"Aquele caos que nós temos assistido nas urgências e que o Governo gosta de atribuir à gripe não é verdade que assim seja. Nós não temos este ano mais gripe do que em anos anteriores, pelo contrário, até temos menos atividade gripal, o que nós que temos é a fragilidade do sistema a ser exposta neste momento", defendeu Assunção Cristas.
No final de um encontro na Ordem dos Enfermeiros, depois de se ter reunido na segunda-feira com a Ordem dos Médicos, a líder centrista afirmou que "o Governo não diz a verdade aos portugueses e não assume a verdade perante os profissionais da área da saúde".
Confrontada com a posição das organizações representativas dos médicos, que anunciaram hoje uma greve de três dias caso o Ministério da Saúde não satisfaça o seu caderno reivindicativo, Assunção Cristas respondeu: "Não me espanta".
"Aquilo que ouvi na Ordem dos Médicos na segunda-feira e aquilo que houve aqui também por parte da Ordem dos Enfermeiros, é uma total ausência de diálogo construtivo, assente na realidade, assente e na verdade dos factos por parte do ministro da Saúde", sustentou.
Para Assunção Cristas, o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, "criou uma realidade, criou um conjunto de promessas e uma narrativa de que tudo vai muito bem e está a melhorar e isso, simplesmente, não corresponde à realidade vivida diariamente pelos profissionais de Saúde".
A líder do CDS disse ainda que "não corresponde à verdade" que haja mais médicos e enfermeiros no Sistema Nacional de Saúde, conforme disse o primeiro-ministro, António Costa, no debate quinzenal de há duas semanas, no parlamento.
"De resto, o senhor primeiro-ministro não disse que os planos de contingência que existem, para puderem funcionar têm de ter autorização para puder desbloquear contratação de enfermeiros e de médicos e que essas autorizações, por exemplo, a 31 de dezembro de 2017, não tinham chegado", defendeu.
Luís Barreira, vice-presidente da Ordem dos Enfermeiros, reiterou aos jornalistas a posição daquela organização de que há uma "carência estrutural de enfermeiros no Serviço Nacional de Saúde", que, com "2, 18 milhões de horas extraordinárias" realizadas em 2016, "estão exaustos".
"Isto dava para contratar, já de imediato, mil enfermeiros para o sistema", declarou.
Confrontado com a possibilidade de os enfermeiros convocarem protestos à semelhança dos médicos, Luís Barreira disse que a Ordem dos Enfermeiros está a "aguardar pela negociação que os sindicatos estão a ter com o Ministério".
Organizações representativas dos médicos decidiram hoje recorrer a uma greve de três dias caso o Ministério da Saúde não satisfaça o caderno reivindicativo destes profissionais até ao final de março.
"O ministro da Saúde [Adalberto Campos Fernandes] está a faltar a um compromisso que está a conduzir a uma degradação do Serviço Nacional de Saúde e dos cuidados primários e hospitalares", disse o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha.
As organizações reclamam a abertura de concursos para especialistas, a redução das horas extra nas urgências de 18 para 12, a diminuição do número de utentes em lista de espera de 1.900 para 1.550 e a diminuição das horas extraordinárias para 200 por ano.
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