“Fiquei naturalmente satisfeita por ter tido unanimidade de todos os partidos a confirmar que acreditavam que eu teria condições para exercer o lugar, mas vamos aguardar a legitimação efetiva”, disse a ainda vice-governadora do Banco de Portugal aos jornalistas, à margem da cerimónia de atribuição do prémio Jacques Delors, em Lisboa.

A comissária indigitada por Portugal lembrou que há ainda que esperar pelas audições que estão a decorrer com os outros candidatos e aguardar pela votação no plenário, prevista para dia 23.

“As minhas ambições são contribuir, na medida do que me for possível, para restabelecer uma relação de confiança dos cidadãos em relação ao projeto europeu, que reconheço, foi muito beliscada nos últimos tempos”, afirmou Elisa Ferreira.

Questionada sobre se conseguirá ser imparcial relativamente a Portugal, Elisa Ferreira defendeu que “um comissário europeu não é um ministro de um país” e que a imparcialidade “faz parte das competências e limites” do exercício do cargo.

“Nós temos de ser muito exigentes com o modo como aplicamos os nossos dinheiros. O dinheiro que nós estamos a aplicar é o dinheiro que resulta dos impostos dos cidadãos europeus e, portanto, temos de ser extraordinariamente criteriosos e perceber que há uma responsabilidade coletiva no modo como gerimos os projetos”, acrescentou.

Sobre a proposta do executivo comunitário para o próximo quadro financeiro plurianual, que contempla cortes de 10% para a política de coesão, Elisa Ferreira reafirmou tratar-se de “uma boa base de trabalho”, sublinhando que caberá ao Parlamento e aos Estados-membros “acertarem os valores finais”.

Elisa Ferreira obteve na quinta-feira parecer favorável para assumir em 01 de novembro a pasta da coesão e reformas no novo executivo comunitário liderado por Ursula von der Leyen.

A comissária indigitada por Portugal foi aprovada “tecnicamente” por unanimidade por todos os grupos da comissão parlamentar de Desenvolvimento Regional, uma vez que a coordenadora do Identidade e Democracia (extrema-direita), Francesca Donato, que se manifestou contra a aprovação da portuguesa, saiu da sala antes da votação.

No seguimento da audição de três horas realizada na noite de quarta-feira, e que terminou com aplausos dos eurodeputados, houve uma reunião do presidente da comissão de Desenvolvimento Regional, Younous Omarjee, e dos sete coordenadores dos grupos políticos nesta comissão parlamentar para avaliar o desempenho de Elisa Ferreira.

A comissão parlamentar, que teceu “elogios rasgados” à comissária indigitada por Portugal, considerou que a política portuense, de 63 anos, possui as competências necessárias para integrar o colégio de comissários e para desempenhar as funções específicas que lhe foram confiadas.

Este parecer, que incluirá ainda o parecer das comissões associadas, as de Orçamentos e de Assuntos Económicos e Monetários, só será tornado público no final de todas as audições aos comissários indigitados, em 17 de outubro, aquando da Conferência de Presidentes do Parlamento Europeu.

A Elisa Ferreira resta agora esperar pelo final das audições, que decorrem até 08 de outubro, e pelo voto do Parlamento Europeu ao colégio de comissários no seu todo, agendado para 23 de outubro, devendo entrar em funções a 01 de novembro, com a restante "Comissão Von der Leyen", que sucede ao executivo comunitário de Jean-Claude Juncker.

Caso o Parlamento Europeu aprove o colégio de comissários, a política portuense tornar-se-á a primeira mulher portuguesa a integrar o executivo comunitário desde a adesão de Portugal à comunidade europeia (1986), sucedendo a Carlos Moedas, que foi comissário indicado pelo anterior governo PSD/CDS-PP, que teve a seu cargo a pasta da Investigação, Ciência e Inovação e foi nomeado em novembro de 2014.

Elisa Ferreira, 63 anos, foi ministra dos governos chefiados por António Guterres, primeiro do Ambiente, entre 1995 e 1999, e depois do Planeamento, entre 1999 e 2002, foi eurodeputada entre 2004 e 2016, tendo ocupado desde setembro de 2017 o cargo de vice-governadora do Banco de Portugal.