Quando parecia que já não faltava ninguém pronunciar-se sobre as investigações feitas pelo Ministério Público ao antigo líder do PSD, Rui Rio, eis que renasce das sombras o antigo primeiro-ministro José Sócrates.

Foi no jornal Expresso que o antigo líder do PS e protagonista da Operação Marquês decidiu dar a sua opinião num artigo que intitulou de: “Uma manhã no combate ao crime”.

Como já se sabe, sempre que Sócrates fala cabe ao povo ouvir e por isso aqui estamos nós para lhe dar a devida atenção.

Segundo José Sócrates, aquilo que se passou na quarta-feira em casa de Rui Rio deve ser classificado como uma “ação judicial contemporânea" que foi "lentamente transformando as buscas domiciliárias em ações rotineiras, como se o direito à inviolabilidade residencial constituísse agora uma garantia constitucional obsoleta e arcaica".

Lança ainda a crítica que "as buscas sem fundamento sério são um dos mais sérios indicadores da deriva penal autoritária em desenvolvimento”.

Classifica ainda as buscas a Rui Rio como "um caso sério" e "um crime em direto na televisão", que diz ser "praticado por agentes do Estado, aqueles a quem confiamos o cumprimento da lei – o polícia, o procurador ou o juiz".

Depois disso, disserta por vários parágrafos entediantes sobre "a costumeira e escandalosa prática de ordenar buscas exclusivamente destinadas ao espetáculo televisivo". Já no final do texto, em formato de ‘Post scriptum’, deixa uma crítica implícita ao atual chefe do executivo, seu antigo colega de partido e ministro da Administração Interna do seu primeiro governo, o atual primeiro-ministro António Costa.

“As maravilhas que a ausência de rivalidade política é capaz de fazer. O que antes era ‘à justiça o que é da justiça’ transformou-se subitamente em ‘julgamento de tabacaria’. Sempre esteve de acordo, faltou-lhe a coragem de o dizer”, sublinha.

Deixa também claro que “os que dão estas informações aos jornalistas não são justiceiros, são criminosos. A espetacular ação judicial daquela manhã não decorreu sob o rigor do Estado de Direito, mas do arbítrio do Estado de exceção. E no Estado de exceção quem decide a exceção é o verdadeiro soberano”, lê-se no artigo.

A quem tem acompanhado este caso, talvez possa agora, ironicamente, considerar que a única conclusão a retirar desta intervenção de José Sócrates é que não existe qualquer culpa a atribuir a Rui Rio, pois se até um arguido da Operação Marquês o quer ajudar então deve estar tudo bem. Já António Costa, ele que é um homem de consensos, talvez devesse ouvir o antigo colega de partido e de governo, porque claramente corre o risco de se tornar "o verdadeiro soberano".

Recorde-se que, na quarta-feira, a Polícia Judiciária mobilizou cerca de 100 inspetores e peritos informáticos e financeiros para um conjunto de 20 buscas, incluindo na casa do ex-presidente do PSD Rui Rio e na sede nacional deste partido.

Segundo a CNN, que noticiou as buscas em primeira mão com equipas em direto, em causa está a utilização, considerada indevida, de verbas para os gabinetes dos grupos parlamentares com pessoal em funções para o partido fora do parlamento.

*com Lusa