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A sua missão: proteger a democracia para as gerações futuras. A sua marca registada: um gorro de lã, feito quase sempre à mão, que permite identificá-las em manifestações que reuniram centenas de milhares de pessoas nas últimas semanas.
Os protestos foram convocados contra os possíveis resultados recorde que o partido de extrema-direita AfD poderia obter nas eleições antecipadas de 23 de fevereiro.
As "Omas gegen Rechts", no entanto, não aguardaram a reta final para as eleições para se mobilizar. "Ser velho não significa que se tenha que ficar calado", repetem há sete anos.
Aos 60, 70 e até 90 anos, estas ativistas, que cresceram nas décadas do pós-guerra marcadas pela memória do Holocausto, sentem que têm um dever.
"Tive a sorte de viver em paz e democracia durante 58 anos" e "é isso que quero preservar para os meus três netos", diz Gabi Heller, que lidera um grupo de "Omas" em Nuremberg, cidade grande do sul da Baviera.
"Culpar os fluxos migratórios por todos os males é uma solução fácil, mas é uma parvoíce completa", acrescenta, com uma bandeira da organização pendurada no ombro.
"Demasiado ingénuos"
Eva-Maria Singer aderiu ao movimento há três anos. "Fomos demasiado ingénuos", diz esta mulher de 73 anos num ato em Nuremberg.
"A minha geração, a de 68, que foi às ruas contra a velha turma nazi e fascista, pensava que a tinha erradicado, mas não é verdade, voltou a crescer", afirma.
O partido de extrema-direita AfD poderia obter o segundo lugar nas eleições legislativas, embora as possibilidades de chegar ao poder sejam nulas pela falta de aliados.
O movimento das "Omas" surgiu em 2018 na Alemanha, seguindo o modelo de iniciativas similares na Áustria.
Naquela ocasião, o AfD, fundado em 2013, tinha acabado de chegar ao Parlamento alemão, o que significou uma verdadeira ruptura na vida política do país.
O grupo cresceu ao longo dos anos e agora conta com uma centena de ramificações locais em toda a Alemanha.
"No ano passado, organizámos ou participámos em mais de 80 manifestações", muitas delas contra o antissemitismo, explica Maja, uma ativista de 72 anos, entrevistada em Berlim.
O seu compromisso tem raízes muito pessoais. "A minha avó teve que deixar a Alemanha com meu pai" por ser judia, conta.
Alguns de seus netos têm origens "no Oriente Médio" e "não quero que tenham que ir embora da Alemanha, por isso uni-me às Omas", confessa.
Inspiração
Um primeiro congresso das "Omas" foi celebrado no último verão boreal na Turíngia, no centro da Alemanha. Nas últimas eleições regionais, realizadas nesta região, o AfD ficou em primeiro lugar.
"Nós surpreendemo-nos pelo tratamento que recebemos", diz Gabi Heller. Em Nuremberg, "ainda não é assim, posso caminhar pela rua com o cartaz das 'Omas' sem sentir medo".
Para Nicole Büttner, uma "jovem" de 46 anos que se manifestou com as avós em Berlim, no início de fevereiro, o engajamento das mais velhas é uma inspiração.
"São pessoas idosas, algumas provavelmente viveram a guerra", assinala.
"Mobilizam-se contra o racismo, a discriminação e a misantropia. É muito importante e muito encorajador", afirma.
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