Sete das estruturas que viram as suas propostas receber atribuição de financiamento, nos resultados provisórios conhecidos na semana passada, mostraram-se solidárias com as tomadas de posição das demais entidades nos últimos dias, e realçaram à Lusa a necessidade de melhorar o que foi desenvolvido, tendo várias delas afastado que as melhorias possam passar pela saída dos responsáveis pela tutela.

“Muito dificilmente, com a dotação orçamental que existia, qualquer modelo de apoio às artes sobreviveria. O dinheiro era de facto muito pouco, sobretudo para a transformação que se propunham fazer”, disse à Lusa Jorge Andrade, da Mala Voadora, a companhia mais bem pontuada, segundo os resultados provisórios do apoio sustentado da Direção-Geral das Artes (DGArtes), na área do Teatro.

Por seu lado, Pedro Penim, do Teatro Praga, considera que o novo modelo de apoio às artes tem “vantagens evidentes”, sobretudo por dar “grande ênfase à empregabilidade e à sustentabilidade da empregabilidade”, uma vez que “obriga” as estruturas a terem contratos com os trabalhadores, “o que não acontecia até agora”.

Já a diretora artística das Comédias do Minho, Magda Henriques, sublinhou a necessidade de rever o modelo de apoio, antes de acrescentar que é preciso mais do que dinheiro para resolver o problema: “É preciso um pensamento”, leia-se, uma política cultural que acompanhe o aumento de verbas disponíveis.

No mesmo sentido vão as declarações de João Pedro Vaz, d’A Oficina, para quem o “subfinanciamento tem de ser atacado”, tratando-se os reforços de financiamento anunciados pelo Governo de “paliativos” que “não são de facto estruturantes”.

“Fica esta ideia de tentar resolver a contestação quando, se estes valores estavam disponíveis, porque é que não surgiram antes?”, questionou o responsável da estrutura de Guimarães, apoiada através da área de Cruzamentos Disciplinares.

Também Bruno Martins, do Teatro da Didascália, concorda neste ponto: “Parece-me haver, de alguma forma, uma postura de atirar dinheiro para cima da mesa, numa tentativa de uma recusa efetiva de diálogo”.

Jorge Silva Melo, dos Artistas Unidos, segue no mesmo sentido quando declara que “o que se está a passar é perigoso”, considerando “indispensável” que se comece já a rever o modelo que apoio, “que já mostrou os disparates que contém”. “Esperamos um primeiro-ministro ágil e um ministro da Cultura rápido a sarar as feridas”, realçou.

Um ponto para o qual concorrem várias das argumentações ouvidas pela Lusa é o de que há projetos demasiado diferentes a serem avaliados por um mesmo júri na mesma categoria, como por exemplo festivais (do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica [FITEI] ao Festival Internacional de Marionetas do Porto) a par de companhias.

Daí o diretor artístico da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve, Luís Vicente, criticar o processo concursal por “meter tudo no mesmo saco”, sem que se possa “pôr o Teatro Experimental de Cascais, o Festival de Almada ou o FITEI no mesmo saco em que se põe a ACTA”.

“Aceito que a ACTA tenha que cumprir determinados pressupostos em relação a um processo concursal. Agora não aceito que estas entidades que referi estejam sujeitos aos mesmos pressupostos. Na Europa, em termos de festivais de teatro, temos Avignon [França], Edimburgo [Escócia] e depois Almada - é um património que nos diz respeito a todos e não pode ser encaixado exatamente no mesmo programa que a ACTA, ainda que nós sejamos prejudicados, e este prejudicado é entre aspas”, argumentou o responsável da companhia sediada em Faro, à qual foi atribuído 1,1 milhões de euros até 2021, menos 472 mil do que o solicitado.

Sobre a eventual saída dos membros da tutela à frente do processo, João Pedro Vaz afasta a bondade da ideia: “Não acho que a saída do secretário de Estado da Cultura ou do ministro possam resolver problemas que não são ou não têm a ver com eles, mas com uma estratégia de fundo que é orçamental. Demos as voltas que dermos ao texto e ao concurso, é impossível dar conta de uma realidade tão profunda e diversificada seja quantitativa ou qualitativamente com concursos neste valor”.

Jorge Andrade afirma que não se podem “pedir demissões” dentro do Ministério da Cultura - “isso é um absurdo” -, e também “não deve ser, de todo, posto em causa o modelo de concurso”, até porque o setor já “passou por muito, para que este seja feito”.

“Custa-me muito a falta de respeito com que este júri tem sido tratado. Nós, quer queiramos quer não, só conhecemos a nossa candidatura. (...) Não conhecemos as outras candidaturas para começar a maltratar um júri que se dispõe a fazer uma tarefa bastante complicada. Era bastante mais fácil o júri ser conservador e continuar com uma mesma atitude, iria levantar muito menos problemas”, acrescentou.