A iniciativa partiu de um grupo de cidadãos organizado através da rede social Facebook no grupo “Em acção contra o Acordo-Ortográfico” e destinou-se a formar um cordão humano entre a ACL e o Tribunal Constitucional, que distam cerca de 270 metros.

A pouca adesão (cerca de 70 pessoas) não permitiu fazer o cordão humano, tendo os presentes optado por caminhar entre as duas instituições. Primeiro na ACL, para assinalar recentes iniciativas da instituição científica de propor a revisão do AO90, e depois no Tribunal, porque a questão remete também para, consideram, inconstitucionalidades.

“A língua, além do mais, é uma garantia constitucional de todos os cidadãos. Há aqui um atropelo que o poder político vem ignorando olimpicamente. À esmagadora maioria das pessoas repugna-lhe a língua delapidada tal como a vemos escrita”, disse à Lusa uma das organizadoras da iniciativa, Madalena Homem Cardoso.

É que com o AO90, acrescentou, “está a ser estatalmente imposto a uma população a degradação do seu património cultural” pelo que todos os que o seguem são “cúmplices de um crime patrimonial”.

No entender da organizadora, a iniciativa foi “um recado ao poder político” porque tem havido uma “escandalosa inversão de papéis”: são os académicos, os especialistas da língua, que pedem para ser recebidos na Assembleia da República para alertar para “as sequelas do AO90″, e o poder político não quer ouvir a ACL, quando a ACL é o órgão de consulta dos órgãos de soberania em matéria de língua.

Considerando que o AO90 é mau, presta um mau serviço e induz as crianças em erros, Madalena Homem Cardoso disse que é inevitável acabar com o AO90, até porque é insustentável e “uma verdadeira lástima” a nível científico.

Entre os críticos do AO90 também o fadista João Braga, que resumiu assim os objetivos da iniciativa: “aplaudir as posições da ACL e esfrangalhar esta aberração que impuseram aos portugueses”.

E depois outros mais, poucos jovens, poucas palavras de ordem, uma bandeira de Portugal e um cartaz com uma fotografia do ministro dos Negócios Estrangeiros e a frase “Santos Silva és bestial, vai para a Guiné Equatorial”. Na semana passada o ministro não comentou as propostas de alteração feitas pela ACL afirmando que não é o momento para se modificar o Acordo.

“Indignados com o facto de a Língua Portuguesa ser entendida pelo Governo como um ´negócio estrangeiro`, entendem que o ministro veio fazer-se arauto de um ´facto consumado´ para defender um tratado internacional que por não ter sido ratificado por todas as partes em quase três décadas deveria ser alvo de uma declaração de caducidade”, dizem os organizadores do “cordão” num comunicado.