Com o deflagrar da pandemia da Covid-19 por todo o mundo, país a país, as escolas foram sendo encerradas por motivos de contenção do vírus, obrigando milhões de crianças e adolescentes a ter aulas à distância ou mesmo à total ausência de ensino.

Da quebra do aproveitamento escolar e da degradação da saúde mental dos alunos até ao impacto que a presença forçada das crianças em casa teve para os seus pais a nível profissional, foram vários os novos problemas que surgiram enquanto o mundo se tentava reorganizar para retomar à normalidade.

O regresso às aulas é hoje encarado como um ponto-chave nesta reorganização que a pandemia impôs. Há estratégias diferentes em vários países, mas também há muitas decisões comuns. O ponto de partida também não é igual para todos: alguns países conseguiram já antes que os alunos fizessem um regresso controlado às aulas presenciais — ou que nem sequer tivessem deixado de frequentá-las — a maioria, como Portugal, ou operou reaberturas para apenas alguns estudantes ou manteve o ensino completamente à distância.

Quando o verão chegou, grande parte dos países tendeu a concordar que o ano letivo seguinte teria mesmo de decorrer nas escolas, para não aumentar as discrepâncias entre alunos — com particular gravidade para os mais desfavorecidos — nem criar novas desigualdades.

O problema, porém, é que o vírus nunca chegou a desaparecer e, em alguns país, a onda de casos está novamente agravar-se. Pode a abertura das escolas ser um fator sério de contágio? No entender de tanto o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) como da Organização Mundial da Saúde (OMS), as escolas não demonstraram ser um fator de transmissão significativo, o que deu força à iniciativa de reabri-las.

No entanto, os segredos deste vírus ainda estão por revelar, e algumas das respostas já disponíveis parecem contraditórias. Se alguns números oficiais — como os ECDC — apontam para a baixa prevalência de infeções junto das crianças e para a quase ausência de sintomas, há já estudos que demonstram como o seu papel na transmissão pode ser mais importante do que se pensava, podendo ter cargas virais iguais ou superiores às de adultos infetados. Ou seja, mesmo que a doença não seja fatal para os estudantes, estes podem vir a tornar-se propagadores nas suas comunidades se não forem tomadas as devidas precauções.

Por isso mesmo, as organizações não deixaram de avisar que o contágio é uma realidade, devendo o regresso às aulas ser feito de forma mais segura possível, especialmente tendo em conta que vai coincidir com a época da gripe.

O consenso sobre a reabertura não significou também que todos os países se focassem nas mesmas abordagens. O que este final de verão tem demonstrado, aliás, é que apesar de muitas medidas — como o distanciamento físico ou a desinfeção das mãos — serem comuns, cada estado tem aplicado a sua estratégia.

Numa fase em que Portugal se prepara para reabrir as escolas, veja como outros países estão a fazê-lo:

Espanha: máscaras a partir dos 6 anos, salas de aulas ventiladas a cada intervalo e medição da temperatura à entrada da escola

Tendo encerrado as escolas em março devido à pandemia, o Governo central espanhol não ordenou a sua reabertura no passado ano letivo, nem mesmo quando a situação epidémica acalmou. Os estabelecimentos de ensino reabriram para os exames nacionais e alguns disponibilizaram aulas de revisão, mas a frequência foi voluntária, sendo a maioria das aulas dada à distância.

No entanto, o regresso às aulas presenciais será obrigatório neste ano letivo para os alunos dos 6 aos 16 anos, dando-se entre 4 e 15 de setembro, dependendo das decisões de cada comunidade autónoma espanhola. O regresso às aulas dá-se numa fase em que o número de casos em Espanha continua a aumentar.

Durante o verão, foi crescendo a impaciência junto de pais e professores — que ameaçaram greve — quanto à indefinição das orientações, especialmente tendo em conta que as regiões espanholas têm autonomia para definir medidas na área da educação. 

A 27 de agosto, executivo central, em reunião com representantes das 17 comunidades autónomas espanholas, por fim definiu um documento com orientações, algumas delas de cariz obrigatório, outras a adotar por escolha de cada região. A par das medidas, a contratação de professores também foi uma prioridade: em Madrid, por exemplo, foram prometidos mais 11 mil docentesna Catalunha o plano é contratar cinco mil professores.

