Concluído o programa de acolhimento liderado pela fundação Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional (ADFP) de Miranda do Corvo, em parceria com o município de Penela, que durante 10 meses disponibilizou as habitações, o jovem africano encontrou trabalho e está por sua conta e risco.
Desde agosto que trabalha numa superfície comercial de Penela, onde continua a residir, para sustentar a família que veio com ele: a avó, de 73 anos, e dois irmãos gémeos mais novos, de 13 anos, que frequentam o 7.º ano de escolaridade.
“Não tive problemas de integração. Foi bom e rápido. As pessoas aqui são simpáticas connosco, embora tenha sido mais fácil no Egito”, diz Belal Ibrahim à agência Lusa, salientando que, em Portugal, encontrou dificuldades na língua e na cultura.
No Egito, onde concluiu o primeiro ano da licenciatura de Geografia na Universidade do Cairo, a maioria das pessoas “são árabes e muçulmanos” como ele e falam “a mesma língua”, diz, enquanto em Portugal se considera que uns são europeus e os outros africanos.
Belal e os seus familiares integraram o primeiro grupo (20 pessoas) de quatro famílias (três sírias e uma sudanesa) de refugiados acolhidos em Portugal, em novembro de 2015, na vila de Penela, com cerca de 3.300 habitantes, a 20 quilómetros da cidade universitária de Coimbra.
Saíram do Darfur, no Sudão, em 2003, para fugir ao conflito étnico-cultural que já matou cerca de 300 mil pessoas, de acordo com estimativas da ONU, e estiveram oito anos no vizinho Egito antes de chegar a Penela.
“Agora não há mais guerra como no passado, só numa parte do Darfur. Penso um dia voltar para viver lá”, diz o jovem sudanês, embora sem previsões para concretizar o regresso ao país originário.
Para já, frisa, “é importante trabalhar e ganhar dinheiro”.
“Vou continuar a estudar, mas é um pouco difícil para mim por causa da língua e de estar a trabalhar. Também quero que os meus irmãos continuem a estudar aqui e a aprender coisas e só depois voltamos para lá”, prevê Belal, que ainda tem no Sudão a mãe e mais três irmãos.
Os tempos livres em Penela são passados a jogar futebol com os amigos ou a aprender português, embora já se consiga exprimir com alguma clareza, e com deslocações à mesquita de Coimbra, às sextas-feiras à tarde, para oração.
Os atentados terroristas cometidos nos últimos anos por ‘jihadistas’ islâmicos na Europa não passam ao lado da conversa com Belal, que os recrimina.
“Sou muçulmano e a nossa religião não diz que temos de fazer isto [atentados terroristas] e também acho que essas pessoas não são muçulmanas nem árabes”, considera o jovem sudanês.
Das quatro famílias de refugiados que inicialmente foram para Penela, três continuam a residir naquela vila, onde encontraram condições para se manter, de forma autónoma, e uma transferiu-se para Seia, no distrito da Guarda.
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