Em declarações à agência Lusa, José Gouveia, da Associação Nacional de Discotecas (ADN), explicou que o último contacto que teve com o Governo foi há cerca de duas semanas e, ainda assim “foi informal”, para perceber “os intentos e saber estratégia para o futuro”.
“Estamos com alguma expectativa, já que nos foi dito que não haveria antecipação das medidas e que as discotecas só reabririam na fase 3 do plano de desconfinamento, em outubro, independentemente de a vacinação atingir os números que se prevê atingir esta semana”, disse.
José Gouveia afirmou ser com apreensão que a associação tem visto as situações ocorridas na zona de Santos, em Lisboa, e na Rua de São Paulo e outros locais da cidade, como os ajuntamentos de jovens, que também se vão propagando pelo país, também com festas privadas em praias ou quintas, frisando que se trata de uma situação para a qual a ADN já havia alertado no verão e antes mesmo de o verão começar.
“Não era expectável prender os jovens em casa e havia uma necessidade de as discotecas ao ar livre abrirem com horários alargados”, afirmou, referindo que a questão é que, atualmente, “no pico da diversão”, aquilo que acontece é que se quer que “os jovens parem e vão para as suas casas”.
“Ora isso não existe agora, não existiu no passado, e nunca irá existir no futuro. Aquilo que nós estamos a promover de certa forma com este tipo de medidas são ajuntamentos, festas ilegais que se têm espalhado um pouco por todo o lado e a propagação do vírus [da covid-19] através da ausência de qualquer tipo de medidas ou restrições locais”, explicou.
O responsável alertou ainda para a possibilidade do crescimento de “uma economia paralela” que se tem vindo a sentir, a partir do momento em que as festas ilegais "não têm qualquer tipo de controlo", especialmente “com as bebidas a ser compradas num qualquer fornecedor ou supermercado e depois vendidas sobrevalorizadas e sem qualquer tipo de controlo”.
“A ADN vê isto com muita preocupação e não entendo porque é que até agora não foi dada a oportunidade às discotecas de demonstrarem que conseguem: transformar aquilo que é uma discoteca a céu aberto, totalmente descontrolada, para um ambiente controlado, onde há um rastreio, onde as pessoas têm um controlo por certificados, etc, etc.”, lamentou.
José Gouveia frisou também que no interior das discotecas “não são permitidos atos de vandalismo ou de violência extrema”, como aqueles de que há conhecimento nos últimos tempos, já que há seguranças, que permitem antecipar essas situações, e uma comunicação direta com as forças de segurança.
O responsável sublinhou ainda não entender o porquê de o Governo os “deixar à margem e não chamar a terreno para resolver a situação”.
Em plena campanha para as eleições autárquicas de domingo, José Gouveia estranha também que o presidente da câmara de Lisboa, Fernando Medina, não se venha pronunciar sobre a situação dos empresários que se encontram há 19 meses com a atividade fechada.
“António Costa, que foi ministro da Administração Interna, que conhece tão bem o terreno, como nós sabemos, não vem dizer nada, nem dar uma palavra aos pais. Eu como pai, tenho alguma dificuldade em permitir que um filho meu saia à noite, porque não é seguro”, salientou.
Acrescentando também que as imagens que passam na comunicação social e que passa para o exterior está a denegrir a reflexo da noite.
“Até à data, a imagem que se tinha do nosso país lá fora, em matéria da noite, era muito positiva. Agora estamos a viver numa época de total insegurança em que ninguém faz nada”, desabafou, lembrando que os clientes das discotecas já estão há muito vacinados.
O levantamento gradual das restrições em função da vacinação contra a covid-19 arrancou em 01 de agosto, com regras aplicáveis em todo o território continental, inclusive o limite de horário de encerramento até às 02:00 para a restauração.
Nestas medidas de alívio, esteve a reabertura de bares e outros estabelecimentos de bebidas “sujeitos às regras da restauração”. Os bares que recusem funcionar com as regras da restauração e as discotecas permanecem encerrados até outubro.
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