“Há instantes [às 15:20 locais e 20:20 em Lisboa], o pessoal diplomático, adidos militares e o adido administrativo que prestavam funções na Embaixada da Argentina na Venezuela abandonaram esse país junto com as suas famílias. A partida foi ordenada pelo Presidente [venezuelano], Nicolás Maduro, como consequência do desconhecimento e rechaço do nosso país ao fraudulento resultado da eleição presidencial de 28 de julho”, indicou, em nota, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Argentina.
“O Ministério faz votos de que muito brevemente possa retornar a cumprir com as suas funções numa Venezuela livre e democrática”, acrescenta-se.
O motivo de partirem a Portugal antes de embarcarem, no sábado, para Buenos Aires, via Madrid é a falta de voos e o facto de a Venezuela ter fechado o espaço aéreo para voos com origem e destino na Argentina. A chregada a Lisboa está prevista para as 06:45.
Com a partida do corpo diplomático argentino da sua própria Embaixada, o Brasil assumiu a custódia das instalações e a representação da Argentina na Venezuela, erguendo, inclusive, a bandeira brasileira onde antes se encontrava a argentina.
“Com a bandeira brasileira, Nicolás Maduro não terá coragem de invadir o terreno para prender os asilados”, apontou à Lusa uma alta fonte do MNE argentino.
O principal desafio é garantir a segurança dos seis venezuelanos asilados na Embaixada da Argentina desde 20 de março. São membros do comité de campanha da líder opositora María Corina Machado, perseguidos pela Polícia de Maduro.
Esta quinta-feira, pela primeira vez desde que foram acolhidos pela Argentina e agora sob o comando do Brasil, os asilados falaram com a imprensa. A porta-voz foi Magalli Meda, então chefe de campanha de María Corina Machado, antes da opositora ser proibida de se candidatar.
“Hoje, estão a ser perseguidas as testemunhas. Nesta sede diplomática está parte do comando de campanha ganhador do processo. É democracia ou o que é? As máscaras caíram”, gritou Meda da varanda da residência oficial aos jornalistas na rua, agradecendo “à Argentina e ao Brasil”.
“Ganhámos, arrasámos. Os resultados estão à vista. Hoje, o Comando Nacional Eleitoral (CNE), uma instância que deve dar respostas ao país, esconde-se. De que estamos a falar? Já chega!”, questionou, afirmando que “o mundo pôde verificar a fraude”.
“A beleza do que aconteceu é que a Venezuela venceu. É isso o que estamos a ver nas ruas: as pessoas a exigirem que a verdade seja respeitada”, acrescentou Magalli Meda para logo concluir: “Todo o processo de parto é complexo, mas o bebé já nasceu”.
A Argentina, agora através do Brasil, continuará a insistir na concessão de um salvo-conduto que permita aos seis asilados deixarem as instalações diplomáticas. Se não puderem deixar a Venezuela, a opção seria encontrar outra sede diplomática que os acolha, provavelmente de algum país da União Europeia.
Na quinta-feira, o Presidente argentino, Javier Milei, agradeceu ao Brasil pela responsabilidade de representar a Argentina. Milei não mencionou o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, com quem mantém uma postura de tensão política e crítica.
“Agradeço enormemente a disposição do Brasil pela custódia da Embaixada da Argentina na Venezuela. Também agradecemos a representação momentânea dos interesses da Argentina e dos seus cidadãos”, publicou Milei, sem perder a oportunidade para atacar Maduro.
“Hoje, o pessoal diplomático teve de abandonar a Venezuela como represália do ditador Maduro pela condenação que fizemos à fraude que aplicaram no domingo. Não tenho dúvidas de que logo reabriremos a nossa Embaixada numa Venezuela livre e democrática”, afirmou o Presidente argentino.
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