Em plena contagem decrescente para o fim de 2019, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) alerta que as crianças continuam a pagar um “preço mortal” à medida que os conflitos armados avançam em todo o mundo e que o ano que está prestes a acabar conclui uma “década mortífera” que testemunhou “uma média de 45 violações graves por dia contra crianças”.
Segundo os dados da UNICEF, os ataques contra crianças aumentaram quase três vezes desde 2010.
A agência da ONU identifica como violações graves seis situações específicas: assassínio e mutilação de crianças; recrutamento e utilização de crianças por forças e grupos armados; violência sexual contra crianças; ataques contra escolas ou hospitais; rapto de crianças; e negação do acesso humanitário às crianças.
Num comunicado divulgado hoje a partir de Nova Iorque, a organização frisa que, desde a adoção da Convenção sobre os Direitos da Criança (em 1989), nunca houve tantos países em conflito, com dezenas de focos armados violentos que matam, mutilam e forçam as crianças a abandonarem as respetivas casas.
“Em todo o mundo, os conflitos estão a durar mais tempo, causando mais derramamento de sangue e ceifando mais vidas de crianças”, afirma a diretora executiva da UNICEF, Henrietta Forre.
“Os ataques contra crianças continuam sem abrandar, enquanto as partes em conflito desrespeitam uma das mais básicas regras em cenário de guerra: a proteção das crianças. Por cada ato de violência contra crianças que chegam aos jornais e geram ondas de indignação, há muitos mais que não são reportados”, frisa a representante.
Já em 2018, a UNICEF tinha denunciado a situação de fragilidade em que viviam milhões de menores afetados por conflitos em todo o mundo, tendo criticado na altura os líderes mundiais por não serem capazes de evitar os atos de violência cometidos contra essas crianças e de falharem na responsabilização dos autores de tais agressões.
De acordo com a UNICEF, em 2018, foram registadas mais de 24 mil violações graves contra crianças, o que já representava então “um número duas vezes e meio superior ao registado em 2010″.
Ainda em relação a 2018, os dados recolhidos apontam para mais de 12 mil crianças mortas ou mutiladas.
“O uso continuado e generalizado de ataques aéreos e de armas explosivas (como minas terrestres, morteiros, dispositivos explosivos improvisados, ataques com mísseis, armas de fragmentação e artilharia) é a principal causa de vítimas infantis em conflitos armados”, indica a organização.
Segundo afirmou hoje a UNICEF, este cenário não se alterou em 2019, denunciando que, só durante os primeiros seis meses do ano, foram contabilizadas mais de 10 mil violações contra crianças.
A agência da ONU admite, no entanto, que os números reais devem ser “provavelmente muito maiores”.
Da Síria ao Iémen, passando também pelo Iraque, Afeganistão, Burkina Faso ou pelo leste da Ucrânia, a UNICEF relata várias situações que ao longo dos 12 meses de 2019 afetaram violentamente as crianças e que fizeram vítimas entre os mais jovens.
“Num único fim de semana em agosto, 44 civis foram mortos devido a ataques aéreos no noroeste da Síria, incluindo 16 crianças e 12 mulheres”, recorda a agência da ONU, lembrando ainda que, no início do mês de dezembro, “cinco crianças foram mortas quando homens armados abriram fogo no interior de um local de culto no Burkina Faso”.
Perante tal panorama, a agência da ONU pede a todas as fações envolvidas nos conflitos para que “cumpram as respetivas obrigações ao abrigo do Direito Internacional” e “coloquem um fim imediato às violações contra crianças e aos ataques contra infraestruturas civis, incluindo escolas, hospitais ou infraestruturas hídricas”.
“A UNICEF apela também aos Estados com influência sobre as partes em conflito que utilizem essa ascendência para protegerem as crianças”, conclui o comunicado da organização internacional.
Criada em 1946, a UNICEF está presente em 190 países e territórios, prestando no terreno serviços de saúde, nutrição, educação e proteção às crianças mais vulneráveis.
A Convenção sobre os Direitos da Criança foi adotada em 1989 e tornou-se na primeira convenção internacional vinculativa a consagrar os direitos humanos de todas as crianças.
O documento especifica que todas as crianças, em qualquer parte do mundo, têm o direito a sobreviver, a desenvolver-se e a serem protegidas de todas as formas de violência.
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