Mario Draghi terá hoje a sua última reunião enquanto presidente da autoridade monetária da zona euro, depois de oito anos na liderança do BCE, cargo que será ocupado por Christine Lagarde a partir de 01 de novembro.
“Creio que a despedida de Mario Draghi será tranquila, pautada por um agradecimento e homenagem prestados pelo BCE pela dedicação e persistência da sua ação na defesa da coesão e sustentabilidade do projeto da zona euro”, comentou Clara Raposo, professora e presidente do ISEG, à Lusa.
“Espero que a transmissão de mandato a Christine Lagarde aconteça de forma suave”, disse Francesco Franco, professor da Nova School of Business and Economics (Nova SBE).
Questionados sobre se serão anunciadas novas medidas na reunião de política monetária de hoje, os economistas consideram que, à partida, não haverá novidades.
“Penso que não. Até porque há um certo sentimento, entre os observadores independentes, de que as decisões da reunião anterior terão sido extemporâneas”, referiu João Borges Assunção, professor da Universidade Católica.
Clara Raposo também duvida de que Draghi anuncie novas medidas, “deixando espaço para a sua sucessora”.
No final da reunião de política monetária de 12 de setembro, o BCE desceu, como esperado, a taxa dos depósitos bancários para -0,50%, menos uma décima do que a anterior, e anunciou um novo programa de compra de dívida pública.
Questionados sobre se, na sua despedida, Mario Draghi voltará a lançar um repto aos governos, no sentido de que falta ação política ao nível orçamental na zona euro, João Borges Assunção considerou que “o seu legado ficará mais protegido se evitar esse tipo de referências na última reunião”.
Já Rui Bernardes Serra, economista-chefe do Montepio, admitiu que Draghi pode reiterar esse pedido na sua última reunião como presidente do BCE.
“É possível que se dirija aos governos no sentido de os alertar para a necessidade de estarem atentos, dialogarem e consertarem posições caso queiram que o projeto europeu se afirme num mundo cada vez mais competitivo”, referiu também Clara Raposo.
Os economistas ouvidos pela Lusa consideram que Draghi ficará na história como o banqueiro central que teve a coragem de salvar o euro quando muitos acharam que era uma “missão impossível”.
“Em alternativa ao já popularizado ‘Super Mario’, que não deixa de lhe assentar bem, especialmente se nos recordarmos de quando muitos acreditavam que a sua missão era impossível, penso que poderíamos também adotar o cognome de ‘Guardião do Euro'”, afirmou Clara Raposo.
Francesco Franco considerou que o sobrenome do italiano “é muito adequado”. “Draghi significa ‘Dragões’ (no plural) em italiano”, disse.
Rui Bernardes Serra comentou, por seu turno, que “Draghi não foi o pai do euro, mas foi certamente aquele que se substituiu aos pais e evitou que o adolescente ‘euro’ fosse por maus caminhos”.
“Bem podia ser assim o padrinho do euro. Mas esse nome em Itália tem segundas interpretações. Talvez seja simplesmente “Il Salvatore del Euro”, acrescentou o economista-chefe.
Para Rui Bernardes Serra, Draghi “foi claramente o presidente do BCE que mais contribuiu para a preservação do euro”, recordando que, em 26 de julho de 2012, “Draghi proferiu a mais famosa e determinante frase do seu mandato: ‘O BCE está preparado para fazer tudo o que for preciso para preservar o euro. E, acreditem em mim, será suficiente'”.
Com a saída de Draghi, é a francesa Christine Lagarde que assumirá a liderança do BCE.
Os economistas sondados pela Lusa consideram que as medidas anunciadas por Draghi em setembro facilitaram o trabalho a Lagarde, que recebe do italiano um legado “exigente”, mas mais “leve” do que os dos anteriores presidentes do BCE.
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