Espanha
créditos: EPA/Marta Perez

Medidas

Do conjunto de medidas acordadas entre o executivo e as comunidades, destaca-se a imposição da utilização de máscaras aos alunos, uma das mais rigorosas da Europa: se a OMS recomenda a idade mínima de 12 anos, os alunos espanhóis dos 6 anos para cima vão ter de usá-las em espaços fechados e ao ar livre, assim como nos autocarros escolares (cuja utilização, de resto, é desaconselhada). Esta diretriz, porém, pode ser sujeita a alterações consoante as regiões: na Catalunha já foi dito que em alguns casos a obrigatoriedade será apenas a partir dos 12 anos; na Cantábria, deu-se a polémica sugestão de baixar o limite para os 3 anos. Para além disso, é imposto o distanciamento físico mínimo de 1,5 metros nas escolas de todo o território.

Há, porém, uma exceção a estas medidas e destina-se a crianças na pré-primária e no primeiro ciclo da primária (ou seja, até aos oito anos), que não precisarão de usar máscara ou manter distanciamento desde que sejam organizadas em turmas "bolha” com entre 15 a 20 alunos, afastadas da restante comunidade escolar.

Estes alunos não vão precisam de se manter afastados nas cantinas escolares, mas os restantes sim, onde também vai ser exigido distanciamento físico. Aliás, a cada aluno vai ser destinado um lugar à mesa que deverão ocupar durante todo o ano letivo.

Vai inclusive ser exigido aos alunos que lavem as mãos pelo menos cinco vezes por dia e, em matéria de limpeza, também as escolas ser desinfetadas diariamente, sendo que para as casas de banho essa ação ocorrerá três vezes por dia.

A medição de temperatura a alunos, professores e funcionários à entrada das escolas está prevista, ficando ao encargo dos estabelecimentos evitar ajuntamentos nas filas de espera. As salas vão ser ventiladas antes de cada aula, durante os intervalos, durante 10 a 15 minutos, sendo também recomendado que as janelas sejam mantidas abertas.

As medidas indicam também que o encerramento das escolas ocorrerá somente em caso de “transmissão descontrolada”, apesar das métricas para avaliar esta situação não terem ainda sido reveladas. Se forem descobertos casos de infeção, os pacientes serão colocados em quarentena, assim como todos os seus contactos próximos, colegas de turma e professores. O Ministério da Saúde espanhol está, inclusive, a cogitar uma licença de baixa para os pais poderem ficar em casa se os filhos forem infetados.

De resto, só em último recurso é que as escolas não estarão abertas durante todo o ano, estando disponíveis mesmo durante as férias para providenciar serviços de cantina e apoio a alunos em situações vulneráveis e com necessidades educativas.

França: máscaras a partir dos 11 anos mas sem obrigatoriedade de distanciamento físico

O Governo francês determinou dia 1 de setembro como data oficial de regresso às aulas para todos os anos do ensino obrigatório, resultando no retorno de perto de 12 milhões de alunos franceses às escolas.

Ao contrário da reabertura em maio, que dava a opção aos encarregados de educação de manter os alunos em casa, desta vez a ida às aulas presenciais é obrigatória, tendo as autoridades publicado as suas orientações a 26 de agosto para escolas primárias, básicas e secundárias em caso de situação epidémica controlada.

No entanto, foi também criado um plano de contingência em caso de um agravamento da situação que justifique restrições ou mesmo encerramento de estabelecimentos de ensino, prevendo situações de ensino híbrido ou à distância.

França
créditos: Martin BUREAU / AFP

Medidas

Apesar do caráter de obrigatoriedade de presença nas escolas, o novo plano de medidas para o ensino francês é mais relaxado do que o apresentado no final do passado ano letivo.

As escolas não serão obrigadas a manter distanciamento físico — passou a ser apenas uma recomendação — especialmente se tal significar que os alunos não cabem todos no mesmo espaço. Esta regra é aplicada não só às salas de aulas, mas a todos os espaços comuns, incluindo os recreios. Não haverá também restrições de contacto entre turmas. No entanto, devem ser impedidas grandes aglomerações, especialmente nos momentos de entrada e saída das instalações escolares.

Em sentido contrário, o uso de máscara passou a ser obrigatório não só para professores e funcionários, mas também para alunos a partir dos 11 anos de idade, em espaços fechados e ao ar livre. Há, contudo, exceções: durante as refeições, práticas desportivas e à noite (no caso dos colégios internos), não é preciso usar máscara.

