A confirmar-se o valor avançado pelo fundador da agência de modelização Enki Research, Chuck Watson, os custos podem ficar entre os cinco maiores alguma vez registados nos EUA.
O resultado dos cálculos passou rapidamente de 30 mil milhões para 42 mil milhões de dólares, com as inundações a atingirem o Estado vizinho da Luisiana e as medidas tomadas para conterem o avanço das águas a revelarem-se insuficientes.
O essencial das operações está focado na retirada das populações e no socorro aos afetados, mas a questão do impacto sobre a economia do Texas, o segundo maior Estado dos EUA, em termos de superfície e população, vai tornar-se essencial.
“Se Harvey fosse uma tempestade como as outras, falaríamos de estragos em torno dos quatro mil milhões de dólares”, sublinhou Chuck Watson. “Seria trágico para as pessoas afetadas, mas não se falaria do impacto no conjunto da economia”, acrescentou.
Mas, com estragos quantificados em 42 mil milhões de dólares, Harvey fica ao nível dos furacões Ike, que atingiu o Texas e parte das Antilhas e Caraíbas em 2008, provocando estragos avaliados em 43 mil milhões de dólares, e Wilma, que devastou o norte dos EUA, em 2005, que destruiu o equivalente a 38 mil milhões de dólares. O valor mais alto deste tipo de destruição é o do Katrina (118 mil milhões de dólares), ocorrido em 2005.
O Texas representa cerca de 09% do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA, logo a seguir à Califórnia, e equivale a uma economia com dimensão superior à do Canadá ou da Coreia do Sul.
O banco Goldman Sachs estimou na segunda-feira que o Harvey pode retirar 0,2 pontos percentuais à taxa de crescimento da economia dos EUA no terceiro trimestre. “Mas o impacto […] no conjunto do segundo semestre ainda é incerto”, avançaram os analistas deste banco em nota sobre a conjuntura.
“Os efeitos negativos poderiam ser compensados pelo aumento dos investimentos das empresas e das atividades de construção, no período posterior ao do furacão”, acrescentaram.
A costa texana, no Golfo do México, tem cerca de um terço das capacidades de refinação dos EUA e importantes instalações, como as da ExxonMobil em Baytown, que tiveram de fechar.
Segundo um estudo do banco Barclays, 40% da capacidade de refinação dos EUA esteve hoje parada, ou em vias disso.
Além da energia, as consequências da catástrofe vão fazer-se sentir na indústria, designadamente na informática, defesa e agricultura, em particular na criação de gado.
Se, num primeiro momento, as destruições reduzem a atividade económica, são seguidas depois por uma intensificação da atividade associada à reconstrução das regiões devastadas.
Mas, segundo o Insurance Information Institute, apenas 12% dos proprietários nos EUA tinham seguros em 2016 contra prejuízos provocados pela água, taxa que atinge os 14% no sul do país.
“É uma situação verdadeiramente crítica, não apenas do ponto de vista meteorológico, mas também financeiro, para as pessoas”, disse à AFP uma porta-voz do Instituto, Loretta Worters, que sublinhou que sem ajuda do Governo as vítimas podem ficar arruinadas.
Quanto às companhias de seguros, a situação não é muito preocupante, considerou, uma vez que o setor tem um excedente de 700 mil milhões de dólares e pode assumir os custos das indemnizações.
Nos EUA, a cobertura para os prejuízos provocados pela água é diferente da cobertura multirriscos da habitação. Chuck Watson lembrou que, por os mapas de riscos ainda não terem sido atualizados, “dois terços das zonas inundadas não são consideradas como de risco”.
Para as pessoas mais pobres, sem poupanças, os rendimentos vão acabar imediatamente. Watson justificou que estas pessoas “são pagas à hora, não têm salário”, realçando que “as suas faturas se acumulam e as suas casas estão devastadas”. Previu que “é um verdadeiro desastre humanitário que se prepara”.
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