Nas últimas 24 horas, Portugal registou 181 novos casos de infeção por coronavírus, um crescimento de apenas um por cento que surpreendeu face às várias centenas de novos casos que se registavam de dia para dia nas últimas semanas. Para que não houvesse aso a confusões, Graça Freitas garantiu que o valor foi confirmado, sublinhando que foi questionado "quase todo o país", salientando, no entanto, que ainda assim é um número que tem de ser "olhado com cuidado".

Por estes dias as boas notícias vêm sempre envolvidas numa travessa de avisos de precaução, afinal de contas, como afirmou o secretário geral da Saúde na habitual conferência diária da Direção-Geral da Saúde, é importante que "não se deite a perder os resultados do enorme sacrifício das últimas semanas".

“Estamos a começar a terceira quinzena de estado de emergência e precisamos de renovar também a confiança de que este é o caminho que todos temos de continuar a percorrer e de que infelizmente não há atalhos”, referiu o governante.

No entanto, os valores da famosa curva começam a delinear um caminho de abertura a uma normalidade, a "normalidade possível", diz a diretora geral, com "muitas alterações àquilo que era a nossa rotina antes do aparecimento do novo vírus e da doença que originou. Vamos ter que balançar, voltar à normalidade possível, mas terá que ser executada com outro tipo de rotinas, outras práticas que são medidas de prevenção do contágio".

Graça Freitas sublinhou que "temos de tentar voltar à nossa atividade social e económica, mas de forma equilibrada", mencionado que as medidas de contenção cumpriram a sua função.

"Vamos levantar as medidas e, ao mesmo tempo, temos de contrariar a atividade do vírus”, disse, referindo a importância de continuar a manter o isolamento e distanciamento social, assim como continuar a cumprir as medidas de higiene das mãos, o uso de proteções de barreira e da etiqueta respiratória. "Vamos ter de incorporar isso nas nossas vidas", sublinhando que "temos de ser muito disciplinados, muito coesos, muito bem organizados". "Fazermos todos parte da solução porque o vírus tem a sua dinâmica e se não a contrariarmos ele vai propagar-se", assinalou Graça Freitas.

A diretora geral sublinhou que o regresso à atividade normal será feito “de forma equilibrada”, apontando que a população portuguesa “vai ter de aprender a viver com três dinâmicas diferentes: as dos serviços de saúde, a da sociedade e a do próprio vírus”.

“Se conseguirmos fazer isto não abolimos os efeitos negativos da pandemia, mas pelo menos mitigamos e reduzimos, conciliando com o que desejamos que é voltar a ter uma atividade social e económica como tínhamos antes da era Covid”, referiu.

Graça Freitas descreveu que “as medidas de contenção permitiram achatar a curva” portuguesa, frisando que “cumpriram a sua função”, ou seja, o achatamento da curva para permitir que o sistema de saúde “gerisse a resposta”.

Questionada sobre o ritmo de abertura de serviços em outros países, bem como com as medidas implementadas fora de Portugal, nomeadamente no que se refere à obrigatoriedade de uso de máscaras em alguns territórios, Graça Freitas afirmou que “cada país adapta as medidas à sua realidade”.

“Obviamente temos uma serie de pessoas da academia e da DGS a analisar os dados e os dados comparativos com vários países e comparamos não só a data de início das epidemias – nem todos os países iniciaram da mesma forma – e como é que tem sido essa evolução. Há países com curvas completamente diferentes”, introduziu.

Sobre o uso de máscaras, a diretora-geral da Saúde apontou que essa é “mais uma medida barreira”, mas sem especificar se o uso poderá ou não vir a ser obrigatório em Portugal e recordando outras medidas de prevenção como a higiene das mãos, o distanciamento social, a etiqueta respiratória e a limpeza das superfícies porque, acrescentou, “o vírus permanece durante horas ou dias”.

“Isto é para nos permitir retomar a atividade, mas ainda com muitos cuidados e muitas alterações à nossa rotina antes deste novo vírus e da doença”, reafirmou Graça Freitas.