São os pais os responsáveis por dotar os alunos de máscaras, apesar das escolas terem stock para crianças que não tenham acesso às mesmas, e também têm obrigatoriedade de lhes medir a febre. Os encarregados de educação podem entrar nas escolas, desde que munidos de máscara e a manter distanciamento mínimo de um metro.

Os objetos podem ser partilhados entre alunos na sala de aula, mas  têm de lavar as mãos frequentemente. A ventilação dos espaços e a desinfecção frequente de superfícies também fazem parte das medidas.

No caso de ser necessário proceder ao ensino à distância, as escolas devem providenciar os alunos com carências dos equipamentos necessários.

Alemanha: alunos organizados em grupos de centenas que reunem várias turmas em zonas separadas de salas de aula, cantina e casas de banho

Sendo um país com uma organização federal, cada estado na Alemanha tem autonomia para definir quais as datas de recomeço das aulas presenciais, assim como as medidas de segurança a implementar. Por isso mesmo, se alguns estados, como Hamburgo, já têm aulas desde o início de agosto, outros, sendo exemplo a Bavária, só vão ter o regresso às aulas na próxima semana.

Uma coisa é certa: se no passado ano letivo, as escolas apenas reabriram a “meio-gás” com um regime de aulas híbrido, agora o consenso generalizado na classe política alemã é de que o regresso tem de ser presencial.

O ano letivo começou com tropeções. No estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, um dos primeiros a determinar o regresso às aulas, duas escolas tiveram de encerrar após serem detetados casos. No entanto, esta foi a exceção à regra. Por todo o território alemão já foram identificadas infeções nas escolas, mas a resposta tem sido de fazer testes e colocar contactos próximos em quarentena o mais rápido possível, evitando o encerramento de todo o estabelecimento escolar.

A estratégia, até agora, tem resultado, não tendo sido registados casos de transmissão comunitária a partir das escolas. Tem sido “confuso e imperfeito”, mas está “a funcionar”, como disse uma virologista alemã ao New York Times.

Alemanha
créditos: EPA/SASCHA STEINBACH

Medidas

Algumas das medidas implementadas por todo o território alemão têm sido consensuais: pede-se aos alunos que evitem usar corrimões e que lavem as mãos com frequência (mas usem o desinfetante disponível com parcimónia), sendo que o distanciamento social é recomendado sempre que possível. Há circuitos criados nas escolas e a ventilação das salas de aula tem sido regra, apesar do calor.

No que toca à utilização de máscaras, todavia, a Alemanha vai “do 8 ao 80”: se no estado de Schleswig-Holstein, o seu uso é meramente recomendado, em Renânia do Norte-Vestfália é obrigatório para alunos do ensino básico ter máscara a cobrir o nariz e a boca, mesmo nas salas de aula. Como consequência, durante o mês de agosto, algumas escolas do estado isentaram os alunos das aulas quando a temperatura subia aos 27 graus. Já em Brandeburgo e Berlim, o seu uso é exigido nas zonas interiores e nos corredores, mas não nas salas nem no recreio.

A liberdade concedida pela autonomia estatal para regular a educação fez também com que algumas escolas se focassem mais na utilização de espaços ao ar livre para dar aulas, outras no modelo de testes rápidos em que são os próprios alunos a tirar as suas amostras de saliva para obterem os resultados em 24 horas.

Já uma medida que começou também a ser implementada a nível nacional — e que é uma das razões pelas quais a Alemanha tem evitado surtos nas escolas — é a reorganização dos alunos em grupos de centenas de alunos de várias turmas em zonas separadas, com as suas próprias salas de aula, zonas da cantina e casas de banho. Os integrantes de um grupo não devem contactar diretamente com os de outro, mas não precisam de manter distanciamento social entre si. Assim, se houver um caso de infeção detetado, apenas os integrantes desse grupo têm de cumprir quarentena.

Itália: o problema dos bancos de aula corridos, a solução de os serrar e as aulas em cinemas, museus e igrejas

À semelhança de Portugal, Itália vai ter o seu regresso às aulas a 14 de setembro, apesar de haver regiões que começam já a 7 (como Bolzano) e outras que adiaram a data para 24 (sendo exemplos Apúlia e Calábria).  Para além disso, as escolas secundárias italianas já abriram para cursos de recuperação das disciplinas, no que começou por ser um primeiro teste de como funcionam as normas de segurança para evitar contágios neste início do ano letivo.

Ao contrário da maioria dos países europeus, a Itália nunca chegou a reabrir as escolas depois do encerramento a 10 de março, à exceção das creches, onde foi permitida a entrada de  pequenos grupos de três a seis crianças dos 0 aos 6 anos, cuja temperatura foi controlada à entrada.

