Numa carta enviada à Folha de S.Paulo em resposta a uma reportagem publicada pelo jornal no domingo, Leo Pinheiro afirmou que estava livre quando decidiu fazer negociar uma delação premiada [acordo firmado com a justiça para confessar crimes em troca da redução da pena], e que não inventou nem mudou factos usados como prova contra Lula da Silva num dos processos investigado pela Lava Jato.

"A minha opção pela colaboração premiada deu-se em meados de 2016, quando estava em liberdade, e não preso pela operação Lava Jato. Assim, não optei pela delação por pressão das autoridades, mas sim como uma forma de passar a limpo erros que cometi ao longo da minha vida", escreveu Leo Pinheiro ao jornal brasileiro.

"Também afirmo categoricamente que nunca mudei ou criei versão e nunca fui ameaçado ou pressionado pela Polícia Federal ou Ministério Público Federal", acrescentou.

O depoimento de Pinheiro foi a principal prova de acusação no processo sobre a posse de um apartamento de luxo na cidade litorânea do Guarujá, que resultou na condenação e na prisão de Lula da Silva.

No fim de semana, a Folha publicou uma reportagem com mensagens obtidas pelo site de jornalismo de investigação The Intercept que indicariam dúvidas e a insatisfação dos procuradores da Lava Jato durante a negociação do acordo de colaboração de Leo Pinheiro.

Segundo a Folha, os procuradores desconfiaram da versão dos factos apresentada pelo ex-executivo da OAS durante quase todo o tempo em que ele se dispôs a colaborar com as investigações.

"Sobre o Lula [da Silva] eles [OAS] não queriam trazer nem o apt. [apartamento do] Guarujá. Diziam que não tinha crime", escreveu em 2016 o promotor Sérgio Bruno Cabral Fernandes, num 'chat' na aplicação Telegrama que foi divulgado na reportagem.

Esta perceção negativa da colaboração do delator só teria mudado quando Pinheiro disse que Lula da Silva era o verdadeiro proprietário do imóvel no Guarujá, num interrogatório conduzido pelo ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, em 2017.

A reportagem de domingo faz parte de uma série que começou a ser publicada pelo The Intercept Brasil com material recebido de uma fonte anónima que colocou em causa a imparcialidade dos investigadores da Lava Jato.

A assessoria de comunicação da 'task-force' que investiga o caso disse à Folha no domingo que o material apresentado pela reportagem não permitia constatar o contexto e a veracidade do conteúdo.

"A Lava Jato é sustentada com base em provas robustas e em denúncias consistentes. O trabalho da 'força-tarefa' foi analisado e validado por diferentes instâncias do Judiciário, de modo imparcial e independente", afirmou o órgão em nota enviada pela assessoria de imprensa.

"No caso de integrantes da OAS, as negociações foram conduzidas por muitos procuradores que atuavam na Procuradoria-Geral da República e na força-tarefa da Lava Jato, que sempre pautam suas ações pessoais e profissionais pela ética e pela legalidade", completou.

Leo Pinheiro teve a sua pena reduzida neste processo sobre o apartamento de luxo no Guarujá, mas está atualmente preso em Curitiba.

O acordo de delação premiada com os investigadores da Lava Jato foi fechado em 2018, mas ainda aguarda homologação final de instâncias superiores da Justiça brasileira com a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Supremo Tribunal Federal (STF).