Os portugueses começaram hoje a votar, a uma semana das presidenciais de 24 de janeiro, através do chamado voto antecipado em mobilidade, para o qual 246.880 eleitores, um número recorde desde que esta modalidade foi introduzida, em 2019.
Lisboa é o concelho com mais inscritos, 33.364, seguido do Porto, com 13.280, e Coimbra, com 9.201, de acordo com o mapa publicado pelo Ministério da Administração Interna, em que se informa quais os locais de voto em cada um dos concelhos.
Os concelhos com menos inscritos são Porto Moniz, na Madeira, com oito inscritos, seguindo-se Nordeste, São Miguel, nos Açores, com nove, e Barrancos, distrito de Beja, com 14.
Depois da experiência de 2019, nas europeias e legislativas, o voto antecipado em mobilidade alargou-se, das capitais do distrito para as sedes dos concelhos, e o objetivo é simples: evitar grandes concentrações de pessoas devido à epidemia de covid-19 no país. Quem estiver inscrito para o voto antecipado de hoje e não o fizer, pode fazê-lo no próximo domingo.
Lisboa, Cidade Universitária
Filas que contornavam parques de estacionamento, outras que se estendiam por várias dezenas de metros. Era este o cenário, cerca das 11:00, na Cidade Universitária, em Lisboa, para os eleitores que optaram por votar antecipadamente para as presidenciais.
Apesar da extensão das filas, o tempo de espera era curto e a maioria das pessoas não ficava mais do que dez minutos à espera para votar.
Contudo, algumas pessoas mostravam-se insatisfeitas quando chegavam a uma secção de voto e, afinal, estavam no local errado.
“Tem de ler o edital”, respondiam os funcionários à porta de cada uma das faculdades encarregues de encaminhar as pessoas para a respetiva secção de voto.
Descontentes, as pessoas que se equivocavam diziam que tinham estado numa fila enorme e que agora teriam de ir para outra.
“Pensava que [vir votar antecipadamente] era mais simples para mim, afinal há aqui alguma resistência com esta fila”, disse à agência Lusa Francisco Menano, de 71 anos, que estava há “pouco mais de sete, oito minutos” na fila em direção ao edifício da Universidade de Lisboa.
Francisco acrescentou que quando chegou à Cidade Universitária ficou surpreendido com a fila “monstra” e pensou até “desistir” e voltar mais tarde. Contudo, mostrou-se contente com a “facilidade” com que a fila estava a progredir.
Luís Esperidião, de 42 anos, também decidiu votar hoje porque achou “que era importante diversificar os dias de voto, para que houvesse menos dias de concentração de pessoas”, mas “estava à espera que estivesse menos gente”, apesar de a fila estar a “andar bem”.
Por seu turno, Luís Fernandes descreveu “um bocado e confusão”, já que está “tudo misturado, uma pessoa não sabem onde é que pode pedir as informações e mete-se numa fila errada”.
Contudo, o eleitor de 33 anos acredita que, se as pessoas “se mantiverem afastadas”, não haverá problemas com a pandemia.
Ivo Pires, de 41 anos, já tinha votado antecipadamente em mobilidade nas europeias de 2019 – primeiras eleições que contemplaram esta modalidade de voto em Portugal.
Na altura, votou antes do dia do sufrágio nacional “por razões profissionais”, desta vez foi “por uma questão de organização familiar”, tendo em conta “a situação atual da pandemia”.
Contudo, outras maneiras de votar eram bem-vindas: “Vivemos numa época em que se devia facilitar muito mais o voto. Há imenso apelo ao voto, mas quem apela ao voto nada faz para facilitar o voto. Só esta modalidade de voto antecipado… Podia haver voto por correspondência, voto eletrónico”.
Esta opinião é partilhada por Luís Esperidião que disse não compreender como é que ainda “não existe o voto 'online'”, tendo em conta a pandemia.
