Em entrevista à agência Lusa, Duarte Cordeiro, líder da Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) do PS, considera natural que António Costa tenha remetido para 2023, no final da legislatura, a decisão sobre mais uma recandidatura ao lugar de secretário-geral do partido e ao cargo de primeiro-ministro.
Duarte Cordeiro também não atribui especial relevância ao facto de António Costa ter admitido que o PS poderá ter uma mulher como secretária-geral, dizendo que isso é “inevitável” a prazo.
Interrogado sobre a declaração do secretário-geral do PS ao jornal “Expresso” de que só em 2023 comunicará se vai ou não ser recandidato a esse lugar e a primeiro-ministro, Duarte Cordeiro diz que a recebeu “com muita naturalidade”.
“Em 2023 termina o seu mandato de secretário-geral e termina, esperemos nós, a legislatura. Portanto, é natural que seja no final da legislatura e no final do mandato que o secretário-geral do PS faça essa avaliação”, justifica.
O líder da FAUL do PS e também secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares recusa que António Costa tenha criado um “tabu” ao não esclarecer já o seu futuro político após 2023.
“Pelo contrário, acho que o objetivo de António Costa, exatamente, é de dizer, com naturalidade, que no final desta legislatura avaliará do ponto de vista pessoal aquilo que é o futuro”, sustenta.
Duarte Cordeiro não atribui especial significado político à ideia de António Costa de que o próximo secretário-geral do PS pode ser pela primeira vez uma mulher.
“É uma circunstância inevitável”, começa por responder.
“Inevitável ser homem ou mulher. E, portanto, acho que, como não há limitação do ponto de vista de género à candidatura para secretário-geral do PS, qualquer militante pode e deve ter essa expectativa, se assim o desejar”, argumenta.
Interrogado se não vê aqui um sinal de António Costa estar a colocar na corrida à liderança do PS figuras como a sua líder parlamentar, Ana Catarina Mendes, ou a sua ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, Duarte Cordeiro afirma que não.
“A liderança do PS, felizmente, é um tema que está bem resolvido. E não será, naturalmente, um tema deste Congresso. Acabámos de reeleger o secretário-geral do PS, vamos ter as eleições para os órgãos nacionais do PS, e vamos ter também a definição da estratégia do PS para este mandato”, contrapõe.
Interrogado se o PS deve voltar a realizar eleições primárias abertas e simpatizantes, como aconteceu em setembro de 2014, para escolher o sucessor de António Costa, Duarte Cordeiro recusa antecipar essa discussão.
“Os estatutos do PS definem bem como é que pode ser feita a eleição de um secretário-geral. Não acho que faça sentido discutir nem o método nem as pessoas, porque a liderança não está em causa, e António Costa acabou de ser eleito secretário-geral do PS”, insiste.
Questionado sobre os motivos de o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, já ter comunicado que não tenciona falar durante o congresso do PS em Portimão, no sábado e no domingo, Duarte Cordeiro, considerado próximo deste dirigente socialista, remete a resposta a essa pergunta para o próprio Pedro Nuno Santos.
No entanto, acrescenta que não vê qualquer sinal de afastamento de Pedro Nuno Santos face à liderança do Governo e do PS.
“O Pedro Nuno Santos é um ministro com muita importância neste Governo. Tem um conjunto de responsabilidades relevantes para o nosso futuro na área da ferrovia, na habitação e é alguém que também tem dossiês difíceis no Governo. É dirigente nacional do PS, tem participado e tem feito intervenções quer como ministro quer como dirigente nacional do PS. Tem correspondido a vários convites que lhe têm sido feitos para apresentações de candidaturas autárquicas”, aponta.
Para o líder da FAUL do PS, Pedro Nuno Santos é “uma pessoa que está motivada no exercício das suas funções, quer como membro do Governo, quer como dirigente nacional”.
Confrontado com a ideia de que o atual ministro das Infraestruturas poderá ter a sua carreira política comprometida caso corra mal o processo de reestruturação da TAP, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares reage:
“Volto a dizer, Pedro Nuno Santos é alguém que está motivado no exercício das suas funções e não me parece limitado em nada”, defende.
Interrogado sobre os motivos que o levaram a si e a Pedro Nuno Santos a não apresentar novamente uma moção setorial ao próximo congresso do PS, tal como aconteceu em 2018, Duarte Cordeiro alega que alguns dos pontos dessa anterior moção estão agora a ser executados pelo Governo.
Mas deixa também um recado a quem criticou o seu grupo, conotado com a ala esquerda do PS, em 2018.
“Hoje, podemos dizer que essa moção não só tem atualidade, como em certa medida o Governo tem aplicado alguns dos objetivos nela contidos. Os objetivos não foram assim tão divisionistas como se procurou fazer crer. Portanto, aquilo que às vezes parece que é divisionista, depois, na prática, não é – e todos nos conseguimos entender em torno desses objetivos”, afirma.
Já sobre a sugestão feita recentemente pelo vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS Pedro Delgado Alves no sentido de que o partido faça uma autocrítica sobre o período em que José Sócrates foi líder do partido, Duarte Cordeiro demarca-se.
“Não olho para o PS como um partido que não tem feito debates sobre todas as matérias e todos os assuntos. Temos apresentado soluções e medidas tendo em conta várias situações e não tendo como base a particularização de um aspeto em concreto. Acho que não ganhamos nada com isso e não vejo o PS como um partido que se tenha inibido no debate de todos os temas de atualidade, inclusivamente no que diz respeito a temas que envolvem a justiça”, sustenta.
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