Angola mantém o dia de 08 de março como feriado nacional, dia internacional da mulher, mas até 2011 comemorava ainda o dia da mulher angolana, a 02 de março, também como feriado nacional, que passou então a ser data de celebração nacional e, como tal, de trabalho normal. Com ou sem feriado, para estas ‘zungueiras’, a generalidade com crianças às costas e por norma o único sustento da casa, o cenário não muda muito.
“É um mês e dia de alegria para todas as mulheres, mas com as nossas corridas aqui diárias dos nossos “maridos” fiscais, vamos comemorar como”, questiona Antónia Chitula, ‘zungueira’ em Luanda, de 28 anos, cansada da perseguição das autoridades, que tentam travar a venda desordenada nas ruas.
Mãe de três crianças e dona de casa, conta à Lusa que com o rendimento diário, que varia entre os 2.000 a 3.000 kwanzas (12 a 17 euros), “pelo menos os filhos em casa já não passam a fome”.
“O negócio vai andando normalmente, o meu esposo sempre que pode ajuda nas contas de casa e as vendas aqui é só mesmo para remediar”, desabafa.
Num outro ponto da capital angolana, Conceição Manuel Domingos vende na rua água e refrigerantes, que carrega à cabeça durante quilómetros.
No dia da mulher, e apesar de o movimento ser mais reduzido devido ao feriado, esta ‘zungueira’ de 33 anos faz-se ao trabalho normalmente e praticamente com um único desejo: que sejam os fiscais da administração municipal a não trabalhar hoje.
“Na rua agora não conseguimos vender à vontade porque quando eles [os fiscais] levam o negócio [produto que vendem], temos de pagar 2.000 a 3.000 kwanzas só para libertarem. Assim está mal”, conta, alheia às comemorações deste dia.
Com três filhos e o marido desempregado para sustentar, Conceição Manuel Domingos revela que sai de casa antes das 08:00 para regressar apenas ao final do dia, com cerca de 10.000 kwanzas (57 euros) de rendimento.
“A minha comemoração [do dia da mulher] é estar aqui mesmo, vendendo o meu negócio”, explicou.
Da mesma forma, Antónia Ramos, de 56 anos, confeciona comida em casa às primeiras horas da manhã, para depois a vender pelas ruas de Luanda. Já lá vão 10 anos na ‘zunga’, atividade em que quase não há feriados ou fins de semana, desde que haja clientes, de preferência sem fiscais.
“De vez em quando tenho de deitar fora a comida que sobra e fica difícil levar um pão para casa, porque as corridas com os fiscais atrapalham todo o nosso negócio”, conta esta Antónia Ramos, solteira e com seis filhos ao cargo.
Apesar das comemorações do dia da mulher, que em Angola se prolongam, além do feriado, por todo o mês de março, admite que a data pouco significado prático não tem.
“Não vejo importância do mês, porque a minha vida é difícil. Tenho de sair de casa as 10:00 e regressar as 18:00, todos os santos dias. Os meus filhos dependem de mim e não tenho tempo para comemorações”, desabafa.
Enquanto prepara a comida que vai tentar vender, fugindo pelo meio às ‘corridas’ dos fiscais, António diz: “Nós como ‘zungueiras’ não somos valorizadas, a mulher ‘zungueira’ não tem valor”.
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