"O presidente deve dirigir-se imediatamente à NFP para permitir-lhe formar um governo”, exigiu a coligação a Emmanuel Macron nesta terça-feira, criticando a decisão de manter, “por enquanto”, o primeiro-ministro Gabriel Attal.

As diferentes tendências da NFP — socialistas, ecologistas, comunistas e esquerda radical — elegeram juntas 193 dos 577 deputados, seguidas da aliança de centro-direita de Macron, com pelo menos 160.

Enquanto se aguarda a composição final dos grupos nos próximos dias, o partido Os Republicanos (LR) e outras formações de direita obtiveram cerca de 60 cadeiras, e o Reagrupamento Nacional (RN), de extrema direita, e os seus aliados, 143.

"Não contesto a possibilidade da esquerda para governar ou participar num governo. Mas a 100 assentos da maioria absoluta (...), têm de ser realistas", afirmou o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Stéphane Séjourné, ao jornal Le Monde.

Os líderes da NFP expressaram a sua vontade de formar o próprio governo, mas com apoios parlamentares, que se tornam difíceis quando o resto das forças oscilam entre a centro-direita e a extrema-direita.

"Estaremos abertos" aos "macronistas de esquerda" que podem identificar-se "com os fundamentos da NFP", cujo programa deve servir de "bússola", disse a socialista Johanna Rolland.

Mas numa coligação com várias arestas por limar, Manuel Bompard, da ala radical, foi menos conciliador, dizendo que caberia aos outros grupos decidir se votariam a favor das suas propostas ou se as "derrubariam".

Os antecedentes não são auspiciosos. A coligação de esquerda Nupes, criada para as legislativas de 2022, acabou por romper-se pelas divergências entre A França Insubmissa (LFI) de Bombard e a ala mais social-democrata do Partido Socialista.

Mas perante o temor de ver a extrema direita de Marine Le Pen chegar ao poder, abafaram as suas diferenças em tempo recorde após o inesperado adiantamento eleitoral decretado por Macron.

As eleições também resultaram numa nova relação de forças na coligação, na qual a LFI continua a ser a sua principal componente com 80 deputados, mas seguida de perto pelos socialistas, com 70.

A negociação do nome do futuro primeiro-ministro mostra a complexidade persistente. Para a líder ecologista Marine Tondelier, deve ser uma pessoa alinhada com o programa da NFP, de consenso, que apazigue o país e com experiência.

A LFI avalia que, como primeira força, cabe-lhe designar o chefe de Governo e não descarta o seu controverso líder Jean-Luc Mélenchon, apesar da rejeição que ele desperta nas demais forças. Outro nome da LFI que emerge é a deputada Clémence Guetté, menos conhecida, mas popular entre os militantes de esquerda. Aos 33 anos, passa uma imagem menos divisiva e mais tranquila.

"Não pode haver nenhuma pretensão de hegemonia por parte de ninguém", alertou o líder socialista, Olivier Faure, que se disse "disposto a assumir" como primeiro-ministro se os seus parceiros aceitarem.

Os líderes de esquerda esperam ter um nome nesta semana. O presidente francês, que permanece em silêncio desde as eleições, está em Washington nestas quarta e quinta-feira para participar numa cúpula da NATO.

Em pleno limbo político, a aliança governista também move os seus peões para tentar formar uma "alternativa" a um governo de esquerda, tentando atrair a direita e até mesmo os socialistas.

O governismo e o LR somariam juntos mais deputados que a NFP, ainda que distantes da maioria absoluta, mas o partido de direita prefere de momento manter a sua independência e reconstruir-se, depois de implodir durante as eleições quando uma parte entrou em acordo com a ultradireita.

Algumas propostas da NFP, que a coligação diz poder aprovar por decreto, também representam linhas vermelhas para a aliança governista e a direita, como a revogação do aumento da idade da reforma de Macron ou aumento do salário mínimo.

Se a esquerda conseguir formar governo sem outros parceiros, pode cair perante uma moção de censura na Assembleia. E Macron não pode convocar novas eleições antecipadas até julho de 2025.