Cerca de duas centenas de pessoas solidárias com Odair Moniz, o homem baleado por um agente policial na segunda-feira concentraram-se hoje à frente do Comando Metropolitano do Porto da PSP, onde foi colocado um perímetro de segurança com grades.
Perto das 18:30, cerca de uma centena de pessoas começaram a concentrar-se na Praça Primeiro de Dezembro, com algumas bandeiras da Palestina – outra das causas da iniciativa - e com cartazes em que se lia "Sinto insegurança perto de fascistas e racistas", "Justiça por Odair Moniz", "Fim da violência policial" ou "Matar e bater para ter o que comer".
Desde a morte do cidadão cabo-verdiano de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, que se têm registado tumultos na Área Metropolitana de Lisboa. Hoje, a capital foi palco de uma manifestação que reuniu milhares de pessoas de diferentes culturas e etnias contra a violência policial.
"Justiça para Odair", "fascistas, racistas, não passarão" e "violência policial é herança colonial" foram frases entoadas pelos manifestantes do Porto, entre assobios e palmas.
Os participantes, de várias etnias, traziam também lenços da Palestina.
Em declarações à Lusa, Joana Cabral, da associação SOS Racismo, disse que não se pode deixar passar esta oportunidade “de grande responsabilidade cívica, política e de toda a sociedade”, perante “mais uma morte por consequência de uma ação policial”.
“Independentemente de todos os contornos deste acontecimento trágico estarem totalmente apurados, a verdade é que os indícios que existem até agora são elementos suficientemente preocupantes. Já temos muitos outros acontecimentos prévios, muitas mortes de pessoas racializadas às mãos da polícia. Trinta e seis por cento das mortes por violência policial são de pessoas racializadas, o que é absolutamente desproporcional, tendo em conta de percentagem de pessoas que temos em Portugal”, afirmou.
Segundo a manifestante, o protesto foi agendado “não para gerar mais conflito, não para gerar mais violência, mas precisamente para acabar com a violência e para pacificar, porque pacificar também é reconhecer - não é negar - a violência”.
Não se pode, acrescentou, “fechar os olhos à violência quando ela é perpetrada pelo Estado e pelas forças de segurança”.
Treze veículos ligeiros e cinco motociclos foram incendiados durante a noite passada na zona de Lisboa e três edifícios sofreram danos.
A PSP registou nos tumultos desta semana mais de 120 ocorrências, deteve cerca de duas dezenas de cidadãos e identificou um número semelhante de pessoas. Somam-se sete feridos, um dos quais com gravidade.
Desde segunda-feira, primeiro na Amadora e depois noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, foram queimados e destruídos autocarros, automóveis, motos e caixotes do lixo.
Na informação de divulgação protesto de hoje no Porto, enviada pelo movimento Estudantes do Porto em Defesa da Palestina à comunicação social, pode ler-se que é “preciso fazer justiça e condenar a morte de Odair Moniz pela polícia”.
“Há demasiados mortos nas nossas comunidades. É preciso acabar com a violência e a impunidade policial nos bairros. É preciso que as pessoas deixem de ser tratadas como não-cidadãos que podem ser agredidos e mortos”, é referido.
Odair Moniz foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, na Amadora, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
Segundo a PSP, o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial e despistou-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação “séria e isenta” para apurar responsabilidades, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias.
A Inspeção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos, e o agente que baleou o homem foi constituído arguido.
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