Com a imposição das aulas à distância para 8,5 milhões de alunos, muitos não puderam acompanhar os colegas devido à falta de computadores em casa. Ainda assim, foram realizados exames, mas não escritos. Ao invés, para evitar a concentração de estudantes nas salas, as provas foram orais.

O verão foi atribulado, com o Governo a avançar com um plano inicial que foi contestado por pais e professores em junho. No entanto, em agosto, num acordo com os responsáveis das regiões italianas e com os sindicatos do corpo docente, aprovou finalmente um documento. Para preparar o ano escolar e garantir que o número de infeções não subia, o executivo passou uma portaria que determinou o encerramento de discotecas e outros locais de festas noturnas, exigindo também o uso de máscaras à noite em locais públicos.

Itália
créditos: EPA/MATTEO CORNER

Medidas

Tendo um sistema de educação antiquado e cronicamente subfinanciado, o Governo italiano alocou mil milhões de euros para investir num regresso às aulas seguro. As verbas destinam-se, principalmente, à contratação de 50 mil professores e funcionários temporários.

O reforço do corpo docente é necessário para aquilo que são as medidas base de plano: entradas escalonadas dos alunos às escolas, divisão das turmas em grupos mais pequenos e possibilidade de dar aulas ao sábado. Tudo isto, para respeitar a imposição da distância de segurança de um metro nas aulas.

Um dos desafios, porém, prende-se com a contínua permanência nas salas de aula de bancos corridos para sentar vários alunos, algo incompatível com a necessidade de distanciamento social. O Governo italiano encomendou em julho três milhões de equipamentos, mas muitas escolas, receando atrasos na entrega, tomaram medidas com as próprias mãos e serraram bancos e secretárias para dispô-los nas salas de aula.

Outra das soluções prende-se com a mudança das aulas das salas apertadas para espaços maiores — como cinemas, museus, igrejas ou mesmo tendas montadas em parques de estacionamento — e para zonas ao ar livre. A ministra da Educação, Lucia Azzolina, disse ainda que as escolas receberão fundos para alugar estas instalações. As escolas terão também de criar circuitos e desinfetar frequentemente os seus espaços, ficando ao seu critério a medição de temperatura à entrada —  de resto, é dever dos pais impedir a criança de ir para a escola se registar mais de 37,5 graus.

Tanto professores como alunos com mais de seis anos vão ter de usar máscaras em permanência, sendo que no caso dos docentes, são obrigados a usar viseiras também. Os estudantes só podem tirar os equipamentos nas aulas de educação física, às refeições e para responder a um professor. 

Apenas um encarregado de educação por cada aluno pode entrar nas instalações escolares para deixar os alunos, e as escolas têm de registar as entradas para fazer possíveis rastreios. Em caso de infeções detetadas, as escolas podem encerrar temporariamente e toda a gente terá de ser testada. Os responsáveis são obrigados a ter uma sala onde isolar os casos suspeitos.

Por fim, vai ser disponibilizado apoio psicológico, tanto a estudantes quanto a funcionários, e as aulas à distância vão ser apenas opção para alunos em grupos de risco ou a viver com familiares nessas condições.

Reino Unido: o sistema de “bolhas” que pode ir de uma turma a um ano inteiro, distanciamento social para alunos do ensino secundário, mas não para os do primário

Tal como aconteceu um pouco por todo o continente europeu, as aulas nas escolas do Reino Unido foram interrompidas para a maioria dos alunos em meados de março, quando foi introduzido um confinamento para travar a pandemia, continuando apenas abertas para os filhos de trabalhadores de serviços críticos.

Com a melhoria da situação pandémica, o executivo britânico tentou reabrir as escolas primárias e dos finalistas do ensino secundário de forma faseada no início de junho em Inglaterra. O plano era de, pelo menos, reabrir todas as escolas primárias, mas o Governo teve de voltar atrás com a decisão quando se viu confrontado com a realidade de que a maior parte dos estabelecimentos do país não tinham as condições de segurança necessárias, por falta de espaço e de profissionais disponíveis. Como tal, a grande maioria dos alunos do ensino primário e secundário teve aulas à distância.

