O editor francês Ernest Moret foi detido sob acusações de terrorismo em Londres, após ter sido interrogado pela polícia britânica sobre a sua participação em protestos anti-governamentais em França, conta o The Guardian.

De recordar que França tem vindo a atravessar uma grave crise social e política desde janeiro, motivada pela reforma das pensões aprovada pelo governo de Emmanuel Macron.

Este protesto prende-se com o aumento da idade mínima de reforma de 62 para 64 anos, algo a que se opõem firmemente todos os sindicatos, que até à data já organizaram 12 dias de protestos e greves nacionais e tencionam continuar com as mobilizações no futuro.

Segundo o jornal britânico, o editor da Éditions La Fabrique — conhecida por publicar autores radicais de esquerda — foi abordado por dois agentes à paisana na estação de St. Pancras, na segunda-feira à noite, após ter chegado de comboio de Paris para participar na feira do livro de Londres.

Ernest Moret foi interrogado durante seis horas e preso por alegada obstrução à investigação, ao recusar-se a revelar os códigos de acesso ao seu telemóvel e computador.

Stella Magliani-Belkacem, diretora editorial da editora com sede em Paris, estava com Moret e contou o que aconteceu. "Quando estávamos na plataforma, duas pessoas, uma mulher e um homem, disseram-nos que eram polícias anti-terrorismo. Mostraram um documento chamado secção 7 da Lei do Terrorismo de 2000 e disseram que tinham o direito de fazer perguntas sobre as manifestações em França".

Um comunicado de imprensa da Éditions La Fabrique condena a forma como Moret foi tratado. "Os agentes da polícia afirmaram que Ernest tinha participado em manifestações em França como justificação para este acto - uma declaração notavelmente inadequada para um agente da polícia britânica e que parece indicar claramente a cumplicidade entre as autoridades francesas e britânicas nesta matéria", pode ler-se.

"Consideramos estas ações como violações escandalosas e injustificáveis dos princípios básicos da liberdade de expressão e um exemplo do abuso das leis anti-terrorismo", foi ainda referido.

A associação de escritores Pen International disse estar "profundamente preocupada" com o facto de Moret estar a ser detido por ligação a terrorismo.

As autoridades confirmaram a detenção do editor e informam apenas que "os inquéritos continuam".