Nessa eleição, o PSD perdeu deputados – passou de 79 para 77 -, o CDS-PP deixou de ter representação parlamentar pela primeira vez na sua história (tinha cinco), enquanto Chega e IL se reforçaram, passando de deputados únicos para 12 e oito parlamentares, respetivamente.

PCP e BE, que somavam na anterior legislatura 31 deputados, caíram para um total de 11 (seis comunistas e cinco bloquistas), enquanto o PAN passou de um grupo parlamentar de quatro elementos para uma deputada única e o Livre manteve um deputado eleito (na anterior legislatura Joacine Katar Moreira tinha passado a não inscrita por divergências internas).

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A primeira ‘baixa’ nas lideranças partidárias ocorreu logo na noite eleitoral: Francisco Rodrigues dos Santos assumiu a derrota do CDS-PP em toda a linha e anunciou a demissão. Em abril, viria a ser substituído na presidência dos democratas-cristãos pelo eurodeputado Nuno Melo.

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No PSD, Rui Rio também anunciaria dias depois das legislativas a convocação de diretas antecipadas e a sua não recandidatura por ter falhado os objetivos eleitorais, num processo longo e que só ficaria resolvido em Congresso em julho, com a entronização de Luís Montenegro, que em maio tinha vencido em eleições diretas Jorge Moreira da Silva.

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No PCP, foi sendo questionado durante meses sobre a sua saída, mas foi de surpresa que, em novembro, foi anunciado o nome de Paulo Raimundo como novo secretário-geral, mudança justificada não pelos resultados mas por “uma avaliação própria” do líder comunista de 75 anos, “sobre a sua situação de saúde e as exigências correspondentes às responsabilidades que assume”.

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A troca de líderes mais inesperada aconteceu no passado fim de semana, na Iniciativa Liberal: Rui Rocha foi eleito presidente, numa convenção dividida com a adversária Carla Castro, depois de no final de outubro João Cotrim Figueiredo ter anunciado que não se recandidataria ao cargo nas eleições internas antecipadas um ano por entender não ser a pessoa ideal para presidir ao partido que agora precisava “de uma postura distinta” para continuar a crescer.

No PAN, os maus resultados nas legislativas provocaram alguma turbulência interna, e chegou a estar em marcha uma recolha de assinaturas para antecipar o Congresso de junho de 2023, tendo sido prometida então uma candidatura alternativa à de Inês Sousa Real.

O BE também terá Convenção este ano – a última foi em maio de 2021 -, mas figuras destacadas do Bloco, como o líder parlamentar Pedro Filipe Soares, já afirmaram que se a coordenadora Catarina Martins quiser continuar “terá a confiança do partido”.

No Chega, que esteve reunido em Congresso no passado fim de semana, a liderança de André Ventura não foi desafiada desde 2019, embora vários críticos internos tenham sido afastados da direção e até expulsos do partido.

Numa altura em que as sondagens parecem apontar para um crescimento do centro-direita no seu conjunto, uma das grandes incógnitas será a possibilidade de entendimentos eleitorais entre PSD, IL e Chega.

Luís Montenegro tem dito que esta não é altura de responder a estas questões, deixando apenas garantias de que o PSD nunca violará os seus princípios, enquanto o novo presidente da IL, Rui Rocha, tem sido categórico a afastar futuros entendimentos com o partido de André Ventura, garantindo até que não repetirá acordos do tipo do alcançado nos Açores.

Nessa Região Autónoma, em 2020 o PS ganhou sem maioria absoluta e PSD, CDS-PP e PPM formaram uma coligação de Governo, que conta com o apoio parlamentar do Chega e da IL.

Já Ventura, em entrevista à Lusa, rejeitou o cenário de uma “geringonça à direita” (apenas de apoio parlamentar), dizendo que o partido deverá ter um “papel preponderante” num eventual Governo com o PSD.

O CDS-PP terá como grande desafio voltar a ter representação parlamentar, com um teste já nas europeias do próximo ano para manter o único deputado que mantém atualmente no Parlamento Europeu.

À esquerda, acabou definitivamente o tempo da ‘geringonça’ e comunistas e bloquistas votaram contra os dois primeiros Orçamentos do Estado dos socialistas, que apenas têm contado com a abstenção dos deputados únicos de PAN e Livre.

O xadrez eleitoral começará a mover-se já este ano, com regionais na Madeira (a que PSD e CDS-PP concorrerão em coligação pré-eleitoral para repetir a que têm atualmente no Governo), prosseguindo em 2024 com europeias e regionais dos Açores e, no ano seguinte, com autárquicas.

Se não houver antecipações dos calendários eleitorais, os portugueses voltarão a ir às urnas por duas vezes em 2026, logo no início do ano para escolher o próximo Presidente da República e, após o verão, para as eleições legislativas.