“O embargo com sanções unilaterais mais abrangentes alguma vez imposto e com maior duração (55 anos) ainda está vigente, apesar do restabelecimento das relações diplomáticas com os Estados Unidos”, recordou Johana Tablada de La Torre.
“Com bloqueio e com ocupação ilegal do território de Guantánamo, nunca haverá normalização de relações com os Estados Unidos”, vincou, acrescentando que “Cuba não tem apoio nenhum na comunidade internacional”, razão pela qual pediu à comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros de Portugal “que tome em consideração emitir um apelo de solidariedade com Cuba para pôr fim ao embargo”.
O país vai apresentar em outubro na ONU um projeto de resolução intitulado “Necessidade de Pôr Fim ao Bloqueio Económico, Comercial e Financeiro Imposto pelos Estados Unidos da América a Cuba”, indicou a diplomata.
“E é muito importante o apoio das pessoas que têm que ver com relações exteriores”, salientou.
Os deputados de todos os grupos parlamentares intervieram a seguir, frisando que Portugal sempre foi contra o embargo e que neste processo de transição se colocam muitas questões, como, por exemplo, a irreversibilidade do progresso nas relações com os Estados Unidos (caso o candidato presidencial republicano, Donald Trump, ganhe as eleições e queira reverter as medidas do atual Presidente, Barack Obama, como afirmou na segunda-feira na Florida).
A diplomata cubana respondeu com convicção que acredita que “mesmo que Trump ganhe as eleições, as relações dos Estados Unidos com Cuba não vão regredir porque já atingiram um ponto irreversível”.
Inquirida sobre os aspetos da sociedade cubana em que se registaram mais mudanças, mais abertura, e sobre que outros haverá a alterar, Johana Tablada sublinhou que mesmo depois do fim do embargo, “Cuba continuará a ser um país socialista”.
“Na área política, há todo um trabalho para fortalecer o poder local, há uma nova conceptualização do modelo cubano – e não é só económica – para uma maior descentralização e maiores competências para os municípios, e menor ingerência do poder central”, apontou.
Quanto à polémica questão dos direitos humanos no país caribenho, a embaixadora sustentou que “se comete diariamente uma grande injustiça com Cuba” nessa matéria.
“Os direitos humanos converteram-se num eixo de ataque a Cuba para justificar uma política que não tem base de sustentação: eu sou cubana, muitas pessoas que estão aqui já foram a Cuba, e em Cuba não se tortura, em Cuba não há perseguição política”, defendeu.
“Em Cuba não há muitos partidos políticos, mas um país que tenha cinco partidos não é necessariamente uma democracia”, observou, acrescentando que outros há que têm apenas dois e são considerados democráticos, e que o modelo político cubano surgiu em resposta às pretensões do “vizinho mais próximo”, os Estados Unidos, de controlar o país, como “a única forma de conservar a independência da ilha”.
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