“Esta ajuda veio do céu”, afirmou Esmeralda Braga, de 61 anos e cuidadora há nove anos do marido Abílio Braga, de 81 anos, que está acamado.
O casal vive na Cumieira, no concelho de Santa Marta de Penaguião, e foi dos primeiros a receber a visita da equipa comunitária em cuidados paliativos do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Marão e Douro Norte.
“O maior desespero é a gente não saber o que há de fazer. A minha dúvida é saber se realmente estou a fazer bem”, acrescentou Esmeralda Braga, que salientou que os elementos da equipa ajudam, aconselham o que fazer e veem diretamente como está o marido doente.
Desta forma, apontou, fica “muito mais descansada”.
No entanto, a ajuda não é só para o doente, é também dirigida ao cuidador. Durante a visita domiciliária a psicóloga conversou com os dois.
“Às vezes sinto-me sozinha, tenho-me sentido até abandonada. É muito complicado, as doenças são muito tristes. Eu em mim já nem penso, penso é em fazer o que é preciso, é de dia, é de noite”, referiu Esmeralda.
Os cuidados paliativos domiciliários eram uma resposta inexistente no distrito de Vila Real e, segundo a médica Bela Alice Costa, os doentes acabavam por ter de recorrer aos cuidados hospitalares.
“A maior parte destes doentes, ao longo do seu percurso, aumenta a sua dependência e têm grande dificuldade em deslocação. São muitas vezes locais em que o transporte e a acessibilidade também não são muito bons e, depois, com todas as comorbilidades que têm, a dor, a patologia associada, é para eles muito difícil sair de casa”, salientou a clínica.
No terreno, o trabalho arrancou na quinta-feira, mas o projeto estava a ser preparado há cerca de três anos. Os elementos fizeram formação e um apoio financeiro da Fundação “La Caixa” ajudou a operacionalizar a equipa.
São três médicos, duas enfermeiras, uma psicóloga, uma assistente social e uma nutricionista que se irão descolar aos sete municípios da área do ACES Douro Norte – Alijó, Mesão Frio, Murça, Peso da Régua, Sabrosa Santa Marta de Penaguião e Vila Real. A equipa será reforçada, inclusive, com um terapeuta espiritual.
Os primeiros tês doentes foram referenciados pelo Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD).
“Este senhor tem uma neoplasia da bexiga, está totalmente acamado e fruto da pandemia e da sua dependência já não era visto presencialmente no hospital há vários meses. Ou seja, todas as consultas que são feitas são consultas à distância por telefone com a esposa”, referiu Bela Alice Costa.
A partir de agora Abílio Braga passa a ter um apoio multidisciplinar em casa, o local onde, segundo a médica, “faz todo o sentido, por comodidade e por segurança nesta fase da pandemia, que sejam prestados os cuidados a estes doentes”.
“O objetivo é termos um contínuo de cuidados, para que os cuidados sejam prestados ao longo do tempo, da progressão da doença, e nas diversas dimensões, não nos focarmos só no sintoma da doença, ou na dor”, salientou a clínica.
Marisa Borges, psicóloga clínica, referiu que as “pessoas com doença em fim de vida têm necessidades muito específicas”, explicando que o seu papel é ir ao encontro das necessidades do doente, da família e também da equipa.
“A comunicação entre todos é sempre o papel mais essencial, o psicólogo trabalha com a palavra, permitindo com que a família, o doente e também a fase do luto possa ser acompanhada de uma forma digna”, referiu.
A psicóloga disse ainda que após as primeiras visitas é elaborado um plano individual de cuidados, onde ficam definidas as necessidades e a forma de intervenção,
O diretor executivo do ACES Douro Norte, Gabriel Martins, destacou a articulação com o CHTMAD, a qual permite uma “referenciação mútua de utentes”.
“Era uma resposta domiciliária que não existia até agora e desta foram o que nós queremos é que os doentes possam permanecer no seu domicílio e possam receber estes cuidados em casa, com a mesma qualidade e a mesma eficácia”, salientou.
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