendência organizada e reconhecida internamente (CDS Alternativa e Responsabilidade), o que lhe valeu também, pelos estatutos, um assento na comissão política nacional dos centristas

É conhecido por posições contra a adoção por casais do mesmo sexo.

Apresentará no congresso a moção “Portugal TEM Esperança”.

O único apoio público que lhe é conhecido é o de Joana Bento Rodrigues, médica, cronista no Observador e Membro do Conselho Consultivo da TEM/CDS.

A sua candidatura quer uma “solução de futuro e não de continuidade”. No debate entre candidatos que se realizou na sede do partido destacou "oito ideias-chave" ou prioridades para os centristas, a começar pelo combate à pobreza, à desertificação do interior, à morosidade da justiça e à corrupção, à burocracia, à mediocridade e facilitismo na educação, à degradação do Serviço Nacional de Saúde, ao aborto e à eutanásia, "luta" que é "uma bandeira do CDS", e contra a ideologia de género que, na escola, "impõe comportamentos" aos jovens e às crianças.

Para o porta-voz da Tendência Esperança em Movimento (TEM), nos últimos anos o CDS “perdeu identidade, deixou de ser um partido de causas, de valores, de princípios, e passou a ser um partido que começou a navegar à bolina, a navegar ao sabor do vento, consoante a agenda política do dia”, tendo sofrido também de “má gestão das causas essenciais”.

Depois, à Agência Lusa, defendeu que o CDS deve afirmar-se “como um partido de direita, sem vergonha de dizer que é de direita, sem complexos, porque a direita não é nada que nos envergonhe”.

No debate na RTP admitiu que mais facilmente se entende com o partido de André Ventura do que com o Bloco de Esquerda.

Sobre o congresso, Abel Matos Santos não descarta um eventual acordo com algum dos adversários depois da votação das moções. “Eu acho que todos nós enfim admitimos confluências, […] isso é natural no congresso”, afirmou, em entrevista à Lusa. Apesar de salientar que não vai desistir da sua candidatura e que vai “até ao fim, até ao congresso”, o candidato apontou que vai a votos, “a não ser que alguma coisa surja de extraordinária”.

Sobre os adversários, Abel Matos Santos salientou que se opõe “frontalmente” ao antigo secretário-geral João Almeida porque “do ponto de vista político está absolutamente nas antípodas” daquilo que defende para o futuro do CDS. “Ele representa, de facto, tudo aquilo que nos trouxe até aqui”, declarou. Relativamente aos restantes três candidatos, o psicólogo clínico observou que “todos eles têm uma visão mais aproximada da realidade”, nomeadamente “ao nível do funcionamento do partido e da relação do partido com a sociedade”.

Se foi eleito líder dos centristas, Abel Matos Santos não apoiará uma recandidatura de Marcelo a Belém. “Entendo que Marcelo Rebelo de Sousa não deve ter o apoio do partido. Acho que ele não representou da forma adequada aquilo que são os anseios de um partido como o CDS”, afirmou Abel Matos Santos em entrevista à agência Lusa.

créditos: MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Carlos Meira

BI

34 anos.

Empresário dos setores florestal e construção civil.

Militante do CDS-PP desde os 19 anos.

Ex-presidente da concelhia do CDS-PP de Viana do Castelo.

Candidato do partido à Câmara da capital do Alto Minho nas eleições autárquicas de 2013.

Apresentará no congresso a moção "Pelo Futuro, Por Portugal".

Carlos Meira defende que a sua candidatura é a "única fora do círculo de Lisboa que quer lutar contra o sistema e a elite do partido”.

Por essa razão, acusa Assunção Cristas de se ter esquecido “completamente das bases do partido”.

“Entrou no partido a mando de Paulo Portas e que não tinha conhecimento de como funcionava o partido. Esqueceu-se completamente das concelhias, das distritais e com deslumbramento de Lisboa perdeu-se completamente do que deveria ser a governação e a gestão do próprio partido. Julgava que isto era uma gestão à moda da Revista Caras ou da VIP”, referiu à Agência Lusa.

No debate na RTP,  a intervenção do ex-presidente da concelhia de Viana do Castelo, destacou-se por ter usado a linguagem “do lavrador”: “O CDS quis transformar isto numa vaca leiteira, para dar de mamar a muita gente” e hoje o partido tem uma vaca “com mamite (uma infeção)”.

Na mesma intervenção defendeu também que o partido tem de se preocupar com o Chega e com a Iniciativa Liberal, porque perdeu eleitores para eles. Porém, “deve fazer um caminho próprio, procurando como reafirmar a sua matriz e identidade”, destacou à Lusa.

À agência de notícias nacional abordou também a possibilidade de coligações. “Posso confirmar que almoçamos, em Viana do Castelo, com o Francisco Rodrigues dos Santos e o Filipe Lobo d’Ávila. Fiz uma tentativa de nos unirmos os três para ganharmos ao João Almeida. Posso confirmar que poderemos, no congresso, tentar essa união para conseguirmos ganhar e lutarmos contra o sistema”.

Por enquanto, sozinho, suporta com “meios próprios” a sua campanha. “Vivo do meu trabalho e, por isso, é tudo pago com o meu ordenado. Não tenho apoios financeiros”.

Sem apoios conhecidos, dentro do partido, também não declara apoio a uma recandidatura de Marcelo.

“O CDS deve apoiar a candidatura que, no espaço à direita do PS, se venha a apresentar em melhores condições de vencer. É fundamental a eleição de um Presidente da República onde o centro, o centro-direita e a direita democrática se possam rever, mormente num momento em que a esquerda está a governar”, referiu