Às 22h00 as projeções davam conta de um Parlamento "pendurado" com os Conservadores a conquistarem 314 lugares e os Trabalhistas 266. A vitória era do partido de Theresa May, mas a maioria não. A maioria não era de ninguém.

Pode-se dizer que o 'feitiço virou-se contra o feiticeiro", uma vez que a primeira-ministra britânica tinha convocado eleições de forma a obter um voto de confiança do povo para poder liderar o processo de saída do Reino Unido da União Europeia com uma posição reforçada.

Mesmo que com o avançar da noite algumas projeções ainda dessem possibilidade aos Conservadores de alcançarem a maioria absoluta, a sombra de um parlamento dividido nunca deixou os Tories descansados.

E com razão. Quando Theresa May decidiu convocar eleições gerais, os Conservadores tinham 331 lugares e uma vantagem nas sondagens de cerca de 20 pontos percentuais, nas intenções de voto, em relação aos Trabalhistas, liderados por Jeremy Corbyn, rosto maior oposição.

Para o partido de Corbyn, a noite parecia promissora. Embora longe da maioria, os Trabalhistas recuperavam 34 lugares em Westminster.

Já a terceira força política britânica, o Partido Nacionalista Escocês afastava-se dos dois grandes partidos, com menos dois 22 lugares. Ao mesmo tempo o UKIP, um partido político que assumiu um papel relevante nas eleições de 2015 perdia o seu lugar.

Dos dois protagonistas das noites, Jeremy Corbyn foi o primeiro a falar, logo após ter sido eleito deputado pelo círculo eleitoral de Islington. O líder dos Trabalhistas, perante os números das projeções não hesitou em pedir a renúncia de Theresa May. “Se há uma mensagem do resultado desta noite é o seguinte: a primeira-ministra convocou a eleição porque ela queria um mandato. Mas o mandato que tem é perda de assentos, é perda de votos, é perda de apoio e perda de confiança. Penso que é suficiente para se ir embora e dar lugar a um governo que seja representativo das pessoas deste país”, disse o político britânico.

Mas quando foi a vez de Theresa May subir ao palco, depois de ter sido eleita pelo círculo eleitoral de Maidenhead, a líder dos Tories (conservadores) rejeitou dar um passo atrás e afirmou que ia tentar formar governo. 

"Se, como as projeções mostram e se forem corretas, o partido Conservador ganhou mais lugares e mais votos, então caberá a nós garantir que temos esse período de estabilidade e é exatamente isso que vamos fazer", vincou.

Já de madrugada, o sol nascia nos ceús de Londres sobre um parlamento repleto de incertezas. Os números mudaram, mas não deram a maioria absoluta a nenhum partido.

Os Conservadores conseguem assim 319 lugares (-12 do que em 2015), os Trabalhistas elegem 261 deputados (+29), o Partido Nacionalista Escocês sofre o maior resvés da noite, conseguindo apenas 35 lugares (-21) e os Liberais Democratas elegem 12 deputados (+4).

Em relação às outras forças políticas, a DUP, o Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte, é a grande surpresa do dia ao conquistar 1o lugares (+2), ao passo que o UKIP perdeu o seu único lugar no parlamento.

Números estes avançados pela mais recente projeção da BBC, numa altura em que ainda faltam apurar três círculos eleitorais, mas que já permitem antecipar alguns cenários. O mais provável - e surpreendente - é uma aliança entre os Tories e o DUP, que permitirá aos Conservadores permanecer em Downing Street e salvaguardar a maioria absoluta, um instrumento político essencial numa altura em que o país ruma para o Brexit.

Se May não recua, Corbyn também não, tendo já anunciado o Partido Trabalhista que está disponível para formar e liderar um governo minoritário. Os próximos dias serão determinantes para se saber quem (e como) vai liderar o processo de saída do Reino Unido da União Europeia.