Tendo como imperativo o regresso presencial, o Governo de Boris Johnson estabeleceu 1 de setembro como a data limite para a reabertura das escolas. Foi, com o País de Gales, o último território do Reino Unido a fazê-lo já que os governos autónomos têm soberania sobre a pasta da educação e determinaram regras e calendários diferentes. Na Escócia, o regresso às aulas fez-se a 11 de agosto, seguindo-se a Irlanda do Norte a 24 do mesmo mês.

O regresso às aulas em Inglaterra decorreu sob forte pressão para o executivo britânico. Isto porque, depois da tentativa de retorno em junho falhar, o Governo cancelou a realização dos exames para os finalistas do ensino secundário. Ao invés, optou por avaliar as notas dos estudantes através de um algoritmo que acabou por baixá-las desproporcionalmente. Perante este cenário, o ministério da Educação britânico teve de voltar atrás com a decisão, recaindo a responsabilidade das notas finais na avaliação contínua dos professores.

Para além deste problema, um estudo realizado logo no início das aulas deixou patente que a maioria dos alunos ficaram com as aprendizagens em atraso, principalmente os mais desfavorecidos.

Tudo isto forçou o Governo britânico a apressar-se a revelar as suas orientações para as escolas, mas estas foram apenas publicadas a 28 de agosto, três dias antes do começo oficial, o que valeu ao executivo várias críticas.

Reino Unido
créditos: Andy Buchanan / Digital / AFP

Medidas

Uma das medidas mais polémicas prende-se com a utilização de máscaras. Na Escócia, tornou-se obrigatório no início deste mês usar os equipamentos nas escolas secundárias (a partir dos 11 anos) nos corredores, zonas comuns e autocarros escolares, mas não nas salas de aula. O mesmo ocorreu na Irlanda do Norte.

Ora, o Governo britânico, que não recomendava o uso de máscaras, voltou atrás na decisão a meros dias do regresso às aulas após uma chuva de condenações de professores e dirigentes, e passou a basear-se no modelo escocês, mas apenas em parte. Nas escolas em Inglaterra não será imposta a utilização de máscaras em qualquer espaço, ficando essa decisão para os diretores escolares.

Foi, porém, aprovada uma exceção para zonas regionais onde o contágio seja alto e haja medidas de contingência impostas: aí, é preciso usar em algumas zonas comuns das escolas, mas não nas salas de aulas, e a medida aplica-se apenas para alunos a partir do 7º ano, professores e funcionários.

A grande maioria das medidas são generalizadas para os quatro territórios do Reino Unido: há obrigação de limpeza e lavagem de mãos regular ao longo do dia, foram criados circuitos e os alunos estão a ser divididos em “bolhas” cujo tamanho pode ir de uma turma a um ano inteiro, havendo então entradas e intervalos faseadas para que os diferentes grupos não se cruzem. O distanciamento social é requerido para alunos do ensino secundário, mas não para os do primário.

Há, entretanto, algumas especificidades. Cantar como método educativo, aulas de educação física em espaços interiores e a presença dos pais foram algumas das coisas proibidas em algumas escolas da Irlanda do Norte. No País de Gales, os estabelecimentos de ensino só estão a operar com um terço dos alunos, ao passo que na Escócia, os livros das bibliotecas escolares são colocados sob quarentena durante três dias.

Em Inglaterra, foi posto em prática um modelo de quatro patamares com base na situação epidemiológica. No primeiro patamar, todos os alunos podem ir às aulas, ao passo que, no segundo, estabelece-se um sistema de rotação no qual os alunos do ensino secundário vão duas semanas às aulas e ficam outras duas com ensino à distância. No terceiro, todos os alunos do ensino secundário passam a ter aulas em casa e, no quarto, os alunos do ensino primário deixam de poder ir para as escolas também.

Os patamares 2, 3 e 4, contudo, só deverão ser implementados se todos os outros recursos falharem, sendo que o Governo britânico está tão focado no regresso às escolas que prevê multas para quem se recuse a deixar os filhos assistir a aulas presenciais.

Por fim, foram dados às escolas pacotes com 10 testes à Covid-19. Estas só poderão encerrar devido a surtos de Covid-19 sob a ordem das autoridades de saúde locais, sendo que o executivo já fez saber que essa é uma medida a evitar. Em vez disso, utilizar-se-á o sistema de “bolhas” para isolar ou mandar para casa grupos de alunos em contacto com um caso suspeito ou confirmado.

China: há escolas que dão um kit aos alunos com máscaras, toalhas de papel esterilizadas e etiquetas com o nome

O regresso às aulas na China está a decorrer de forma faseada para creches, escolas e universidades até ao final de setembro, tendo tido o seu início oficial a 29 de agosto (um sábado).

