"Tenho de falar com Putin [...] porque essa é a única maneira de parar esta guerra", disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, numa conferência de imprensa, declarando-se "aberto" e "disposto a abordar todos os problemas" com o seu homólogo russo.
No mesmo evento, Zelensky deixou também um alerta. Pedindo aos parceiros ocidentais para que aumentem o seu apoio — insistindo em que o seu país acabará eventualmente por ser derrotado pela Rússia se este não for prestado — o presidente ucraniano disse que Putin vai continuar as invasões pelo resto da Europa Oriental, a começar pelos Bálticos, para chegar "até o Muro de Berlim".
"Se desaparecermos, que Deus nos proteja, em seguida será a Letónia, a Lituânia, a Estónia etc. (...) Até ao Muro de Berlim, acreditem em mim", diz Zelensky à imprensa, pedindo aos seus aliados que "encerrem o céu" ucraniano aos aviões russos, ou que deem aviões a Kiev.
O Presidente ucraniano disse ainda estar pronto para falar diretamente com o Presidente russo, Vladimir Putin, questionando: "O que quer de nós? Deixe a nossa terra!”.
"Tenho de falar com Putin (...) porque é a única maneira de parar esta guerra", disse. "Temos de falar incondicionalmente, sem rancor, como os homens."
"Sente-se comigo (...) mas não a mais de 30 metros de distância como fez com (Emmanuel) Macron ou (Olaf) Scholz. Sou um tipo normal, não mordo!", afirmou Zelensky, ridicularizando a longa mesa em que o Presidente russo recebe os seus convidados, incluindo o Presidente francês e o chanceler alemão, devido ao protocolo de saúde drástico para o proteger da covid-19.
Estas declarações foram proferidas enquanto decorre a segunda ronda de negociações com a Rússia quanto a um possível cessar-fogo.
Na antevisão a este encontro, Mykhailo Podoliak, conselheiro do Presidente Volodymyr Zelensky, referiu à agência ucraniana Ukrinform que o objetivo imediato nas novas negociações é a criação de corredores humanitários na Ucrânia.
“O resto será de acordo com as circunstâncias”, disse Podoliak, que integra a delegação da Ucrânia às negociações.
"Começamos a discutir com os representantes russos. Os pontos-chave da agenda são um cessar-fogo, um armistício e os corredores humanitários para a retirada de civis das cidades e povoados destruídos, ou bombardeados de maneira constante", disse Podoliak no Twitter, publicando uma fotografia de membros das duas delegações à mesa de negociações.
Por sua vez, a televisão russa publicou imagens dos membros das duas delegações a apertar as mãos, os russos de fato e gravata e os ucranianos em uniforme militar.
Fontes bielorrussas e russas afirmaram que as negociações acontecem na cidade de Belovezhskaya Pushcha, na região bielorrussa de Brest, perto da fronteira com a Polónia.
Para o negociador russo, Vladimir Medinski, tal localização permite a entrada e saída da delegação ucraniana pela Polóia.
A delegação russa coloca três questões na mesa: "o aspecto técnico-militar, o humanitário e internacional, assim como a política", disse Medinski, sem dar mais detalhes. Na véspera, o representante russo indicou que falariam sobre os pontos necessários para "um cessar-fogo".
A Ucrânia acusou a Rússia de já ter matado mais de 2.000 civis desde que iniciou a ofensiva militar de larga escala, há uma semana, mas Moscovo afirma que só tem atacado alvos militares.
A primeira reunião entre negociadores ucranianos e russos decorreu na segunda-feira, na região bielorrussa de Gomel, no quinto dia de combates na Ucrânia, que foi novamente invadida pela Rússia depois de ter perdido a Crimeia para Moscovo em 2014. O encontro terminou sem avanços concretos, mas as duas partes concordaram em reunir-se pela segunda vez.
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