O encontro decorreu um dia depois das promessas dos novos governantes do Afeganistão de trabalhar para a reconciliação nacional e perdoar os seus adversários e depois de os ocidentais os terem advertido de que os julgarão pelos seus atos.
Os dirigentes talibãs, que procuram formar um Governo, “disseram que perdoavam todos os antigos responsáveis governamentais, pelo que já não é necessário que quem quer que seja abandone o país”, indicou o SITE, depois de os talibãs terem divulgado imagens de Hamid Karzai com Anas Haqqani, um dos negociadores do seu movimento.
Ao mesmo tempo, a vida começou a ser retomada em Cabul, apesar de prevalecer o medo: a capital afegã estava hoje muito calma, com a administração pública e o comércio fechado devido à Achura, um importante feriado religioso xiita.
Muitos afegãos continuavam, todavia, a concentrar-se em frente às embaixadas estrangeiras, encorajados por rumores sobre a possibilidade de obter vistos ou asilo e milhares encontram-se no aeroporto de Cabul a tentar embarcar em voos para fora do país.
Depois de ter fugido do país no domingo, o ex-Presidente Ashraf Ghani refugiou-se, com a família, nos Emirados Árabes Unidos, onde anunciou que se vai dirigir “à nação”.
Na terça-feira, os talibãs tentaram tranquilizar a comunidade internacional na primeira conferência de imprensa que realizaram em Cabul, dois dias após terem tomado o poder, enquanto o co-fundador do seu movimento, o ‘mullah’ Abdul Ghani Baradar, chamado a assumir altas funções, regressou ao Afeganistão.
Depois de tomarem 30 de 34 capitais provinciais em apenas dez dias, os talibãs entraram em Cabul no domingo, quase sem encontrarem resistência das forças de segurança governamentais, proclamando o fim da guerra e a sua vitória, o que assinalou o seu regresso ao poder no Afeganistão 20 anos após terem sido expulsos pelas forças militares dos Estados Unidos e seus aliados da NATO.
Foi o culminar de uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares estrangeiras, cuja conclusão estava agendada para 31 de agosto.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista, que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, considerado o autor moral dos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001.
Depois de terem governado o país de 1996 a 2001, impondo uma interpretação radical da ‘sharia’ (lei islâmica), teme-se que os extremistas voltem a impor um regime de terror, reduzindo a zero ou quase os direitos fundamentais das mulheres e das raparigas, embora estes tenham já assegurado que a “vida, propriedade e honra” vão ser respeitadas e que as mulheres poderão estudar e trabalhar.
Durante o anterior “reinado” dos talibãs no Afeganistão, jogos, música, fotografia e televisão eram proibidos; as mãos eram cortadas aos ladrões, os assassinos eram executados em público e os homossexuais, mortos; as mulheres estavam proibidas de sair à rua sem um acompanhante do sexo masculino e de trabalhar e as meninas, de ir à escola; e as mulheres acusadas de adultério — sendo também consideradas adúlteras as que tivessem sido violadas — eram chicoteadas e apedrejadas até à morte.
Desta vez, um porta-voz dos talibãs, Suhail Shaheen, afirmou à estação televisiva britânica Sky News que a ‘burqa’, a veste cobrindo todo o corpo e o rosto com uma rede em tecido ao nível dos olhos, já não será obrigatória.
Apresentando-se como mais moderados, os talibãs parecem estar a ter uma receção internacional menos hostil que há 20 anos, quando apenas três países (Paquistão, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita) reconheceram o seu regime, embora até agora ainda nenhum o tenha feito.
Comentários