O ensino será presencial em quase todo o território, incluindo no epicentro original da pandemia, Wuhan. A exceção é em Xinjiang, onde um novo surto obrigou ao começo das aulas à distância. A China conseguiu reabrir escolas no passado ano letivo em maio e junho para perto de 200 milhões de estudantes sem resultar em infeções reportadas.

Já no que toca às regiões administrativas especiais, se Macau deu início às aulas presenciais na terça-feira, 1 de setembro, Hong Kong adiou o regresso às escolas para dia 23 deste mês. A razão do atraso deve-se à mais recente vaga de casos que obrigou à imposição de medidas mais rigorosas. Neste caso, as aulas vão regressar em duas fases distintas e decorrer apenas durante meio-dia, sendo que haverá prioridade para crianças com necessidades educativas ou com matéria em atraso.

China
créditos: STR / AFP

Medidas

Tal como já tinha ocorrido no passado ano letivo, nas escolas chinesas há controlo de temperatura à entrada, a utilização de máscara é obrigatória para todas as pessoas (incluindo crianças e incluindo em aulas como educação física), é exigido aos alunos que higienizem as mãos e as janelas das salas são abertas para ventilar o ar.

No entanto, segundo a Xinhua (a agência oficial de notícias chinesa), o Governo está a reforçar a segurança junto às escolas com a colocação de postos de verificação, construção de esquadras e monitorização de autocarros escolares.

Em Pequim, há escolas que têm dispensadores de desinfetante, linhas de orientação no chão das instalações e dão um kit aos alunos com máscaras, toalhas de papel esterilizadas e etiquetas com o nome.

Como parte dos planos de contingência, está prevista a passagem para aulas online caso haja um ressurgimento de casos.

Nas regiões especiais, existe ainda o caso dos alunos transfronteiriços (que moram em cidades da China continental): em Macau vão ser criados corredores especiais a funcionar entre as 6:00 e as 8:30 horas para evitar aglomerações; em Hong Kong, alunos do secundário podem circular com isenção de quarentena, mas os restantes alunos vão, para já, ter aulas à distância.

Coreia do Sul: Os alunos vão às aulas em grupos por dias alternados, os que ficam em casa têm aulas à distância

Desde que a Covid-19 se abateu sobre o mundo, a Coreia do Sul tem se revelado um exemplo a seguir em como lidar com a pandemia, tanto pela eficiência das suas medidas, como pelo exemplo cívico dos seus cidadãos.

No que toca à educação, porém, tem havido episódios atribulados, ainda por cima tendo em conta que o sistema de ensino sul-coreano assenta num modelo muito competitivo e exigente, com os estudantes a disputarem intensamente as vagas para as universidades.

No final de maio, a Coreia do Sul ensaiou um regresso às aulas que foi interrompido no espaço de alguns dias devido a um aumento de casos, alguns deles a afetar crianças já nas escolas. Na altura, 838 dos 20,902 espaços de ensino no país enviaram os estudantes para casa ou não chegaram a abrir, tendo a situação normalizado mais tarde, com o retorno escalonado dos alunos.

Com o início do ano letivo, voltaram as atribulações. No final de agosto surgiu uma nova vaga de casos — motivada por aquilo que se crê ter sido um misto de relaxamento das regras com alguns grandes ajuntamentos com cariz religioso e para celebrar os 75 anos de libertação do regime japonês —, especialmente na zona de Seul, onde 150 estudantes and 43 professores foram infetados.

Como tal, as escolas da região da capital e de Incheon encerraram portas — ao todo foram 7023 estabelecimentos — a todos os alunos — com a exceção daqueles em ano de exames de acesso ao ensino superior —, que tiveram de voltar para casa e ter aulas à distância até, pelo menos, 11 de setembro. Também os centros de explicações — altamente requisitados, sendo usados por 3 em cada 4 alunos sul-coreanos — foram forçados a encerrar.

Houve, porém, exceções para as escolas com menos de 60 estudantes ou para alunos com necessidades especiais, que puderam continuar a operar.

Coreia do Sul
créditos: EPA/YONHAP SOUTH KOREA OUT

Medidas

No resto do país, as medidas mantém-se inalteradas: as escolas primárias e básicas têm de funcionar a um terço da sua capacidade e as secundárias a dois terços. Os alunos vão às aulas em grupos por dias alternados, sendo que os que ficam em casa têm aulas à distância.

