Destituída por decisão do Senado na quarta-feira, 31 de agosto, a primeira mulher a ocupar a Presidência do Brasil passa a fazer parte dos cerca de 12 milhões de desempregados da principal economia da América Latina. E sairá do Palácio da Alvorada com Fafá, a sua cadelinha de raça Dachshund, ao lado, escreve a AFO.

Terá que redescobrir a vida sem o avião presidencial, ou o exército de secretários, assessores, cozinheiros e guardas que tinha à disposição. Além do salário mensal de quase 30 mil reais (cerca de 8.300 euros) que recebia por liderar um país com 206 milhões de habitantes.

Dilma voltará ao seu apartamento em Porto Alegre, onde construiu a sua carreira política e onde vive a sua família.

Tem 30 dias para sair do Palácio da Alvorada, com a mudança paga pelo Estado e o direito de usar um avião da Força Aérea pela última vez, segundo o jornal Folha de São Paulo. Também terá direito, como ex-presidente, a quatro guardas, dois assistentes e dois motoristas.

Vida mais simples?

À medida que o julgamento político seguia no Senado, Dilma já tinha começado, há semanas, a enviar livros e roupas para Porto Alegre, informou o jornal Folha de São Paulo.

O seu apartamento fica no bairro litoral de Tristeza, onde, apesar do nome, Dilma sempre disse ter sido muito feliz.

Este espaço foi, ao longo do processo de impeachment (destituição), um refúgio do furioso ambiente político de Brasília. Lá, Dilma passeava de bicicleta e convivia com a sua filha Paula, o seu ex-marido Carlos Araújo e os netos Gabriel e Guilherme, detalha o jornal Zero Hora.

A brisa do mar "a ajuda a relaxar", assegura o jornal, citando políticos próximos a então chefe de Estado. Alguns, inclusive, afirmam que Dilma se sente aliviada por sair do Palácio da Alvorada.

Projetado pelo aclamado arquiteto Oscar Niemeyer, este prédio branco e de corte baixo, situado nos arredores do plano piloto da moderna capital, pode provocar uma sensação de gigantismo e isolamento.

Tem paredes de vidro, um grande jardim, uma piscina e uma capela separada, assim como um centro médico e um cinema. E claro, o Brasil sendo Brasil, não pode faltar um campo de futebol.

"Sentirá pena de ir, tem um médico 24 horas aqui, não deve saber como vivem os brasileiros comuns e como são terríveis os hospitais públicos", afirma Irma Ferreira, uma guia turística de 47 anos, que organiza visitas ao Palácio da Alvorada.

Mas outros opinam que a mudança para uma escala mais humana será bem-vinda.

"Honestamente, penso que se sentirá mais confortável com uma vida mais simples", sustenta Alexandre Fragos Lacerda, analista de sistemas de 41 anos, que foi aos arredores do Palácio da Alvorada para expressar o seu apoio à ex-presidente.

Procurar trabalho?

O que pode fazer agora uma presidente sem emprego, mas viciada em trabalho?

Dilma já recusou duas ofertas para estudar no exterior, uma em França e outra nos Estados Unidos, segundo a Folha de São Paulo.

Mas, numa surpreendente reviravolta na quarta-feira, o Senado votou contra a inabilitação política da ex-presidente por oito anos, antes considerada automática com a aprovação do impeachment.

Assim, ao invés de uma "pena de morte política", como a própria denominou, Dilma pode, em teoria, começar uma nova campanha.

Um rápido retorno à Presidência em 2018 está fora de questão, porque ganhou duas eleições consecutivas e a Constituição obriga-a a deixar passar um mandato antes de voltar a candidatar-se.

Isto sem contar que saiu do poder com níveis baixíssimos de popularidade, e no meio de uma profunda recessão económica.

Entretanto, não se pode descartar a hipótese de Dilma tentar conquistar uma cadeira no Congresso. Uma fonte próxima da ex-presidente disse à AFP que a batalha do impeachment reavivou a combatividade da ex-guerrilheira.

"Esta história não acaba assim. Estou segura de que a interrupção deste processo pelo golpe de Estado não é definitiva. Voltaremos, voltaremos para continuar a nossa caminhada até um Brasil em que o povo seja soberano", disse após a votação que a afastou do cargo de Presidente do Brasil.