Elizabeth Holmes, que fundou a empresa de biotecnologia "Theranos" em 2003, aos 19 anos, enfrenta nove acusações de fraude eletrónica e duas acusações de conspiração para cometer fraude eletrónica. Se for condenada, pode ter uma pena de até 20 anos de prisão.

Além da empreendedora, agora com 37 anos, o chefe operacional da Theranos, Ramesh "Sunny" Balwani, que foi seu companheiro por algum tempo, também é acusado de conspirar para enganar investidores e clientes da empresa.

De acordo com a BBC, os advogados de defesa alegam que Ramesh Balwani, de 56 anos, abusou sexual e psicologicamente de Holmes, prejudicando o seu discernimento e saúde mental.

Com a "Theranos", Holmes prometeu resultados mais rápidos e baratos do que os dos laboratórios tradicionais — e com a utilização de apenas algumas gotas de sangue.

Figuras de renome — como o ex-secretário de Estado Henry Kissinger e o ex-secretário de Defesa dos EUA James Mattis e o magnata dos media Rupert Murdoch  — compraram a promessa, investindo no que parecia ser uma aposta segura.

Holmes foi considerada uma visionária e até mesmo comparada ao fundador da Apple, Steve Jobs. É fácil perceber porquê: em 2014, a "Theranos" estava avaliada em 9 mil milhões de dólares.

Mas depois de alguns anos e avultados investimentos, a promessa esvaiu-se e as máquinas milagrosas não funcionaram. A história é relatada no documentário The Inventor: Out For Blood in Silicon Valley — disponível na HBO Portugal — do oscarizado Alex Gibney.

De acordo com a acusação, Holmes estava ciente e mentiu aos investidores, médicos e pacientes para continuar a arrecadar dinheiro. Contudo, ainda não é claro o motivo pelo qual a empreendedora terá apostado tanto na tecnologia, sabendo que não funcionava, uma vez que desde 2014, segundo a Forbes, era a milionária mais jovem sem nunca ter herdado uma fortuna.

"Em termos da quantia de dinheiro que o governo afirma ter perdido, este caso não é a maior fraude no setor de saúde do ano passado. Mas quando se trata de atenção dos media é certamente um dos maiores casos da década", disse Jason Mehta, advogado especializado em fraude sanitária.

Além de Kissinger e Mattis, que integraram o conselho da "Theranos", espera-se que os pacientes que foram diagnosticados erradamente com HIV ou cancro devido a testes defeituosos testemunhem perante o júri. "É o que torna este caso real. É o que torna o argumento do governo não apenas sobre dinheiro, mas sobre danos reais aos pacientes", disse Mehta.

Se Holmes decidir falar, esse será o depoimento mais esperado do processo. O julgamento foi adiado várias vezes devido ao nascimento do seu filho em julho, o que provavelmente também será considerado se esta for declarada culpada.