Embora vindo da mesma área política, e sendo igualmente um antigo líder do PSD, o novo Presidente da República distinguiu-se no contacto próximo e informal com os cidadãos, na agenda intensa e na presença mediática constante, com programas originais - em contraste com o estilo mais contido e formal de Cavaco Silva.
Também na interpretação da função presidencial Marcelo Rebelo de Sousa mostrou diferenças face ao seu antecessor, desde logo na desdramatização da atual solução de Governo, e no acompanhamento permanente e ativo da governação e da atividade parlamentar, ouvindo regularmente os partidos, as confederações patronais e sindicais e o Conselho de Estado.
O ano arrancou com a campanha para as eleições presidenciais de 24 de janeiro, que Marcelo Rebelo de Sousa venceu à primeira volta, com 52% dos votos, apresentando-se como um moderado empenhado em "fazer pontes" e "promover consensos".
Situando-se ideologicamente na "esquerda da direita", o candidato em quem PSD e CDS-PP recomendaram o voto procurou distanciar-se destes partidos e da bipolarização resultante das recentes legislativas, defendendo que era preciso evitar uma crise política e que o Governo do PS devia cumprir a legislatura.
Depois de ser eleito, aos 67 anos, o ex-comentador político e professor universitário de direito elencou os seguintes princípios para o seu mandato presidencial: "Afetos, proximidade, simplicidade e estabilidade".
No dia 9 de março, quando Marcelo Rebelo de Sousa iniciou funções, afastou-se da cena política uma das figuras mais preponderantes da democracia portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, que nos últimos 30 anos somou duas décadas na chefia do Governo e do Estado.
Cavaco Silva terminou o seu ciclo em Belém aos 76 anos, deixando em funções um executivo do PS viabilizado por acordos inéditos à esquerda no parlamento, ao qual deu posse com reservas e advertências.
Agora, tem como gabinete o recuperado Convento do Sacramento, em Lisboa, onde estará a concluir as prometidas memórias dos seus tempos em Belém.
Marcelo Rebelo de Sousa inovou logo no dia da investidura, em que chegou a pé ao Palácio de São Bento e assinalou a data com um encontro de religiões e um concerto, em Lisboa, estendendo depois as cerimónias ao Porto, dois dias mais tarde.
O novo Presidente teve um início de mandato intenso, com mais de 250 iniciativas - entre visitas, encontros e audiências - nos primeiros 100 dias em funções.
Os portugueses têm-no ouvido quase diariamente, e com frequência várias vezes ao dia, a comentar e enquadrar os mais variados temas da atualidade, num tom de distensão e, no essencial, convergente com o Governo, embora com reparos.
Tem insistido em acordos de médio prazo em áreas como a saúde, a justiça, a educação e a segurança social e apelado à valorização da concertação social, num momento em que se negoceia o valor do salário mínimo nacional.
Uma das suas afirmações mais polémicas aconteceu a 24 de maio, sobre a possibilidade de haver instabilidade política após as eleições autárquicas de 2017.
"Desiludam-se aqueles que pensam que o Presidente da República vai dar um passo sequer para provocar instabilidade neste ciclo que vai até às autárquicas. Depois das autárquicas, veremos o que é que se passa", declarou.
O próprio Presidente se apressou a justificar as suas palavras na manhã seguinte, enquadrando-as como uma referência à tradição de as autárquicas terem consequências nas lideranças partidárias.
Nestes nove meses, Marcelo Rebelo de Sousa ainda não recorreu ao Tribunal Constitucional e utilizou três vezes o poder de veto político, em relação a dois diplomas do parlamento sobre a gestação de substituição e a estatização dos transportes do Porto - o primeiro dos quais acabaria promulgado numa segunda versão - e a um decreto do Governo sobre acesso a informação bancária.
Até hoje, realizou 20 deslocações ao estrangeiro, três das quais visitas de Estado, a primeira em maio, a Moçambique, e as outras em outubro, à Suíça e a Cuba - onde teve um encontro com o líder histórico cubano Fidel Castro, entretanto falecido.
Destacam-se ainda as inéditas comemorações do 10 de Junho em Paris com os portugueses residentes em França, juntamente com o primeiro-ministro, e a deslocação ao Brasil em agosto para a abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
As suas saídas do país foram quase todas de curta duração, para encontros institucionais ou cimeiras, e a maioria a capitais de países europeus: Vaticano, Espanha, Itália, Alemanha e Reino Unido. O chefe de Estado esteve também no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, França, e foi recebido em Casablanca pelo rei de Marrocos.
Deslocou-se duas vezes às Nações Unidas, em Nova Iorque, a primeira em campanha pela candidatura de António Guterres a secretário-geral desta organização, e a segunda, hoje, para ver o seu amigo de longa data e antigo primeiro-ministro prestar juramento antes de iniciar funções em 01 de janeiro.
Marcelo Rebelo de Sousa viajou ainda três vezes para assistir a jogos do Euro 2016, em França, incluindo a final, que Portugal venceu.
Em território nacional, realizou três edições de uma iniciativa a que chamou "Portugal Próximo", no Alentejo, em Trás-os-Montes e na Beira Interior, e visitou a Região Autónoma da Madeira, incluindo os subarquipélagos das Desertas e Selvagens.
Evitou os Açores em ano de eleições regionais, mas tem agendadas duas visitas a esta região em 2017.
Marcelo Rebelo de Sousa justificou esta intensa atividade declarando que quer "fazer tudo o que puder" neste mandato de cinco anos: "Não estou à espera de um segundo mandato para depois fazer o que não consegui fazer no primeiro".
Em inúmeras ocasiões, o Presidente da República tem sugerido que não pensa fazer um segundo mandato, mas nunca assumiu claramente esse compromisso.
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