Foi no passado dia 17, domingo, perto das 18:30, que Eli, diminutivo de Elisama, saiu de casa em direção ao aeroporto da Portela para apanhar um voo com destino a Paris (Orly), onde planeava procurar emprego. Ficou de ligar assim que chegasse, mas nunca mais a família soube dela. O telemóvel está inacessível.
Até ao momento, a família apenas sabe que Elisama Azevedo Pinto de Abreu, 25 anos, não chegou a embarcar, informação confirmada pela companhia aérea, e que foi vista pela última vez em Algés, por volta da 19:00, por uma antiga colega de escola, a caminho da estação de autocarros/comboios.
Na manhã de dia 20, quarta-feira, a mãe, Olinda, decidiu fazer uma participação do desaparecimento na PSP de Carnaxide (83ª Esquadra), que garante que o caso já foi difundido pelas restantes unidades, embora o processo não tenha ainda chegado ainda à Política Judiciária.
A Polícia Judiciária, por seu lado, afirma que o caso ainda não foi reportado pela PSP, pelo que não pode avançar com quaisquer diligências, conta Cleide, a irmã mais velha (28 anos) que vive e trabalha na Alemanha e teve de vir de repente a Portugal para "tentar ajudar" a esclarecer o assunto. A família desespera.
Passou quase uma semana desde a participação do desaparecimento às autoridades, mas "pouco ou nada foi adiantado", queixa-se a família. A justificação apontada pela PSP, dizem, "é o facto de não haver indícios de crime".
"Saí do país com o objetivo de um dia voltar a Portugal, mas quando vemos como as coisas são tratadas, percebemos que será difícil. Fui à Polícia Judiciária e fiquei incrédula. Sinto-me de mãos atadas", conta Cleide. "Existe um piquete, mas nem me deixaram entrar na sala para prestar depoimento. Dizem que a participação foi feita na PSP por isso têm de esperar, e que quem decide se a investigação avança ou não é o Ministério Público.
Mas o cidadão comum "nem sabe como deve proceder e não conhece os termos legais", explica a irmã.
O SAPO24 contactou a PSP e a Polícia Judiciária na passada terça-feira, por telefone e por email, mas até ao momento não obteve qualquer esclarecimento de nenhuma das instituições, a não ser a confirmação de que "não há indícios de crime", pelo que o caso pode ser mais demorado, embora assumam "que também pode haver crime".
Sem investigação aberta, o caso encontra-se num impasse e a família de continua à procura de respostas. Por exemplo, o computador de Eli, que ficou para trás - "porque está partido" -, está protegido com uma password e sem mandado judicial não é possível aceder a informações eventualmente ali guardadas. Também ninguém sabe se a conta bancária continua ou não a ser movimentada ou com quem e de onde comunicou por telemóvel pela última vez. Apesar de a estação de autocarros/comboios ter um circuito fechado de vigilância, as imagens também ainda não foram analisadas. "O sistema não está certo", diz Cleide, quer apenas quer saber da irmã.
Licenciada em Relações Internacionais em 2016 pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa, e com uma pós-graduação em Indústrias Criativas e Culturais, concluída em 2020, pelo Instituto Politécnico de Lisboa, fluente em quatro línguas, Eli planeava mudar-se para Paris para procurar emprego na sua área.
De acordo com os últimos dados oficiais disponíveis, desaparecem cerca de 4000 pessoas por ano em Portugal. Metade dos registos não chega ao Ministério Público e muitos, como nos confirma a Polícia Judiciária, "são de pessoas que não querem ser encontradas, e estão no seu direito".
Na angústia de não ter um desfecho, Cleide regressou ontem à noite à Alemanha "de coração nas mãos" e a imaginar o que poderá ter sucedido à irmã, que, mais de uma semana depois, "as autoridades continuam sem procurar". "Tenho a certeza de que vou ter de regressar a Portugal rapidamente", diz.
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