A partir de 01 de janeiro, os municípios têm de assegurar um sistema de recolha seletiva e reciclagem/reutilização de resíduos têxteis, um cenário que, não sendo novo para uma parte deles, promete, segundo as empresas contactadas pela Lusa, exigir o aumento da capacidade de resposta.
Sediada em Gondomar, no distrito do Porto, a Wippytex está desde 2008 no mercado da reciclagem de têxteis, trabalhando atualmente com 30 autarquias, entre câmaras municipais e juntas de freguesia, de Viana do Castelo a Lisboa.
Para o efeito, a empresa coloca na rua contentores de recolha de têxteis — os denominados roupões -, seguindo-se a circularidade que determina que uma pequena parte seja para reutilização e a maior parte para reciclagem, explicou à Lusa o diretor da empresa, Luís Fernandes.
“Na parte da reciclagem fazemos a transformação em novos produtos: panos para limpeza, absorventes e novo fio”, explicou o responsável, referindo que, no caso do algodão, “após ser recolhido das t-shirts, é desfibrado e enviado para fazer fio reciclado”.
Segundo Luís Fernandes, em 2023 a Wippytex recolheu cerca de 3.000 toneladas de material, sendo certo que esses números irão crescer em 2024, impulsionados pelo maior consumo da ‘fast fashion’ (roupa de consumo rápido).
“A percentagem que vai para incineração é de cerca de 10%”, disse, alertando que o setor “está a atravessar uma crise” provocada pela “saturação do mercado”, que “já não tem espaço para reciclar”.
De acordo com o representante, “muitas associações que se movem no espaço da União Europeia dizem que há um pré-colapso neste setor”.
“E nós não sabemos se vamos conseguir reciclar toda esta quantidade de têxtil”, salientou.
Luís Fernandes recorreu aos números para clarificar os seus receios: em 2023, segundo um relatório de uma associação do setor, foram buscar à natureza 32 milhões de toneladas de algodão e só foram incorporadas 317 mil toneladas de fibras recicladas naturais de algodão.
No mercado desde 1952, a Sasia — Reciclagem de Fibras Têxteis trabalha diretamente com empresas do setor na área do pré-consumo, reciclando mensalmente cerca de 2.000 toneladas de material, revelou à Lusa o administrador Miguel Silva.
“Temos a maquinaria de última geração. Estamos relativamente preparados para aumentar a quantidade que resulte da aplicação da norma de 2025, pois vai aparecer no mercado um grande volume de material de pós-consumo, mas não será logo no início”, advertiu o responsável da empresa sediada em Ribeirão, concelho de Vila Nova de Famalicão, distrito de Braga.
A entrada dos municípios na equação, segundo Miguel Silva, num primeiro momento não implicará nada na atividade normal da empresa, pois caberá às autarquias fazer a seleção dos produtos para reciclar, pelo que a Sasia só intervirá num segundo momento, o da reciclagem.
Afirmando-se convicto de que a ‘fast fashion’ vai continuar “porque as empresas querem fabricar para elas e desde que tenham mercado não vão parar”, o administrador admite que o futuro possa passar “por fabricar materiais mais sustentáveis, amigos do ambiente, e incorporar as fibras recicladas nesses produtos, que é o que o cliente final pede e exige e que as marcas podem incorporar”.
Com o propósito de atalhar esse caminho de sustentabilidade, a empresa está envolvida em “muitos projetos da economia circular”.
“Estamos a participar em projetos internacionais para estudar novas aplicações para esses resíduos pós-consumo que vão surgir no mercado em quantidade. A fase seguinte será escalar a quantidade que vai aparecer no mercado e a sua função”, disse.
Dos projetos em desenvolvimento, revelou estarem a ser estudadas “aplicações para a construção, de isolamento para a parte acústica, e para a indústria automóvel”. Trata-se, indicou, de “duas aplicações que podem consumir grandes quantidades” de material têxtil reciclado.
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