Celebra-se este sábado, dia 12 de agosto, o Dia Internacional da Juventude, uma efeméride com o objetivo de reconhecer o papel fundamental dos jovens nas sociedades, e em que diversas entidades se associam às celebrações, chamando à atenção para as questões juvenis.

Anualmente, nesta data, autoridades locais, associações e organizações ligadas à juventude organizam concertos, oficinas, eventos culturais e encontros sobre o tema proposto, que este ano coloca em foco a relevância das competências ecológicas, sobretudo para os mais jovens.

Aliados aos eventos culturais, como museus com entrada gratuita para jovens entre os 12 e 29 anos, é também altura dos responsáveis políticos pausarem as suas férias e falarem também eles sobre os mais novos.

O primeiro a falar logo de manhã foi o primeiro-ministro, António Costa, que recorrendo à rede social X (antigo Twitter) não pôde deixar de dizer que o seu executivo vai continuar "a trabalhar para que os jovens possam realizar as suas ambições em Portugal. Apostamos no aumento das qualificações e temos reforçado os apoios à habitação e ao emprego".

Prossegue ainda dando exemplos como o "Mais Habitação" e o "Porta 65", o investimento em alojamento estudantil, estágios remunerados, incentivos à contratação dos mais qualificados e o IRS Jovem. "Temos políticas para esta geração a par de uma economia dinâmica e em convergência com a UE (União Europeia). O futuro começa hoje", conclui o líder do executivo.

Apesar da realidade defendida pelo governo, sabe-se segundo os dados disponíveis em áreas como emprego e habitação que estes não corroboram as palavras do primeiro-ministro.

É verdade que os jovens são cada vez mais qualificados e que o governo está a criar incentivos para que os mais qualificados sejam contratados, mas não impediu, segundo o INE, que o emprego de licenciados tenha registado uma queda homóloga de 7,3% no segundo trimestre. Significa isto que, num ano, a população empregada com ensino superior diminuiu em cerca de 128 mil pessoas.

Na habitação, uma das bandeiras do governo, sabe-se, de acordo com dados do Eurostat, que os jovens em Portugal terão conseguido no ano passado a grande conquista de voltar a conseguir deixar a casa dos pais antes de fazerem 30 anos. Em 2022, a idade média para sair do domicílio familiar baixou para os 29,7 anos, depois de, em 2021, Portugal ter sido o país da União Europeia em que os jovens saíram mais tarde de casa dos pais: aos 33,6 anos.

Mas, se o objetivo é a "convergência com a UE", é importante que o governo saiba também que dentro dos 27 países da UE, a média fica-se pelos 26,4 anos, algo que dificilmente se consegue em Portugal.

Além disso, é sempre tempo para recordar o estudo da semana passada divulgado pela consultora internacional Deloitte, que aponta para o facto das preocupações quanto ao custo de vida crescente afetarem especialmente os jovens, com mais de metade a acreditar que será muito difícil ou impossível constituírem uma família ou comprarem casa própria.

O estudo avança ainda que 44% da Geração Z (geração de pessoas nascidas, em média, entre a segunda metade da década de 1990 e o ano de 2010) e 31% dos Millennials (nascidos após o início da década de 1980 até, aproximadamente, à primeira metade da década de 1990) têm um segundo trabalho, e apesar de a principal razão ser económica, muitos fazem-no porque desejam prosseguir uma paixão ou passatempo além do seu trabalho principal.

“Nós estamos a falhar, o país está a falhar. O país precisa mesmo de um sobressalto cívico, político, empresarial. Nós temos de conseguir absorver no nosso mercado de trabalho estes milhares e milhares de jovens que todos os anos saem das nossas universidades, dos nossos institutos politécnicos e colocá-los ao serviço do crescimento do país”, disse Luís Montenegro.

Sobre se o país está ou não a falhar cabe à classe política avaliar e agir, mas certamente que enquanto jovem seria bom que nos focássemos nos problemas de que o governo se esquece, e não nas vitórias e promessas que não se verificam nos dados estatísticos. Não, os jovens não têm mais emprego, muito menos os mais qualificados, não tem mais casas para viver, não têm ambições e o país não se aproxima da "convergência com a UE". São factos.