“Ele não provocou guerras no mundo porque começou uma aqui nos Estados Unidos e que é muito mais efetiva. Este país está um caos. Estamos à beira de um precipício”, disse à Lusa Mary L. Trump.

A filha do irmão mais velho do Presidente dos Estados Unidos considera que o “caos” foi gerado pelo extremar de posições, por políticas “desumanas” em relação à emigração, pela falta de medidas face à pandemia de SARS CoV 2 que já provocou mais de 210 mil mortos no país e pelos apelos “extremistas” que o chefe de Estado tem dirigido aos apoiantes mais radicais durante a campanha eleitoral, nas últimas semanas.

“Entre eles estão os ‘Proud Boys’, supremacistas brancos com muitas armas. Ele está a incentivar os apoiantes a cometerem atos de intimidação – o que é um crime – para que os democratas e os negros não votem, isto é muito preocupante”, afirma Mary L. Trump.

Para a sobrinha de Trump, as “divisões extremistas” promovidas pela Casa Branca enquadram-se “numa estratégia” que vem sendo implementada nos últimos anos para as pessoas tenham menos acesso à educação para não se envolverem em política, nos assuntos sobre direitos das mulheres, nos perigos sobre a posse de armas de fogo no quadro de técnicas de “manipulação” da informação e que fazem, diz, com que os norte-americanos votem contra os seus próprios interesses.

“Ele (Donald Trump) não tem ideologia nenhuma, ele só se interessa com o que é bom para ele ou com aquilo com que pode lucrar. Não acredito que seja por acaso que esta falta de ideologia – que por exemplo, ataca os meios de comunicação social – esteja na Sala Oval nesta altura” afirma Mary L. Trump sublinhando que o tio não defende a democracia.

“Ele promove a divisão e o caos assim como também é um supremacista branco racista”, acusa.

No livro “Demasiado Tarde e Nunca Suficiente – Como a minha família criou o homem mais perigoso do mundo”, recentemente publicado em Portugal, a filha do irmão mais velho do presidente dos Estados Unidos relata a história dos Trump que – apesar do império imobiliário em Nova Iorque – é marcada por uma “total” falta de sensibilidade e empatia.

Mary L. Trump, 55 anos, psicóloga doutorada pelo Derner Institute relata a história do pai, Freddy Trump, criado para ser o herdeiro do avô, Fred Trump, mas que acabou deserdado por demonstrar interesses que não agradavam ao fundador da empresa Trump Managements.

“O meu pai era diferente e o meu avô não percebeu os interesses que ele tinha: como pertencer à National Guard, onde era oficial, ou pilotar aviões comerciais. Tinha sensibilidade e sentido de humor. O meu avô não percebia o meu pai e Donald (Trump) tirou partido disso aproveitando-se da situação para subir”, refere a filha de Freddy Trump que morreu em 1981 após sérios problemas de alcoolismo, aos 43 anos.

Para a sobrinha de Donald Trump, o tio, atual chefe de Estado, sempre apresentou “comportamentos disfuncionais” em virtude de uma educação austera imposta pelo patriarca da família.

“Ele está sempre a passar a mensagem de que é um homem duro. Ninguém lhe faz mal mas, mesmo assim, ele está sempre a ameaçar que manda ‘alguém’ contra aqueles de quem não gosta”, critica Mary L. Trump em plena campanha presidencial em que o candidato do Partido Republicano tem “outra vez” possibilidades de ganhar.

“Em 2016, quando ele foi nomeado pelo Partido Republicano fiquei preocupada, não com a hipótese de ele ganhar, mas porque tinha pelo menos 1% de chance de conseguir a vitória. Agora, em 2020, ele tem mais ou menos 43% de apoio. Não é suficiente mau? Agora até sabemos muito mais e até já vimos a destruição e a crueldade que esta Administração pratica diariamente e 43% das pessoas do meu país quer mais disto? O que precisam que aconteça mais? Se gostam da crueldade dele muito bem, é o problema deles, mas Donald (Trump) continua a ser muito incompetente e continua a destruir o nosso país. Tudo isto é horrível”, lamenta a sobrinha do Presidente.

O livro “Demasiado e Nunca Suficiente” (Porto Editora, 237 páginas) de Mary L. Trump que a família do Presidente dos Estados Unidos chegou a tentar impedir de ser publicado foi lançado no final do mês passado em Portugal.