As escolas são frequentemente desinfetadas, a temperatura dos alunos é medida todos os dias à entrada das instalações e é colocado desinfetante nas mãos. Para além disso, não só a máscara é obrigatória para todos os anos escolares, mesmo nas aulas de educação física, como em muitas escolas foram colocadas barreiras de plástico em cada uma das secretárias e nas cantinas.

No que toca aos alunos afetados pelo recente adiamento do regresso presencial, o ministério da Educação sul-coreano já revelou que as escolas vão passar a oferecer programas de tutoria individuais para os alunos que estejam a demonstrar dificuldades a ajustar-se às aulas online.

Israel: o modelo de "cápsula" e a distribuição de 144 mil computadores portáteis e 64 mil smartphones entre as populações mais desfavorecidas 

Tal como a Coreia do Sul, Israel vinha a mostrar-se como um dos exemplos a seguir na gestão da pandemia, tendo quase erradicado a doença no território. Por isso mesmo, à semelhança do país asiático, o estado do Médio Oriente optou por proceder à reabertura das escolas mais precocemente que a maioria.

Tendo encetado um regresso cuidadoso em maio com um modelo de turmas por bolhas de alunos, os responsáveis israelitas abandonaram essa ideia duas semanas depois, tendo mesmo tornado opcional o uso de máscara devido a uma onda de calor que se fez sentir. Os resultados não se fizeram esperar.

No início de junho, Israel encontrava-se a braços com uma segunda vaga da pandemia, passando de 50 para 1500 casos diários. Apesar de toda a conjuntura de desconfinamento ter propiciado o surto, as autoridades de saúde apuraram que as escolas foram o segundo local de infeção mais comum, a seguir às habitações, com os estudantes a serem infetados e a transportar o vírus para fora dos espaços de ensino. Ao todo, 2026 alunos, professores e funcionários testaram positivo à Covid-19, tendo 28.147 estudantes ficado sob quarentena.

Por isso mesmo, o verão foi ocupado com discussões quanto aos planos de reabertura. A data foi finalmente aprovada para 1 de setembro, se bem que alguns responsáveis médicos pediram para que apenas ocorresse em outubro. Ao todo, 2,5 milhões de alunos israelitas da pré-escola, do ensino primário e secundário começaram a voltar às aulas.

Israel
créditos: MENAHEM KAHANA / AFP

Medidas

Porém, nem todos puderam ir à escola. Em 23 cidades com altas taxas de contágio do novo coronavírus — determinadas como “cidades vermelhas”, de acordo com um modelo de cores que vai do verde ao vermelho —, 130.000 alunos não puderam retornar às aulas enquanto esperam que as infeções se estabilizem.

Para além desta nova medida, o Governo israelita aprovou também um modelo de aulas presenciais e à distância para os diferentes anos escolares. Chamado “Aprendizagem Segura”, o documento determina que os dois primeiros anos têm aulas sem restrições, o 3º e 4º anos têm aulas com “cápsulas” de pequenos grupos de alunos e a partir do 5º até ao 12º, os estudantes têm dois dias de aulas presenciais e três dias de aulas à distância, numa espécie de part-time. Os alunos com necessidades especiais também não tiveram restrições.

No que toca à utilização de máscara, os alunos até ao 2º ano não são obrigados a usá-la, os estudantes no 3º ano têm de usá-las nos recreios e, do 4º ano para cima, é obrigatória em todas as situações. As escolas operam com horários separados e com controlo de temperatura na entrada, sendo que os alunos têm de ter consigo um atestado médico.

O modelo de “cápsula” das turmas vai obrigar o Ministério da Educação israelita a contratar 6,500 professores e 6500 assistentes educacionais, sendo que o mesmo gabinete irá também distribuir perto de 144 mil computadores portáteis e 64 mil smartphones entre as populações mais desfavorecidas e atualizará ou integrará as infraestruturas tecnológicas nas 3.600 escolas do país. O plano é ter tudo entregue até janeiro de 2021.

EUA: a maioria das escolas não se encontra a dar aulas presenciais, em Nova Iorque a testagem para alunos e professores será obrigatória a cada mês

Com o encerramento a nível nacional das escolas devido à pandemia, a chegada do verão foi marcada pelas sucessivas declarações públicas e tweets do Presidente dos EUA, Donald Trump, e da sua administração a pedir a sua reabertura.

