“A vindima começou muito cedo, na primeira semana de agosto, é talvez o ano em que começou mais cedo uma vez que a seca e o tempo quente aceleraram o processo de maturação das uvas”, afirmou à agência Lusa Francisco Toscano Rico, presidente da Comissão Vitivinícola Regional (CVR) de Lisboa e Vale do Tejo.
“Cada vez mais é difícil programar as vindimas por força das alterações climáticas, o que é um esforço imenso”, acrescentou, notando que a coincidência das vindimas com a colheita de outras frutas faz escassear a mão-de-obra para estes trabalhos sazonais.
Além disso, Francisco Toscano Rico disse que a seca está a ter um “impacto muito grande nas videiras”, tendo sido registados na região casos de “escaldão da uva”.
“Com a seca, o bago acabou por não encher tanto”, explicou.
Contudo, afirmou que “a proximidade ao Atlântico, com o clima mais fresco e verão mais ameno, protege as videiras [da região] das ondas de calor”.
Ainda assim, para o presidente da CVR de Lisboa, é necessário equacionar soluções para o armazenamento e distribuição de água na região para o regadio futuro da vinha na região.
Nestas vindimas, a CVR espera um aumento de 5% na produção face às anteriores, com mais cinco milhões de litros, num total de cerca de 100 milhões de litros e 66 milhões de garrafas.
“As vindimas estão a decorrer a bom ritmo, primeiro com a colheita das uvas brancas e agora, a partir de setembro, com as tintas e espera-se um aumento e boa qualidade da produção”, apontou Francisco Toscano Rico.
Todavia, estimou quebras na ordem dos 30% face a 2018 devido às alterações climáticas.
Em 2022, foram vendidas 66 milhões de garrafas e faturados 150 milhões de euros em vinho certificado, estimou a CVR.
“Foi o melhor ano de sempre”, sublinhou o seu presidente, exemplificando com a subida de 100% nas vendas para o canal Horeca.
Daquele montante, 85 milhões de euros foram alcançados nas exportações de cerca de 80% da produção.
Os principais mercados externos são os Estados Unidos da América, Reino Unido, Canadá, Brasil, Polónia, Alemanha, Suécia e Finlândia, entre mais de uma centena de países diferentes, com Israel, Irlanda e Correia do Sul entre os emergentes.
Trata-se da região vitivinícola do país que mais exporta face ao volume que certifica, representando 20% da quota nacional.
Apesar da tendência mundial de retração ao consumo de vinho, os Vinhos de Lisboa continuavam a crescer 3% em volume nas vendas até junho e com as exportações a aumentar 2,5% em volume e 6,5% em valor.
A região vitivinícola representa dois mil produtores e uma área de 10 mil hectares de vinha e possui oito vinhos (Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Óbidos, Encostas D'Aire, Bucelas, Carcavelos, Colares) e uma aguardente (Lourinhã) com Denominação de Origem e dois vinhos regionais de Lisboa (sendo um deles o único leve do país).
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