O crescimento forte dos ecologistas dá a cor verde, que todos reconhecemos de esperança, como mudança mais estimulante nestas eleições europeias. A realidade de alterações climáticas e perda de biodiversidade, explicada pela maior parte dos sábios do planeta impôs-se aos artifícios das campanhas dos partidos tradicionais. Os Verdes são o segundo partido mais votado na Alemanha (à frente do histórico SPD) e o terceiro em França (diante dos partidos tradicionais ao centro).

O nacional populismo, visto como direita extrema, cresce em todo o continente, fica com muitos deputados (tinha 155, fica com 171 entre 751 – serão menos com o Brexit) como “cavalo de Tróia” no Parlamento Europeu, mas sem chegar aos 25% ou percentagem maior que algumas sondagens previam. A Liga de Salvini triunfa em Itália com 34% (o Partido Democrático, de centro-esquerda, surpreende ao chegar aos 25% e o Cinco Estrelas abre crise ao cair para 18%), Orbàn arrasa na Hungria (56%), Farage impõe-se no Reino Unido, Le Pen ganha em França – mas com um resultado inferior ao que tinha conseguido na anterior eleição europeia, há cinco anos: agora, com menos um ponto percentual e menos um deputado. A grande alteração em França é o colapso dos partidos tradicionais, tanto o socialista como o republicano. A clivagem política deixou de ser entre RPR e PS, passou a ser entre o centro de Macron e a direita de Le Pen.

Na Polónia, o conjunto de partidos pró-europeus (Coligação Europeia, 38,4%, 21 deputados e Partido Primavera, 6,7%, três deputados) está ombro a ombro com o nacionalcatolicismo do PiS de Kaczynski (43,1%, 24 deputados).

Ninguém duvida que a direita ultranacionalista (de Salvini, de Le Pen, de Orbàn e outras) vai levantar muito a voz no Parlamento Europeu. Mas há maioria absoluta dos partidos pró-europeus, com uma novidade: vai ser necessária maior negociação política.

Conservadores e Socialistas deixam de ter, em conjunto, a maioria absoluta que até aqui sempre tiveram. Passam a precisar de pelo menos uma das duas forças que crescem no campo pró-europeu: os Liberais e os Verdes.

Os Liberais têm argumentos fortes para essa negociação e é cenário possível que a dinamarquesa Margrethe Verstager, a comissária da Concorrência, muito popular na Europa pelo modo como desafiou a Apple, a Google e outros gigantes tecnológicos, por posição dominante no mercado, venha a ser trunfo para a sucessão de Juncker como presidente da Comissão Europeia.

Outra novidade provável nessa negociação é a exigência de que passe a haver paridade de género no colégio de comissários. Talvez se abra assim uma porta para ser uma mulher a representante de Portugal na Comissão – poderia ser Maria Manuel Leitão Marques?

As negociações entre as quatro famílias políticas que passam a ser dominantes na Europa (PPE, Socialistas, Liberais e, provavelmente, Verdes) vão ser muito intensas e começam já nesta segunda-feira. Se a escolha da presidência da Comissão vai ser muito renhida, a da presidência do Conselho e a de quem fica a liderar a política externa não o será menos. Uma outra negociação principal: quem vai suceder a Mario Draghi, que termina o mandato no BCE em outubro? Este italiano Draghi é a personagem que nos últimos seis anos mais fôlego deu ao Euro, portanto à Europa. Faz falta gente como ele.

Estas eleições mostram que há fantasmas a pairar sobre a Europa. Para os afastar é preciso que os políticos tenham visão que entusiasme as mulheres e os homens da Europa. Nesta votação, o principal não era a escolha entre esquerda ou direita, era optar por Europa, com todos os seus defeitos e omissões, ou virar para o nacionalismo, com os fantasmas que lhe estão associados. Os europeus escolheram mais uma oportunidade para a Europa, sendo que o voto dos mais jovens, como ficou evidenciado na Alemanha, foi para isso decisivo.

Um dado mais: a afluência às urnas no conjunto dos 28 países rondou os 50%. É preciso tratar o que está mal entre os portugueses e que leva ao enorme desapego pelo voto [em Portugal a abstenção ficou nos 68,6%].