A contenda entre a juíza Paula Sá e o juiz desembargador Francisco Marcolino de Jesus começou em 2010, quando a primeira era juíza de primeira instância em Vila Nova de Famalicão, no distrito de Braga, e o segundo era inspetor judicial.

À data, Marcolino de Jesus foi encarregado de averiguar se Paula Sá tinha ou não chamado mentiroso a um colega responsável pela sua avaliação profissional. Durante a investigação, descobriu que a magistrada tinha inscrito para testemunhar a seu favor um colega que não podia ter ouvido a conversa, que decorreu por via telefónica, por, à hora em que a chamada ocorreu, este ter estado a presidir um julgamento.

Paula Sá acabou condenada pelo Conselho Superior da Magistratura, por violação do dever de honestidade, tendo sido suspensa temporariamente de funções e multada por comportamentos alegadamente incorretos.

Assim, começou uma guerra que duraria mais de uma década e que tem fim anunciado para esta sexta-feira, dia um de abril, no Supremo Tribunal de Justiça. Ali, vai-se decidir uma outra contenda, mais recente, que teve origem num comentário que Marcolino de Jesus fez num grupo de juízes no Facebook, onde chamou mentirosa e desonesta a Paula Sá. A dúvida que persiste é se o juiz responsável por uma das secções criminais do Tribunal da Relação do Porto foi mesmo o autor daquelas injúrias, uma vez que depois de ter assumido os insultos, mudou de ideias, passando a afirmar que tinha sido a sua mulher que acedeu ao seu computador e escreveu aquele comentário em seu nome. Uma história confirmada pela esposa do juiz desembargador.

A história adensa-se em pormenores revelados pelo Público. Numa das muitas peças processuais da contenda, o desembargador terá especulado sobre a origem de uma das gravidezes da juíza e também sobre os seus “maridos”, mesmo que nenhuma destas informações esteja diretamente ligadas ao litígio em causa. No entanto, explica o facto de o juiz de 66 anos estar a ser julgado por difamação.

A defesa de Marcolino de Jesus é o título deste artigo. O desembargador diz ter recebido uma carta anónima, que afirma ter sido escrita por Paula Sá, na qual é acusado de tráfico de diamantes e de armas, e é tratado por “gajo”, uma expressão que garante ser sinónimo de "corno" na sua região. Defende ainda que os rumores sobre a infidelidade da juíza foram lançados pela própria em conversas de corredor no Tribunal de Famalicão e que eram do conhecimento da maioria dos funcionários daquela instituição.

De acordo com o Público, se depender do Ministério Público, a sorte não vai sorrir ao juiz desembargador, uma vez que o procurador Duarte Silva pediu que este seja condenado a uma pena suspensa, justificando a decisão com o facto de o grupo do Facebook, onde foram publicadas as ofensas, ter quase mil membro e de não ter encontrado "em lado nenhum que o significado de ‘gajo’ seja ‘corno’, nem sequer em Trás-os-Montes”, afirmando que a atitude do arguido era inconciliável com a condição de magistrado.

No entanto, o que acabaria por marcar aquela sessão, a última antes de ser proferida a sentença, foram as palavras de Marcolino de Jesus, que pediu para intervir, após o seu advogado ter apresentado a sua defesa, para sublinhar que qualquer pessoa vai aos arames “se lhe chamarem traficante e cabrão”.

De acordo com as transcrições do jornal Público, o juiz terá ainda dito: “Eu nunca chamei puta à senhora juíza nem corno ao outro”.