“Viajar com o Presidente Marcelo é como estar na 'tournée' do Mick Jagger”, com “grandes multidões que querem encontrar-se com ele e apenas estar com ele”, recordou George Glass, em entrevista à Lusa.

Glass esteve por duas ocasiões em junho nos EUA com Marcelo Rebelo de Sousa, nas comemorações do 10 de Junho e numa visita à Casa Branca, e faz um balanço muito positivo das visitas.

O “Presidente Marcelo representa Portugal para o resto do mundo e ele foi muito envolvente. Foi muito divertido”, disse o embaixador, colocado em Lisboa há dez meses.

Depois de ter acompanhado visitas de Marcelo e do primeiro-ministro português, António Costa, George Glass considera que Portugal tem uma “oportunidade tremenda” para afirmar a sua marca nos EUA.

“Estamos num momento histórico alto das relações entre os dois países”, afirmou, dando como exemplo a procura de turistas norte-americanos.

“As estatísticas apontam para que tenha triplicado o número de turistas norte-americanos em Portugal nos últimos três anos”, um processo de reciprocidade que passa também pela afirmação da herança portuguesa nos EUA.

E George Glass citou mesmo o chefe de Estado norte-americano, Donald Trump, na recente reunião que teve com o Presidente português: “A nossa relação vai além da economia ou defesa, está no nosso sangue. Temos mais de um milhão de cidadãos com ascendência portuguesa no nosso país”.

Estados Unidos satisfeitos com o compromisso de Portugal na área da Defesa

O embaixador norte-americano em Lisboa afirmou hoje que a administração Trump está satisfeita com o empenho de Portugal em elevar os gastos no setor da Defesa, em linha com a proposta da NATO.

Comentando a existência de missivas enviadas pelos EUA a vários parceiros da NATO a reclamar o aumento das despesas militares, George Glass disse que “Portugal não estava na lista e não recebeu essa carta”.

Em causa está a proposta da NATO, pressionada pelos EUA, que exige aos parceiros que gastem um mínimo de 2% do Produto Interno Bruto na defesa comum.

Ora, segundo o embaixador norte-americano em Lisboa, “Portugal assegurou um compromisso de 2%” e, neste momento, “é isso que os EUA querem: o compromisso”.

Agora, essa promessa terá de ser executada no âmbito da lei portuguesa de programação militar, explicou o diplomata, que elogiou a parceria com Portugal na área da Defesa, dando o exemplo da Base das Lajes, nos Açores.

“Lajes é uma história de sucesso”, estão a decorrer trabalhos de regularização dos problemas ambientais e agora o objetivo é aumentar o tipo de presença dos militares norte-americanos, com colocações de dois anos, que lhes permita levar as famílias e ajudar a economia local.

Trata-se de uma “base estratégica operacional, com um novo centro militar”, afirmou Glass, salientando que o processo de redução do efetivo “está concluído”.

Sines pode ser a porta de entrada do gás natural na Europa

O embaixador dos EUA em Lisboa considera que o porto de Sines pode transformar Portugal na “Singapura da Europa Ocidental”, ao receber o Gás Natural Liquefeito (LNG, na sigla em inglês) norte-americano, assegurando a independência energética do continente face à Rússia.

Em entrevista à Lusa, George Glass afirmou que “Portugal tem a oportunidade de ser a Singapura da Europa Ocidental, ser o ponto de entrada para esse produto”, LNG, nas redes europeias de gás que estão a ser negociadas nos próximos meses.

No final do mês, realiza-se em Lisboa “uma cimeira de gás entre Portugal, Espanha e França” que terá como objetivo a criação do mercado europeu de gás natural, com a ligação das redes ibéricas ao resto da Europa.

Esta solução, com ligação pelos Pirenéus permite abastecer a Europa via Sines (EUA) e via Argélia, criando uma opção ao gás natural russo, a único sistema de abastecimento que serve o norte da Europa.

Quando as “interconexões do gás ocorrerem, o gás pode ser bombeado para qualquer ponto da Europa”, afirmou George Glass, salientando que a ligação das redes “tem tudo a ver com a segurança energética” do continente.

“Os Estados Unidos passaram de ser o maior importador para o maior exportador de gás natural” e o melhor porto para receber este produto é Sines, desde que ligado às redes europeias, explicou o embaixador.

O objetivo é, disse, “fornecer opções à Europa no que toca à independência energética em relação à Rússia, um ponto muito crítico para esta administração” de Donald Trump.

Atualmente, um terço das importações de LNG na Europa passam por Sines, mas o objetivo é privilegiar no futuro ainda mais este porto.

“As reuniões estão a correr bem”, mas é “necessário atravessar os Pirenéus”, salientou o representante dos EUA em Portugal.

“No mundo da energia as coisas movem-se muito lentamente e olhem para o quão rápido isto está a ocorrer”, acrescentou, salientando que o setor está muito “entusiasmado” com a capacidade e localização do porto de Sines.

Além do porto de Sines, a saída do Reino Unido da União Europeia (‘Brexit’) deve ser vista como outra oportunidade para Portugal ganhar mais peso internacional, salientou o diplomata.