Testar, testar, testar (agora cada vez mais depressa)

O secretário de Estado da Saúde aproveitou para anunciar que Portugal vai ter cinco mil testes rápidos, de biologia molecular, que permitirão obter um resultado em cerca de uma hora. No entanto, o uso dos mesmos terá indicações específicas com António Sales a sublinhar que estes devem ser utilizados "preferencialmente em ambiente hospitalar", em serviços de "urgência, pré-cirurgia ou tratamentos no âmbito da oncologia".

“Mais de 64% destas amostras foram processadas já estes mês”, acrescentou o governante durante a conferência de imprensa diária das autoridades de saúde para atualizar a informação sobre a pandemia.

De acordo com o secretário de Estado, 15 de abril foi o dia com mais testes processados: mais de 12.600, das quais apenas 7,2% deram resultado positivo.

“Ultrapassámos a nossa capacidade instalada de 11.000 testes por dia e o aumento do número de testes não se reflete num aumento proporcional de amostras positivas”, afirmou.

Esta semana foram distribuídos mais 272.000 testes pelas administrações regionais de saúde e pelas duas regiões autónomas, “mais 8.000 do que inicialmente previsto”, referiu Lacerda Sales.

Desde o início da pandemia, SNS foi reforçado com 426 ventiladores

Relativamente aos ventiladores, António Lacerda Sales disse que, à data de hoje, foi reforçada a capacidade em mais 426 aparelhos, resultantes de encomendas, de doações e empréstimos.

“Desde o início da pandemia foram recuperados 87 ventiladores (já existentes) do Serviço Nacional de Saúde”, revelou.

O secretário de Estado afiançou também que o Governo está “a fazer todas as diligências necessárias” para reduzir os atrasos na entrega de ventiladores provenientes do mercado chinês, que se encontra “sob grande pressão”.

Neste momento, 65 ventiladores da encomenda de 500 encontram-se na Embaixada de Portugal em Pequim, a aguardar o novo voo da TAP.

“Está prevista a chegada a Portugal no início da próxima semana”, estimou.

Sobre a disponibilidade de camas em cuidados intensivos, o secretário de Estado afirmou que há situações muito distintas ao longo do país, existindo cerca de 350 camas de nível 3 de medicina intensiva disponíveis no momento.

Portugal tem 250 intensivistas e outros profissionais aptos a manusear ventiladores

“[O número de intensivistas] em Portugal andará na ordem dos 250 intensivistas, mas há um conjunto de profissionais aptos para usar os ventiladores e a trabalhar nas unidades de cuidados intensivos em conjunto e de forma interdisciplinar”, referiu António Lacerda Sales na fase de resposta a perguntas dos jornalistas na conferência de imprensa diária de atualização sobre a pandemia da covid-19 em Portugal.

O governante enumerou os anestesiologistas, pneumologistas e internistas como especialidades aptas para o manuseamento de ventiladores e, quanto ao material disponível para testes, admitiu dificuldades com o material para as zaragatoas.

“Tem sido extraordinariamente bom olhar para essa reconversão da indústria portuguesa, para a disponibilidade dos empresários portugueses, mostra empreendedorismo, mas ao nível das zaragatoas há sempre alguma dificuldade com o tipo de material. O tipo de material que é utilizado tem de ser previamente avaliado e previamente validado”, disse o secretário de Estado da Saúde.

António Lacerda Sales revelou também que no domingo chegaram 900.000 testes a Portugal e que na quarta-feira chegaram 10.000 ‘kits’ de extração manual.

“Isto dá-nos um grande reforço, em conjunto com as zaragatoas, e uma boa capacidade de testagem”, concluiu.

Portugal regista 657 mortos associados à covid-19, em 19.022 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.

Relativamente ao dia anterior, há mais 28 mortos e mais 181 casos de infeção.

Das pessoas infetadas, 1.284 estão hospitalizadas, das quais 222 em unidades de cuidados intensivos, e 519 foram dadas como curadas.

O decreto presidencial que prolonga até 02 de maio o estado de emergência iniciado em 19 de março prevê a possibilidade de uma "abertura gradual, faseada ou alternada de serviços, empresas ou estabelecimentos comerciais".

*Artigo atualizado às 15h30