Os pedidos de Trump surgiram depois da Academia Americana de Pediatria ter emitido um comunicado em junho a advogar o retorno dos estudantes às salas de aula, recordando os problemas psicológicos e as disparidades de aproveitamento para muitos a ter aulas em casa. Porém, o pedido ressaltava que tal deveria acontecer no outono e apenas se pudesse ser em segurança.

Esse tem sido o problema principal no país, que continua a ser o epicentro da Covid-19 a nível mundial, não havendo consenso quanto à reabertura e gerando-se um braço-de-ferro com o Governo federal, já que a Educação é um pelouro dos estados. Com o impasse, a discussão começou a ganhar contornos políticos entre Republicanos e Democratas: Trump chegou mesmo a ameaçar cortar os fundos estatais às escolas que não reabrissem até à chegada do outono e acusou a oposição de querer manter as escolas fechadas para prejudicá-lo politicamente.

Vários estados, todavia, deram repto ao apelo do Presidente, sendo exemplos Georgia, Mississippi, Tennessee e Indiana, que se estrearam em agosto a reabrir as escolas ao ensino presencial. No entanto, cedo ficou patente que muitas escolas não tinham condições — uma fotografia tornou-se viral ao demonstrar um corredor apinhado — e bastaram semanas — e, em alguns casos, dias — para começarem a surgir casos de Covid-19 tanto em professores como em alunos, levando muitos estabelecimento de ensino a voltar a encerrar e centenas de pessoas a ter de cumprir quarentena, tendo sido reportados, pelo menos 230 casos.

Por isso mesmo, não obstante os pedidos e as ameaças do Presidente dos EUA, a grande maioria das escolas neste momento não se encontra a dar aulas presenciais, tendo o ano letivo tido início com ensino à distância ou, pelo menos, com ensino híbrido.

EUA
créditos: AFP or licensors

Medidas

O facto dos estados terem autonomia para determinar quando e como dar início às aulas resultou numa complexa e díspar manta de retalhos pelo país, havendo estados, como o do Iowa ou do Missouri, que ordenaram a abertura das escolas ao ensino presencial e outros, como o do Vermont ou de Washington, D.C, que proibiram a aberturas das escolas temporariamente.

No entanto, como demonstra o mapa da revista Education Week, a grande maioria dos estados encontra-se num regime misto e que muda consoante a escolas e os distritos escolares. Um dos exemplos é o da cidade de Nova Iorque, onde as aulas já começaram online e o plano é de reabrir as escolas apenas a 21 de setembro com um sistema híbrido de aulas presenciais e à distância, sendo que voltarão a fechar se a percentagem de testes positivos aos seus alunos, professores e funcionários atingir 3%.

De resto, a confirmar-se, será, em conjunto com o do Havaí, único entre os 20 maiores distritos escolares do país a oferecer aulas presenciais, sendo que 43 dos 50 maiores dos EUA planeiam, de momento, apenas ter ensino à distância. Observando outros distritos escolares de grande dimensão, em Los Angeles ainda não há data para aulas presenciais, em Miami existe essa pretensão (mas desde que o número de infeções se mantenha baixo) e em Chicago fizeram-se planos para um modelo híbrido, mas o aumento de casos durante o verão fez do início do ano escolar totalmente online.

Para além das datas das aberturas das escolas, também a imposição de medidas é uma responsabilidade a nível local.

A agência responsável pela gestão da pandemia, o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, publicou uma extensa lista de recomendações, que incluem várias das medidas que têm sido implementadas um pouco por todo o mundo: criação de circuitos, entradas e saídas faseadas, controlo de temperatura, higienização das mãos, manutenção da distância social, organização dos alunos em “bolhas”, colocação de barreiras de plástico nas casas de banho, afastamento das secretárias nas salas de aula quando possível, utilização de máscaras.

As indicações também sugerem o encerramento de escolas se a transmissão estiver descontrolada, mas não recomenda a testagem e medição de sintomas universal dos alunos, deixando essa responsabilidade para os pais.

No entanto, estas são meras recomendações e, semelhante à dispersão de datas de regresso às aulas, também as medidas nos EUA têm variado não só consoante estados, mas também condados e distritos escolares. 

No caso específico de Nova Iorque, vai ser aumentada a capacidade de testagem para alunos e professores e esta será obrigatória a cada mês. Para além disso, cada escola tem de cumprir requisitos como manutenção de stocks de máscaras, ventilação suficiente e secretárias afastadas, correndo o risco de voltar a fechar.