
O papel e a tinta chegaram na sexta-feira às instalações do grupo Editorial La Prensa, onde funcionam os diários La Prensa e Hoy, em camiões de carga, e foram recebidos no estacionamento pelos diretores, jornalistas, fotógrafos e trabalhadores.
Em setembro de 2018, cinco meses depois do início da crise sociopolítica em que está mergulhado o país, o Governo de Ortega começou a bloquear, através da Direção Geral de Serviços Aduaneiros, o material do jornal, fundado em 02 de março de 1926.
A decisão de entregar a matéria-prima ao Editorial La Prensa foi tomada na sequência de negociações do núncio apostólico na Nicarágua, Waldemar Sommertag, e depois de o grupo ter denunciado “a asfixia económica” imposta pelo executivo àqueles dois diários.
O núncio foi notificado pelo Governo de que o embargo aduaneiro tinha sido levantado, disse o presidente do grupo, Jaime Chamorro.
O La Prensa argumentou que a retenção ilegal dos materiais violava a liberdade de expressão e o livre acesso à informação dos nicaraguenses, direitos estabelecidos na Constituição do país, acrescentou.
“Esta crise é bastante grave. Nos anos 80 do século passado (também sob executivo sandinista e no meio de uma guerra civil) vendia-se uma grande quantidade de jornais, mas não existiu uma crise como esta”, lembrou.
O primeiro Governo sandinista, também liderado por Ortega, “permitia (a importação de) papel, vendido pela Rússia. Agora, foi inventado” este bloqueio, disse.
Chamorro considerou que esta é a pior crise sofrida pelo La Prensa em quase 94 anos de história, levando ao despedimento de 70% dos jornalistas e pondo em risco a circulação da versão impressa por falta de papel.
O La Prensa tinha alertado que a versão impressa podia desaparecer por o Governo estar a reter papel do jornal há 75 semanas, e nesse contexto pediu o apoio da comunidade internacional para sobreviver. “Não deixem morrer La Prensa!”, pediu o diário no editorial de 27 de janeiro último.
Além do bloqueio aduaneiro ao Editorial La Prensa, o Governo também reteve os materiais da empresa ND Medios, proprietária do segundo jornal mais antigo do país El Nuevo Diario, entretanto encerrado.
O El Nuevo Diario, os jornais Metro e o Q’Hubo, bem como a plataforma digital Maje, todos da ND Medios, propriedade do grupo financiero nicaraguense Promerica, fecharam em finais de setembro pasado devido à pressão económica do Gobierno, de acordo com responsáveis da empresa.
Para o Governo nicaraguense, o fim daqueles jornais deveu-se a questões administrativas, económicas e de credibilidade, mais do que à retenção de papel.
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