“A pessoa que lidera este ataque sacrificaria o povo palestiniano e israelita pela sua sobrevivência política egoísta e é um inimigo declarado da solução de dois Estados. Toda a sua vida foi dedicada à aniquilação do povo palestiniano”, afirmou Mansour perante o Conselho de Segurança da ONU.

O embaixador sublinhou que o primeiro-ministro israelita procurou uma “oportunidade” política para “acabar com as aspirações nacionais do povo palestiniano”.

“Esta é a guerra de Netanyahu. Esta é a guerra da coligação mais extremista que permanece no poder em Israel”, advogou. “Devemos fingir que não sabemos que o objetivo é a limpeza étnica da Faixa de Gaza?”, questionou o diplomata, acrescentando que qualquer país que se opõe à destruição e à deslocação forçada da população palestiniana deve ser a favor de um cessar-fogo.

Neste sentido, apelou aos Estados-membros para que acordem e não se deixem enganar por Israel, que continua a “brincar” com os países, obrigando-os a discutir, entre outras coisas, o número de camiões com ajuda humanitária que entram em Gaza.

Contudo, apesar dos apelos, os Estados Unidos da América já sinalizaram que não pretendem apoiar um cessar-fogo em Gaza, conforme deixou claro o representante norte-americano na ONU Robert Wood.

“Não apoiamos o apelo a um cessar-fogo imediato. Isso apenas lançaria as sementes de outra guerra, porque o Hamas não quer uma paz duradoura, nem uma solução de dois Estados”, disse Wood numa reunião do Conselho de Segurança convocada precisamente na sequência de um apelo inédito de Guterres a um cessar-fogo.

Wood indicou, repetindo as teses israelitas, que “se Israel depusesse hoje as suas armas, como alguns Estados-membros pedem, o Hamas continuaria a reter os seus reféns, mulheres e crianças, velhos e jovens, muitos deles sujeitos a tratamentos desumanos e cruéis”.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas votará hoje uma resolução que exige um cessar-fogo na Faixa de Gaza depois de António Guterres, ter invocado, pela primeira vez em décadas, o artigo 99.º da Carta da organização internacional.

Tal iniciativa resultou em novas críticas do Governo de Israel, que acusou o secretário-geral de “um novo nível de baixeza moral” e avaliou o seu mandato como “um perigo para a paz mundial”.

O embaixador israelita na ONU, Gilad Erdan, voltou hoje a criticar a decisão de Guterres de invocar o artigo 99.º, criticando o facto de esta decisão nunca ter sido aplicada noutros conflitos como a Ucrânia e o Iémen.

“A guerra na Ucrânia não é uma ameaça à segurança internacional? Ou as crianças asfixiadas na Síria, ou os milhares de crianças iemenitas mortas na guerra?”, questionou o embaixador, que ao longo do seu discurso culpou o Hamas por tudo o que aconteceu desde o eclosão do conflito em 07 de outubro.

A mensagem de Erdan foi dirigida aos 15 membros do Conselho horas antes de votarem uma nova resolução, apresentada pelos Emirados Árabes Unidos, que exige um cessar-fogo incondicional, embora o embaixador francês na ONU, Nicolas de la Rivière, tenha advertido que não lhe parecia realista que esse texto pudesse ser aprovado hoje e as palavras de Wood sugerem que tal votação está fadada ao fracasso.

Os Estados Unidos têm-se mostrado críticos do seu aliado Israel pelo facto de os ataques em Gaza não terem em conta a proteção dos civis, mas sem apelarem a um cessar-fogo.