Um grupo de pessoas armadas atacou ontem uma base militar no norte da Venezuela, na cidade de Valencia que fica a 180 quilómetros da capital do país, Caracas. Um primeiro balanço realizado pelo comandante do Exército, o general Jesús Suárez Chourio, deu conta da existência de um morto e de um ferido, ambos parte do grupo que atacou a base, mas posteriormente o presidente da Venezuela apresentou novo ponto de situação com dois mortos e oito feridos. "Dois foram abatidos pelo fogo leal à pátria, um está ferido. Destes 10 atacantes que ficaram nas instalações de Paramacay, nove são civis e um é um tenente desertor há meses, que tinha dado baixa (foi reformado)", assegurou o presidente no seu programa dominical de TV.
Segundo o governo, o ataque foi realizado por um grupo de civis e um tenente desertor que, usando uniformes militares, atacaram na madrugada de domingo um forte militar, tendo sido neutralizados. Sete atacantes foram capturados."Um grupo de paramilitares aproveitou as condições do momento e atacou, mas foi imediatamente repelido, foram derrotados e aqui estamos a festejar o triunfo da pátria em paz", disse o general Jesús Suárez Chourio, que participou da tentativa frustrada de golpe de 1992 ao lado de Hugo Chávez, de quem foi chefe de segurança quando chegou à presidência da Venezuela.
"Aqui houve uma insurgência da pátria em 4 de fevereiro, há 25 anos e meio, mas hoje o que houve foi um ataque terrorista, paramilitar, mercenário, pago pela direita e pelos seus colaboradores, pago pelo império americano", sublinhou o general. Os militares venezuelanos expressaram sua "lealdade absoluta" a Maduro e à revolução fundada por Chávez, morto em 2013.
Segundo Nicolás Maduro, o militar que integrou o grupo de atacantes à base "está a colaborar ativamente com informação" e também foram obtidos "os testemunhos dos sete civis". Maduro informou que "uns 20 mercenários" entraram às 03h50 locais, "surpreenderam a segurança e dirigiram-se diretamente aos parques de armas". Após a voz de alerta - "em questão de minutos" - os soldados e oficiais reagiram e responderam com fogo num combate que durou até as oito da manhã e, disse Maduro, "fizeram os atacantes fugir".
O incidente foi divulgado depois da difusão nas redes sociais e em vários veículos de comunicação de um vídeo gravado supostamente na 41ª brigada, em que um homem que se apresenta como um capitão, se declara em "rebeldia" contra Maduro e exige um "governo de transição".Em Valencia, a situação era tensa. Helicópteros sobrevoavam os arredores da base e militares patrulhavam a área com tanques e armas longas, segundo comprovou uma equipa da AFP.
Após o ataque, dezenas de pessoas ergueram barricadas nas proximidades de Valencia, onde depositaram troncos de árvores e queimaram lixo, enfrentando-se com militares da Guarda Nacional que os dispersaram com bombas de gás lacrimogéneo e projéteis de chumbo.
"Queremos saber a verdade, que não venham com historinhas"
O presidente do Parlamento venezuelano, Julio Borges, exigiu que o governo de Nicolás Maduro diga "a verdade" sobre o suposto ataque terrorista deste domingo. "Queremos saber a verdade, que não venham com historinhas, com uma caça às bruxas, que não venham nos culpar", disse Borges, líder da maioria opositora num evento universitário.
O Ministério de Defensa informou que sete atacantes foram capturados e que a incursão do tipo "paramilitar" teria sido realizada por "integrantes da extrema-direita venezuelana em conexão com governos estrangeiros". Julio Borges afirmou que os acontecimentos devem "levar a uma reflexão profunda do governo" e que "é muito claro: a Força Armada é um espelho de um país que não quer mudar".
Os militares expressaram sua "lealdade absoluta" a Maduro, apesar de a oposição continuamente pedir que eles retirem seu apoio e "se coloquem ao lado da Constituição". Borges concordou, no evento, com Luisa Ortega, procuradora-geral destituída pela Assembleia Constituinte de Maduro, com quem rompeu há quatro meses."Estou consciente de que a instalação da assembleia para muitos é uma espécie de golpe", mas "cada passo da Constituinte é um passo ao precipício para esse governo", afirmou o deputado."A única coisa que resta é a força bruta, não é um governo forte, é um governo podre, caído, que só quer se agarrar ao poder. O que devemos fazer? Continuar nas ruas, será uma luta difícil, mas, ao fim, a dignidade do povo vai prevalecer", garantiu.
"Estamos diante de um poder de facto, aqui não há governo"
Luisa Ortega voltou, por seu lado, a não reconhecer a sua destituição como procuradora-geral da Venezuela por parte da Assembleia Constituinte, que, segundo ela, é o "poder de facto" que governa o país agora."Eu desconheço essa remoção, continuo sendo a procuradora-geral deste país", disse, um dia após ser destituída pela Constituinte do presidente Nicolás Maduro, com quem rompeu há quatro meses.
A procuradora insistiu que a assembleia que no sábado iniciou os trabalhos e a retirou do cargo é "ilegítima e inconstitucional"."Estamos diante de um poder de facto, aqui não há governo. Quem ocupa ilegalmente o poder é essa Assembleia Nacional Constituinte presidencial", sublinhou Ortega, que integra há anos o grupo chavista.
A decisão de destituí-la, afirmou, que teve alto repúdio internacional, foi uma "ordem do Executivo"."O que a Constituinte está a fazer é perseguir; foi convocada ilegalmente. A eleição também foi, a participação foi muito pequena e as poucas pessoas que compareceram, o fizeram obrigadas", acrescentou, assegurando que o Ministério Público recebeu denúncias de instituições públicas que obrigaram seus funcionários a votar.
Os mais de 500 integrantes da Constituinte, instituída na sexta-feira, foram eleitos com mais de oito milhões de votos, segundo o poder eleitoral, mas a oposição não a reconhece e denuncia que é uma fraude para instaurar uma "ditadura comunista".
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