“Os portugueses tendem a ser humildes, mas este é o tempo de deixar cair um pouco essa humildade e ser grande e ousado”, disse à Lusa George Glass, admitindo que muitas empresas norte-americanas que tinham em Londres a sua base de atuação terão de procurar outras opções porque “há uma necessidade de chegar à UE" e operar no mercado continental.

Até agora, “o Reino Unido era a forma de a América chegar à Europa”, mas com o ‘Brexit’ abre-se “uma oportunidade excelente para Portugal”. Contudo, esses investimentos não virão para o país “a não ser que (os portugueses) os agarrem”.

O embaixador salientou que o governo português está “muito focado” no esforço de captar investimento estrangeiro, mas é necessário que a sociedade civil esteja também empenhada.

No entanto, o diplomata vê sinais positivos de interesse norte-americano no país, como é o caso da área da tecnologia.

“A Google é o maior exemplo dessa aposta na tecnologia. Eles querem crescer e querem que Portugal seja o seu epicentro do crescimento na Europa”, explicou.

O embaixador também revelou que empresas norte-americanas estão a investir no Alentejo por causa da fonte de água doce que constitui a barragem do Alqueva.

A albufeira que “foi construída no Alqueva é o maior reservatório de água doce da Europa” e constitui “uma oportunidade” para as empresas agroindustriais, principalmente da Califórnia, um Estado que tem sofrido muito anos de seca, afirmou Glass.

Em Portugal, esses investidores encontram “um preço muito razoável das terras com acesso ilimitado à água”, afirmou o embaixador.

George Glass esteve com o primeiro-ministro português, António Costa, na viagem recente à Califórnia, na primeira quinzena de junho, e foi confrontado com o interesse de investidores que já “estão no terreno”.

“Vamos assistir a um imenso investimento norte-americano no Alqueva”, feito por empresas privadas ligadas ao setor agroindustrial, disse, não querendo dar mais pormenores sobre este projeto.

“A água é um bem escasso e o maior reservatório de água doce da Europa está a uma hora e meia de distância daqui”, acrescentou.

Estados Unidos “atentos” e críticos do investimento chinês em Portugal

O embaixador norte-americano em Lisboa, George Glass, disse que os EUA estão “atentos” ao investimento chinês em Portugal, criticando o modelo de empresas estatais que obedecem a ordens do poder político de Pequim.

Confrontado pela Lusa se os EUA estão preocupados com o investimento chinês em Portugal, um dos pontos de acesso à Europa da denominada “Uma faixa, uma rota” (um projeto de infraestruturas chinesas por todo o mundo, com um investimento de cerca de um bilião de dólares), George Glass respondeu: “Não usaria a palavra preocupado, usaria a palavra atento”.

Em causa está o tipo de investimento chinês que “é muito diferente” do resto dos países, já que são “empresas estatais”, com ligação direta ao poder político de Pequim, afirmou Glass, salientando que esse modelo subordina os interesses económicos aos interesses do Estado.

“Isto não é parceria comercial, mas uma parceria política”, porque “não são empresas ou entidades privadas a fazerem transações, isto são empresas estatais”, explicou.

Por isso, “estamos atentos”, disse, dando como exemplo o caso da EDP, em que a chinesa China Three Gorges (CTG) quer comprar a maioria do capital, através de uma Oferta Pública de Aquisição da empresa.

A CTG e a empresa chinesa CNIC Corporation controlam quase 30% do capital da EDP, mas o embaixador diz que as autoridades norte-americanas ficarão atentas, caso a maioria do capital passe para mãos chinesas.

A “EDP tem dez mil milhões de dólares investidos nos EUA” no setor das energias renováveis e, por isso, “estamos a olhar, estamos atentos”.

“Uma entidade estatal comprar uma parte de uma empresa é uma coisa, é um investimento”. Agora, a “compra de uma empresa toda e com importância crítica nas infraestruturas” de um país “é diferente: é política”, salientou George Glass.

Em entrevista à Lusa, o embaixador deu também razão às queixas de Donald Trump em relação à denominada guerra comercial com a União Europeia, contestando a discrepância das taxas alfandegárias.

“Estas são grandes discussões que têm de ocorrer e temos de voltar aos acordos comerciais com a União Europeia (UE)”, disse o embaixador, reafirmando o empenho dos EUA “no comércio livre, justo e recíproco”.

No entanto, se não há o mesmo tratamento dos produtos então esse comércio “não é recíproco e não é justo”, disse, dando o exemplo da Alemanha.

“Pagamos mais impostos para enviar carros para a Alemanha do que por importar. Não estou a dizer que vamos vender mais carros na Alemanha, mas isto não é comércio livre e justo”, exemplificou.

Donald Trump “é um empresário e vai olhar para isto sobre como funcionam as empresas entre as duas entidades”, EUA e UE, explicou o diplomata, que acredita que após a renegociação dos tratados comerciais com o Canadá e México será a vez de novos acordos com a Europa.

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