Para o deputado do PCP Duarte Alves, a audição mostrou que o Banco de Portugal não se preocupava com a política de concessão de crédito na banca, em particular na Caixa Geral de Depósitos (CGD), o que tem custos: "Hoje estamos a pagar os custos dessa política, dessa concessão de créditos", afirmou.

Na comissão parlamentar de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CDG), na Assembleia da República, em Lisboa, o deputado comunista criticou Vítor Constâncio tanto na atuação perante a CGD, como recordando a atuação no caso BPN, nacionalizado quando era governador após a descoberta de graves irregularidades.

“No BPN passaram à frente e não deu por isso porque era ilegal e na Caixa Geral de Depósitos não deu por isso porque era legal”, declarou, considerando que isso revela a "inutilidade da supervisão", que está “construída com base na confiança”.

A mesma expressão foi usada pela deputada do BE Mariana Mortágua, notando que a forma como a supervisão é levada a cabo a “coloca numa grande inutilidade”.

“O que cabe ao Banco de Portugal não é verificar rácios de capital, tem capacidade de ir além dos dados públicos”, afirmou a bloquista.

Para Cecília Meireles, do CDS-PP, a visão hoje transmitida sobre a supervisão significa mesmo que esta podia ser feita por um robô: “Se a supervisão se limita a verificar o cumprimento das regras de acordo com a informação que os próprios bancos reportam, um computador sofisticado fará isto de forma mais eficaz e célere”.

Pelo PS, João Paulo Correia apontou que se “a supervisão não fez o seu papel, que era ver e proteger os contribuintes”, a pergunta que se faz é quem protege os contribuintes.

Duarte Pacheco, do PSD, considerou, em declarações aos jornalistas, que esta audição teve um “resultado histórico”, quando “reconheceu que existiram falhas na CGD” por não cumprimento de regras internas, nomeadamente por decisões que contrariaram pareceres da direção de risco, e que “existiram falhas de supervisão”.

O socialista e ex-governador do Banco de Portugal esteve hoje a ser ouvido durante mais de cinco horas na comissão parlamentar de inquérito à CGD, tendo admitido que "houve falhas em relação a alguns aspetos da supervisão", mas da instituição, não pessoais. A sua deslocação ao parlamento aconteceu sete anos depois de ter prestado esclarecimentos numa comissão sobre o BPN.

Sobre a inutilidade da supervisão, Vítor Constâncio, ex-secretário-geral do Partido Socialista (entre 1986 e 1989) disse recusar “a ideia de que há inutilidade”, afirmando que não podendo prevenir ou reverter decisões de crédito, uma vez que isso é política comercial de cada banco, é à supervisão que cabe a “reposição dos rácios de capital de modo a proteger a robustez” dos bancos, nomeadamente face a perdas com créditos.

Na audição, Constâncio declarou que não leu o relatório da EY, o que levou a deputada do PSD Conceição Ruão a entregar-lhe uma cópia em papel.

Ainda nesta audição, Constâncio foi questionado sobre a avaliação que faz sobre os auditores externos, após os sucessivos escândalos da banca, tendo dito que “não é muito positiva” e que o levou mesmo a propor uma comissão de análise, que foi criada.

Sobre o negócio da CGD em Espanha, questionado por João Paulo Correia do PS, que considerou que foram passados para ali créditos problemáticos numa estratégia para o governador “não ver”, Constâncio respondeu que essa mudança de balanço “não lhes tira toxicidade” e os “prejuízos latentes”, uma vez que continuavam no grupo.