Já Ana Ornelas, de 19 anos, disse que estava “bastante contente” por ver tantas pessoas a votar hoje.
A estudante de Direito, natural da Madeira, acrescentou que as longas filas são “sinal de que as pessoas não vão ficar em casa” e que vão exercer o direito de voto “independentemente da pandemia”.
O dia de hoje “tem tudo para correr bem” e Ana Ornelas espera que seja assim no dia também no próximo domingo, com “as mesmas medidas” de distanciamento físico e de proteção.
Diogo Melim, de 20 anos, também natural da Madeira, disse estar surpreendido por ver “muita gente”, mas defendeu que é importante votar porque está em causa o futuro do país.
Entre todas as pessoas que a Lusa entrevistou, apenas uma confessou que não trouxe a própria caneta para votar.
Sintra, Escola Secundária Santa Maria
Quem se dirigiu hoje para votar antecipadamente para as eleições presidenciais na Escola Secundária Santa Maria, no concelho de Sintra, encontrou uma fila semelhante à de outros locais do país, que serpenteava várias ruas e obrigou a uma espera de cerca de uma hora até às urnas de voto.
“Por pensar que viesse muita gente no dia 24”, Silvina Afonso, 75 anos, residente na freguesia de Algueirão Mem-Martins, veio votar mais cedo pela primeira vez, mas mostrou-se desiludida pela fila que encontrou, pelas 14:00.
“Foi mais por isso, por ter medo que no dia 24 viesse mais gente. Estava com receio, afinal de contas já estou aqui há mais de meia hora”, desabafou à Lusa a eleitora sintrense.
Maria Olávia e Carla, mãe e filha de 79 e 55 anos, vieram votar mais cedo por serem consideradas doentes de risco no contexto pandémico da covid-19, com diabetes e cancro.
“Era para evitarmos tanta gente”, confessou Carla, que levava a mãe pelo braço, com Maria Olávia a acrescentar, entre risos, “mas não resultou”, apesar de "lá dentro" ter sido rápido votar.
Na longa fila de espera até à escola secundária, onde todas as pessoas mantinham uma distância mínima de segurança e usavam máscara, havia quem usasse os telemóveis para passar o tempo, mas também quem aproveitasse para atualizar leituras, com várias pessoas de livro em riste.
À chegada ao portão, estavam afixadas as mesas de voto, divididas por concelho e posteriormente por ordem alfabética, com vários funcionários a tentar guiar cada eleitor até à sua mesa, ajudando algumas pessoas que se iam mostrando mais confusas com os caminhos a percorrer já dentro da escola.
Depois da polémica entre o candidato nacionalista apoiado pelo Chega, André Ventura, e a eurodeputada apoiada pelo Bloco de Esquerda, Marisa Matias, que levou a uma onda de solidariedade apelidada de “Vermelho em Belém”, Margarida Guerra, 25 anos, natural de Castelo Branco, decidiu votar com uma máscara e uma saia vermelhas, usadas propositadamente como manifesto “contra o fascismo”.
“Trouxe um apontamento vermelho porque sou contra o fascismo assumidamente e achei que fazia sentido”, declarou a jovem.
Na impossibilidade de poder votar no próximo domingo, dia 24, por estar a trabalhar, Marcelo Lopes foi mais um eleitor que, apesar do tempo de espera e da fila, disse à Lusa que não quis deixar de exercer o seu “direito” e “dever” de votar.
Segundo o ‘site’ da Câmara Municipal de Sintra, cerca de 5.300 eleitores inscreveram-se para votar antecipadamente para as eleições presidenciais, sendo que desses “1.261 são eleitores de outros concelhos e 4.072 são eleitores recenseados no concelho de Sintra”.
A Escola Secundária Santa Maria, na Portela de Sintra, foi escolhida “por reunir as melhores condições para as operações eleitorais, nomeadamente nas acessibilidades e estacionamento”, justificou a autarquia.
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